Capítulo 16

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Eu nunca imaginei que fosse fazer uma dívida com Ward Cameron.

Uma dívida grande.

Mas quando eu fui acompanhada de seus filhos até o hospital onde minha mãe estava sendo atendida tive sérios problemas com a ficha, além de ser menor de idade não havia nenhuma chance de naquele momento poder dar dinheiro de entrada para que ela ainda pudesse ser atendida.

E foi ali por insistência de Sarah - Rafe pareceu não gostar, inclusive sugeriu que Topper poderia ajudar - mas seria uma dívida ruim para qualquer lado.

O meu pai desse voltar em dias e eu não tinha cabeça para pensar no que fazer, então aceitei a ajuda de Sarah. Ela só queria ser gentil e útil, funcionou já que seu pai veio como em um cavalo branco com a pose de um herói do oeste.

A diferença é que ele não está salvando ninguém, eu prefiro desceeve-lo então como um agiota que mais cedo ou mais tarde vai cobrar.

Não pude ver minha mãe o que me deixou ainda pior.

— é melhor ir pra casa, Sarah — Rafe disse a garota que dava socos na máquina de doce.

— que tal, não?— ela respondeu sem olhar na direção dele que desistiu se sentando ao meu lado.

— e você? — perguntou pra mim.

— não vou sair daqui — deixei claro.

— eles vão avisar se alguma coisa acontecer — tentou ser otimista — não que vá ser uma coisa necessariamente ruim, mas vão avisar sobre qualquer coisa.

— você é péssimo em dar conselhos — admito sentindo-o me abraçar de lado.

— acho que esse é o seu papel — ele sorriu enrolando uma mexa de meu cabelo escuro em seu dedo indicador.

Sarah coçou a garganta chamando a nossa atenção para ela que abria uma barrinha de chocolate concentrada.

— quer que eu ligue pra alguém?

Apenas com a pergunta da garota me lembrei de que não avisei meus amigos sobre o que aconteceu, também não teria jeito já que todos estamos sem energia.

— não sei se é possível ligar para o lado cut — eu disse e pensei por um segundo sem querer ser chata — mas se você conseguir falar com John B de algum jeito.

— eu vou — Rafe disse no mesmo momento.

— Rafe, posso falar com você?— Sarah disse praticamente arrastando o garoto de perto, eu não ouvi o que ela disse, mas ele olhou na minha direção por um único segundo antes de concordar voltando sozinho para onde estávamos enquanto a garota sumia pelo corredor.

— e então, o que ela disse?— perguntei — te convenceu muito fácil.

— nada que tenha muita importância agora — Rafe disse aparentemente entediado.

Eu só queria que me deixassem vê-la, por um segundo se quer, mesmo que medicada e sem poder me responder. É a minha mãe em uma cama de hospital, é a minha pessoa.

É a pessoa que eu deixei sozinha mesmo sabendo que não estava bem e que eu nunca vou me perdoar caso algo aconteça.

Sarah foi a pessoa que sentiu que havia algo errado no momento em que recorri a carona de seu namorado e se negou a me deixar ir para casa sozinha, o que resultou em Rafe nos acompanhando.

Foi uma das vizinhas quem me contou que mamãe passou mal no trabalho e foi levada para o hospital quando um cliente pediu ajuda.

Eu não tive muito tempo de me desesperar, chorar ou me culpar naquele momento. Eu só precisava garantir que estava tudo bem, deve ser por isso que Rafe parecia estar ficando louco enquanto dirigia ao meu lado com Sarah tentando me acalmar com palavrões e palavras bonitas.

Palavrões e palavras bonitas em uma só frase é essencial para manter a calma.

Conhecer Ward Cameron foi uma coisa esquisita, ele me pareceu tão gentil e gente boa que me parece falso.

Será que pensam isso sobre mim?

Mas por fim ele foi de grande utilidade e não pareceu ficar tão surtado em ver uma pogue com dois de seus filhos, eu esperava algo mais "surtado".

A minha dúvida agora é se Sarah vai conseguir encontrar John B, sabendo que o garoto tem estado com problemas nunca se sabe onde vai se enfiar.

Já era tarde quando vi a cabeleira loira de JJ aparecer no corredor, acompanhado dos outros 4 e eu me levantei para abraça-lo.

Abracei cada um deles que estavam ali para me dar apoio, mas foi no abraço de John B que eu desabei.

Eu não havia chorado até ali, não queria parecer fraca e precisava ser uma adulta de verdade, precisava mostrar que poderia cuidar da minha mãe.

Mas quando senti os braços do meu irmão colando os nossos corpos eu não consegui mais parar, eu chorei o suficiente para soluçar sentindo toda a minha pose ir embora.

Toda aquela Naya que ajuda as pessoas o tempo todo não estava ali e eu não sabia como agir naquela situação.

Os Cameron são ótimos, eles brigam o tempo todo e me fazem dar risada, são o tipo de companhia que eu nunca imaginei ter.

Mas eles ainda não tinham me visto chorar e eu não queria assustar ou afastar ninguém por parecer frágil.

Eu não queria parecer quebrada.

Mas John me conhece como ninguém e eu nunca conseguiria esconder dele a culpa, a dor e o mix de sentimentos que me machucam.

Opostos - Rafe CameronWhere stories live. Discover now