Capítulo Trinta

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Dois meses e meio se passou e eu não tinha mais lágrimas para chorar. Estava seca e muito machucada. As feridas causadas pela surra de Mônica já haviam praticamente sumido todas, outras haviam se tornado apenas velhas cicatrizes pequenas e nenhuma doía mais. A única dor que ainda permanecia, era a do coração. A dor da perda.

Voltei com minha rotina de sempre e estava tentando levar a vida.
Hoje vou encontrar Carla. Ela quer me ver. Eu não sei se é uma boa ideia já que ela, me lembra Mônica. Ultimamente, a minha consciência pede para que eu me afaste de tudo que pudesse lembrar dela.

É difícil, porque Carla se tornou um conforto em minha vida. Andei até tendo algumas sessões de terapia com ela. Mas, só porque ela insistiu demais. Aos poucos, eu fui me soltando. E por vezes, me ajudou bastante, ao menos, ajudou a tirar algumas ideias de fazer loucuras da minha cabeça.

Ela marcou em sua casa mesmo, eu vou porque como disse, sei que Carla é verdadeira e gosta de mim de verdade.
Cheguei para o almoço. Carla logo nos serviria. Enquanto isso, conversávamos assuntos aleatórios.

O clima era leve, e eu conseguia por vezes, esquecer alguns problemas. Carla faz mágica em minha mente.
Logo, a campainha tocou e Carla foi atender. Ela voltou acompanhada, eu tomei um choque e quis ir embora dali.

— Oi, Alice. Como você está? — Helena me pergunta.

— Bem. — Respondi ríspida, sem querer dar muita atenção. — Eu já vou, Carla. Foi muito bom vê-la, hoje.

— Fique, Alice. — Helena pede. Mas eu pego minha bolsa para sair.

— Alice... Eu te chamei aqui hoje porque Helena queria muito ver você.

— Sério isso, Carla? Até você não é mais confiável? — Eu estou tão brava quanto decepcionada.

— Alice, não é culpa de Carla. Fui eu quem pedi para que ela marcasse com você aqui. Vamos conversar, por favor?

— Não temos nada para falar Helena. Nem deveríamos nos ver mais depois do que aconte...

— Temos muito o que falar sim. — Helena me corta. — Principalmente  sobre o que aconteceu.

— Mas eu não quero! — Falo alto.

— Você está machucada, ainda sente medo porque as lembranças doem, eu sei, minha linda... — Helena se aproxima apalpando meu rosto. Seu olhar está terno. — Mas precisamos falar sobre isso. — Meus olhos já estavam prestes a se derramar em lágrimas.

— Alice, vamos almoçar. Enquanto você decide se vai ouvir Helena ou não. Acredito que estamos todas com fome e de barriguinha vazia, os ânimos tendem a excederem... — Carla me guia segurando em meus ombros, sorrindo, tentando descontrair o ambiente que emana tensão. 

— Ela vai sim. Ela sabe que temos que ter essa conversa. — diz Helena convicta. Eu não digo nada e me deixo ser levada para a cozinha onde será servido o almoço.

Comíamos em silêncio, Helena me olhava mas não dizia nada. Até Carla começar com um assunto qualquer e Helena se empolgar. Elas conversavam entre si e eu, empurrava a comida guela abaixo na tentativa de desatar o nó formado em minha garganta.

Em alguns momentos, a loira tentava me inserir na conversa, mas eu não estava afim. Ela falava sobre os cuequinhas, foi um assunto muito bom de se ouvir, até então.

Ela contou uma coisa muito engraçada e fofa, o som de sua voz e de sua risada, fizeram-me sorrir. Foi um sorriso espontâneo. Sorri achando graça nela.

Ela percebeu e sorriu disso, também. Seu olhar era de triunfo por ter conseguido arrancar uma reação positiva minha, referente a ela. Eu tomei um gole do meu suco para disfarçar a sensação boa que Helena me causou.

VANILLA O Sabor Mais Doce   (CONCUÍDO)✔Where stories live. Discover now