O inimigo do meu Inimigo - VI

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一Está falando como uma mulher branca, não é assim que as coisas funcionam aqui Elena. Se um dia minha promessa parir uma criança minha, não há discussão, assim como não houve quando eu nasci depois de Mansir. E Enepay entende isso, assim como nuvem vermelha. O hanbletcheyapil é um ritual que é conquistado atravéz da dor, uma dor que faça seu espírito se elevar de sua carne, existem muitas formas que pode ser feito, a maioria das minhas cicatrizes, são dos que eu fiz pra alcançar visões.. Enepay quer saber o que a grande mãe espera dele.

一 Ele está morrendo! Vai deixar que ele se mate?! Ele está inchando e com hálito de amônia, significa que os rins dele estão comprometidos, é questão de tempo até que parem! Deve haver algum antídoto, alguma coisa que limpe o organismo dele dessa planta.

一 Ele tem que passar por isso Elena, ele escolheu, não pode parar o ritual de alguém porquê você não acredita no poder dele.

一 Eu respeito, você sabe o quanto eu respeito suas tradições, mas ele vai morrer se algo não for feito, Tokah... Fale com o homem santo, ele deve conhecer algo pra parar isso.

一Não Elena, não farei isso. Enepay vai parar quando alcançar a visão dele e não antes disso.

一 Ah por Deus Tokalah, visão? Acha que vale a pena perder a vida por uma visão? Sabe o que são essas visões cientificamente falando?  Vocês levam seus corpos e mentes a um estado tão alto de dor e exaustão que ela cria alucinações de conforto que os tirem daquela dor horrível que estão se auto infligindo.

一 É isso que pensa? 一 ele franziu a testa com certa irritação no tom de voz.

一 É isso que eu acredito, não vou deixar Enepay morrer por uma crendice. Se não vai fazer nada, eu vou! 一 Retrucou irritada e ele finalmente descruzou as pernas e leva tou-se diante dela.

一 Eu vi a égua branca na minha visão, e foi isso que me fez não te matar aquela noite. Então essa alucinação, já salvou sua vida tenha mais respeito  一 Falou com um olhar firme e voz intimidadora fazendo Elena recuar um passo fazendo-a perceber que a assustou. O indígena balançou a cabeça soltando um suspiro profundo, nunca seria fácil, por mais que se amassem havia um mundo inteiro de diferenças que sempre os colocariam em lados opostos. 一  Desculpa por falar alto, eu entendo que está com medo, que ama Enepay, mas se falar dessa maneira lá fora dará motivos para que nunca te vejam como uma de nós. Então não interfira, é uma ordem. Witshaswakan está cuidando dele, ele é forte e você tem outras coisas a pensar, preciso que me diga como chegar a fazenda da família do Waikiki e preciso do seu cabelo falou pegando uma mexa e a cortando em seguida com uma faca. Preciso que ele entenda que somos nós, que ele precisa devolver nossa criança se quiser ver o que vai restar da gente dele viva.

一O que restar?

一 Não precisamos de todos, mas precisamos que ele entenda que não há opção. Ele teve você e seu irmão de de volta e mesmo assim, sangrou meu povo, eles também vão sangrar.

一 Estamos indo resgatar nosso filho Tokah, não nos vingar. Me prometa que não vai usar mais violência que o necessario.一 disse se aproximando dele colocando as mãos na lateral do rosto do indígena, ficando na ponta dos pés para encará-lo nos olhos. 一 Eu sei o quanto ele te machucou o quanto me machucou, mas não pode descontar sua raiva em uma família de fazendeiros, a vingança não faz parte dos dons do grande espírito, você me ensinou isso.一 falou e ele soltou um longo suspiro curvando-se para ela, encostando sua testa a dela  de forma carinhosa.

一 Não prometerei algo que eu não sei se posso cumprir, mas eu vou tentar. Por você,一 falou levando a ponta dos dedos no queixo da mulher levantando seu rosto e finalmente levando seus lábios aos dela com delicadeza.

****

O sol já se colocava quando Andrew finalmente terminou o relatório da semana, estavam sendo dias atribulados e depois da chegada dos novos prisioneiros onde um e infectado com varíola deixou  o forte  inquieto. Respirou profundamente e caminhou até a janela de onde pode observar o palanque ser montado, os homens haviam sido jugados e seriam executados, crianças seguiriam viagem com missionários até a escola indígena do condado e as mulheres reunidas a próxima caravana, dede que estivesse saudáveis.
Tomou um gole do uísque escondido em um pequeno cantil no bolso do casaco e tentou limpar a mente para seguir para a prisão do forte.

O pequeno edifício de madeira localizado nos fundos do forte, impunha paredes de madeira áspera e vigas expostas no teto. Uma única porta de madeira maciça, reforçada com ferro, levou o capitão à cela principal da prisão. Dividida em compartimentos individuais por barras de ferro verticais que se estendem do chão ao teto, cada compartimento possuía uma cama de madeira dura, coberta com catre fino e um indígena com expressões que variavam do cansaço a raiva.

Fazia tempo que não descia ali,  havia esquecido o cheiro desagradável, uma mistura de suor, sangue, fumaça de tabaco e falta de higiene.

Cheveyo acompanhou o capitão com um olhar sarcástico, desde que chegaram ouvia os cochichos dos Waikikis sobre ele, e impressinou-se ao perceber que havia estado ao lado da "famosa", esposa do capitão e filha do general que deixou a vida de dama branca para viver entre os Mandan como uma índia. Antes disso já tinha ouvido rumores sobre uma mulher branca que cavalgou com índios durante a batalha em Little Big Horn, mas de início não acreditou ser verdade. Porém agora as pecinhas pareciam se unir, queria ter tido essa informação no dia em que chegou e o capitão o humilhou com aquela demonstração de força.

一 Hey, capitão?! 一 chamou-lhe a atenção com um sorriso no canto dos lábios e foi ignorado 一 Não vai me responder seu Waikikis peludo?! Vocês nos chamam de selvagens mas quem mais se parece com animais são vocês. Com esses rostos cobertos de pelo... dentes podres e hálito de um leão da montanha. Uma vez fiz negócio com um homem branco que se orgulhava de tomar um único banho ao ano, vocês fedem como carniças no sol quente.

一 Cale a boca se não quiser ficar sem língua. 一 respondeu Andrew sem mesmo olhar para ele.

一 Conheci sua esposa, Elena. 一 falou e Andrew voltou-se imediatamente a ele. Garota bonita, teria trepado com ela se ela não fosse tão...inteligente e corajosa. Inteligência é uma coisa que eu admiro nas pessoas e  coragem é algo ainda mais raro, principalmente entre mulheres brancas, quando nos vêem elas geralmente começam a gritar ou rezar, como se alguma coisa fosse mudar  一 falou percebendo Andrew caminhar em passos firmes em direção a cela dele.

一 Está mentindo.

一 Não, se olhar nas minhas coisas que vocês tomaram vai encontrar um lencinho bordado, era dela.

一 O que fez com ela? Onde ela esta?! 一 perguntou o capitão encarando o rosto do jovem indígena entre as grades.

一 Eu, nada capitão, mas Lua Negra já deve ter feito muita coisa com ela 一 falou e no mesmo instante, Andrew enfiou o braço entre o gradeado puxando Cheveyo pelo colarinho com força contra as barras de ferro.

一 Se acha engraçado? Pois sabe o que vai ser engraçado? O seu corpo e de seus amigos ao balançando na forca ao por do sol, seu infeliz!

一 Não é a mim que você quer capitão, é Lua Negra. 一 Falou o encarando com firmeza 一 E eu posso te ajudar com isso, no fundo você sabe que nunca vai conseguir por as mãos nele, o povo dele está nessas terras a tanto tempo quanto o sol está no céu, conhecem cada maldita pedra desse lugar 一 falou e Andrew soltou a gola de sua camisa arqueando a sobrancelha curioso e Cheveyo continuou 一 Bom, eu nasci longe daqui, mas sou Crow e a terra não pariu caçador melhor que um Crow. E no mais, quero entrar pro exército como batedor é um direito de um condenado, não é mesmo?

A filha do General - EM ANDAMENTOWhere stories live. Discover now