Entre dois Mundos - II

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Apesar do dia de céu azul e temperatura amena, Andrew o sentia extremamente desagradável. Na noite anterior, havia conversado com Edgar e visto o jovem expor suas esperanças sobre os Mandan e o acordo com o governador.

Agora esperavam apenas a última cartada a chegando de Nathan Green, um mestiço da nação Cherokee formado em advocacia pela universidade de nova York. Segundo Edgar, o jovem era neto de Águía Negra, um importante e respeitado chefe Cherokee que fundou um vilarejo na Georgia e lutou pacificamente até conquistar o reconhecimento das terras de seu povo pelo governo. Águia Negra, casou-se com uma mulher branca e desta união vieram três filhos que foram criados entre as duas culturas. Apesar de Águia Negra ter sido um ferrenho defensor do paganismo Cherokee, ele acreditava na educação e cordialidade como a única forma de coexistir com os brancos. E garantir a educação a sua família e seu povo, assim como uma escola e até mesmo fundar um jornal voltado aos Cherokees, foram algumas das vitórias as quais traziam mais orgulho para a família Green.

Andrew olhou o homem que desceu do trem dos pés a cabeça, apesar de já ter conhecido índios educados, Nathan era distópico de todos os outros. Seu rosto aparentava ter 35 ou 40 anos, nunca tinha certeza da idade quando se falava de nativo americanos. A maioria tinha muito mais do que aparentava, geralmente viviam por mais tempo e eram mais saudáveis do que qualquer homem branco. Usava um terno caqui bem alinhado, gravata, sapatos de couro preto lustroso e óculos de grau. Porém, tirando as vestimentas pouco denunciava que era um mestiço e não um índio em trages civilizados. Tinha no rosto todas as feições marcantes se seu povo, longos cabelos negros presos em uma trança única atrás da cabeça, porte alto e a pele num tom acobreado, um cordão enorme sobre o peito feito de penas e contas era ostentando orgulhosamente por ele.

一 Capitão Norton, esse é o senhor Green, tive o prazer de conhecê-lo quando estive na Georgia ano passado.

一É um prazer conhecê-lo capitão, a cavalaria americana tem sido uma grande aliada contra a falta de respeito dos georgianos 一 Green estendeu a mão e Andrew se limitou a lhe dar um aceno de cabeça. Não conseguiria apertar a mão do homem que provavelmente teria de matar em dois ou três dias.

一 Bem vamos por aqui, deve estar cansado da viagem e ainda temos tantas questões a discutir. Estou muito empolgado que tenha aceitado meu convite, sei que sua presença será de grande valor 一 disse Edgar tentando não dar mais ênfase ao comportamento hostil do cunhado.

Se dirigiram a cidade que agora já não possuía mais o brilho e o entusiasmo da quermece. Tudo estava novamente calmo e corriqueiro assim como os olhares curiosos sobre o forasteiro que seguia na companhia do Capitão Norton e do filho do general em direção ao pousada.

Edgar conversou durante horas com Nathan antes dele se retirar aos seus aposentos, partiriam pela manhã e seria uma cavalgada longa até o clã de Maralah. Depois de ver o mestiço subir as escadas Edgar voltou-se a Andrew em uma mesa do canto em companhia de uma garrafa de uísque.

一 Posso saber porque está agindo tão estranho hoje? E porque foi grosseiro com o senhor Green, tem ideia da importância deste homem? Ele tem tanto prestígio quanto Cavalo louco e Touro sentado entre os indígenas, mas sem o uso da violência. Se mais aldeias escutarem o que ele tem a dizer, poderemos evitar a guerra.

一 Até onde sei a Geórgia não está tão pacífica assim. 一 Disse Andrew dando mais um gole. 一 É notável o que os Cherokees conquistaram, ouvi dizer que eles tem até escravos negros trabalhando em suas fazendas. Certamente um povo a frente de seu tempo como os bons sulistas. 一 Zombou Andrew.

一 Sim, confesso que essa parte ainda é um problema para mim como abolicionista, mas quanto aos acordos firmados com o Governo, são os georgianos que estão descontando algo firmado pelo próprio presidente e é questão de tempo até que a suprema corte reconheça o direito inegável dos Cherokees sobre suas terras. E assim que o fizerem isso servirá de exemplo pra outras nações, mostrar que podem conquistar seu lugar e coexistir pacificamente com as cidades e vilarejos americanos.

A filha do General - EM ANDAMENTOWhere stories live. Discover now