Lágrimas na Planície - III

158 14 7
                                    


Elena adormeceu nos braços de Tokalah e despertou antes do raiar do novo dia. Desvencilhou-se dele com cuidado para que não acordasse e encontrou-se com Condessa e Omaha do lado de fora.

Embora não estivesse nenhum pouco arrependida, seu coração ainda permanecia ansioso e cheio de dúvidas. A parte racional e as doutrinas em que foi criada, tentavam incansavelmente sufocar as aspirações românticas que seu jovem coração nutria.

Ao longe, viu o trem seguir na direção que Tokalah indicou e percebeu que devia ser uma quinta-feira. Se nada havia mudado, era o dia que o trem alcançava a cidade. Os Mandan, não contavam os dias da semana, seu calendário baseava-se na lua e servia apenas para manter a sua atividade agrícola, calcular as gestações e ritos religiosos. A maioria deles não sabia nem ao certo quantos anos tinham e o dia em que nasceram era apenas lembrado pela memória dos pais. Tokalah lhe disse uma vez, que Wewomi nasceu num dia de uma grande tempestade de raios e isso fazia a menina ser inquieta e barulhenta. Então toda vez que ele via tempestade ruidosa como aquela, ele contava e Wewomi agora já possuía nove tempestades de raios.
Balançou a cabeça e voltou o olhar ao trem que agora parecia um pequeno ponto distante.

O sol já brilhava invadindo em réstias a cabana, quando Tokalah despertou e ao tatear a lateral dos tapetes não encontrou Elena. Ficou por um instante refletindo sobre as palavras dela, havia sido clara que não se tornaria sua mulher, haveria ido embora? Voltado para o waikiki com o qual era casada na cidade dos brancos?

Levantou-se o mais rápido que pode, vestiu seu poncho e saiu rapidamente. Ao correr o olhar nas imediações não viu nada, nenhum sinal de Elena ou dos cavalos, sentiu o peito apertar e uma ânsia e ira descomunal cresceu dentro dele. Por mais que tivesse lhe dado a escolha, em nenhum momento pensou que ela realmente iria embora. Apesar que nem sempre pudesse entender o que se passava na cabeça dela, sabia que seu espírito pertencia a planície tanto quando o dele e a noite que partilharam juntos na mais completa harmonia só lhe serviu para provar que era o desejo dos deuses que eles se encontrassem e se unissem em um só.

一Elena! 一Gritou e viu sua voz ecoar ao longe. 一Elena! 一Repetiu e começou a andar pela vila até finalmente encontrá-la trazendo os dois cavalos pelas rédeas.

一 Onde estava?

一 Eu vi alguns arbustos e levei os cavalos comerem 一 respondeu calmamente vendo o nervosismo estampado no rosto de Tokalah que se aproximou rapidamente a abraçando carinhosamente.

一Achei que tivesse ido embora.一 Falou se afastando dela e tomando as rédeas de Omaha.

一 Eu... Eu não posso lhe prometer nada, mas não roubaria seu cavalo... E bem, Kimimela está me ensinando a tecer e não devo deixar um trabalho pela metade. Davina odiava quando eu fazia isso 一 Disse enrubescida e incapaz de admitir que cada fibra do seu ser vibrava por ele. Tokalah sorriu levando seus lábios aos dela rapidamente, que desviou-se dele com um sorriso carregado de uma malícia que ela não sabia que tinha, era delicioso para ela sentir o quanto ele a queria.

一 Venha, te mostrar lugar especial 一 falou não insistindo no beijo e montando em Omaha.

Tokalah a levou até um local mais alto, que ele chamou de memória dos antepassados. Rapidamente, Elena percebeu ser um cemitério onde pequenos amontoados de pedras demarcavam os túmulos onde repousavam os ossos daqueles que já haviam partido de encontro com a grande mãe. Ele lhe contou sobre seus rituais funerários, de como cremavam os corpos dos entes queridos para poder libertar seu espírito e devolver sua carne a mãe terra em forma de cinzas, os ossos que restavam, eram reunidos, ungidos em óleo e embalados com couro de búfalo e enterrados sempre que possível junto aos seus antepassados, assim as memórias deles seriam preservadas toda a vez que um parente vivo buscasse seus conselhos.

A filha do General - EM ANDAMENTOOnde as histórias ganham vida. Descobre agora