Lágrimas na Planície - VI

137 17 11
                                    

Tokalah exigiu o máximo que Omaha poderia lhe dar, tanto em velocidade quanto em resistência. Quanto mais tempo demorassem para transportar os sobreviventes e se organizassem para defender o vale caso fosse necessário, maior era a chance de mais um clã sucumbir diante da força dos waikiki.

Sabia que agora era questão de tempo até eles terem a localização de todos os clãs. E embora o vale fosse difícil de conquistado, já que contava com a proteção natural da mãe terra que impossibilitada qualquer ataque surpresa em massa sabia da engenhosidade daquele povo e da habilidade absurda que eles possuíam para construir coisas que traziam morte e destruição. Quando a noite chegou fez uma pausa para descansar e deixar que o cavalo se recuperasse por algumas horas, pois a exaustão já era visível no animal e se ele lhe faltasse demoraria muito mais tempo.

一 Só mais um pouco amigo 一 falou acariciando a cabeça do cavalo e lhe dando um pouco de sua água 一 Estamos quase em casa 一 disse voltando o olhar ao céu estrelado e observou um véu negro subindo em direção as estrelas indicando que ali perto alguém mantinha uma fogueira.

Tomou as rédeas do animal e cavalgou vagarosamente até que pode avistar um menino esforcando-se para aquecer-se perto de uma pequena fogueira de gravetos.

一 Hey a 一 gritou chamando a atenção do garoto que ao voltar-se a ele percebeu se tratar de seu meio irmão Hauk, filho mais novo de Kimimela.

一Lua Negra 一 O garoto sussurou com a voz fraca e um leve ar de satisfação.

Hauk bebeu o que restava no cantil do irmão com ansiedade, havia caminhado o dia todo, sem saber ao certo para onde ir. Quando os pais deixaram o clã disseram. Eles que para encontrar o vale deviam seguir a leste da estrela mais brilhante, no entanto durante o dia não tinha ideia se estava fazendo certo ou não ter Tokalah em seu caminho aliviou instantaneamente as dores das bolhas nos pés e o peso em seu coração.

一 ... Urso Branco estava furioso, ele provocou os waikiki, arrastando o corpo daquele homem diante deles. 一 Contou o garoto 一 Nosso avô, Maralah foi o primeiro a cair, eles não ouviram o que ele tinha a dizer, atiraram no peito dele e depois avançaram sobre a aldeia. Não esperávamos aquilo, apesar da presença dos waikiki e tudo que houve com Urso, era um dia comum. Todos estavam fazendo suas tarefas, os meninos mais novos brincavam, as mulheres preparavam a partilha e eles vieram com seus cavalos e com armas de fogo e fumaça. Eles atiravam em qualquer um que cruzasse o caminho. Eu vi um bebê ser pisoteado pelos cavalos enquanto tentávamos fugir, eles gritavam "corram animais, corram selvagens, vamos pegar vocês " e atiravam em nós. Eram mulheres e crianças, os velhos nem tentaram sair. 一 O garoto disse com lágrimas escorrendo 一 Squanto tentou manter todos unidos, mas alguns acabaram se dispersando com tanta fumaça. Me perdi dele, eu não sei se está vivo. Por que eles nos odeiam tanto Lua?

一 Eles sabem que não podem nos controlar e isso os deixa furiosos e assustados. O homem branco quer controlar tudo a sua volta, porque acreditam que assim serão felizes. Eles querem dominar a natureza, mudam o curso de rios, usam a pólvora para destruir montanhas inteiras para que seu monstro de ferro possa passar, julgam todos aqueles que não pensam como eles indignos da terra que nasceram e da própria vida, dada pelo grade espírito. Eles não entendem que tudo que a fere a terra também fere os filhos dela.

一 Maralah disse que o homem branco nunca vai entender a nossa forma de viver e que talvez a única forma de sobrevivermos fosse entendo a deles. Meu pai dizia que ele estava errado, que estava se vendendo aos waikiki, mas ele não aceitou o acordo com os brancos e eles mataram e queimaram nosso povo 一 Disse o garoto baixando a cabeça.

一 Hauk a diferença entre um homem branco e um homem vermelho é que mesmo que até o último de nós seja abatido, nos ainda viveremos com a grande mãe, nas suas planícies e pradarias, nas florestas e nas montanhas, com chuva que resfria a terra quente no verão. Porquê nós a respeitamos em sua grandeza e somos queridos por ela e pelo grande espírito. 一Disse ele ao garoto que assentiu com a cabeça. 一 Squanto está vivo e bem e em breve estarão com Kimimela e Kinauhauk. Mas agora preciso que seja forte.

Apesar da cavalgada se tornar mais lenta tendo de levar o garoto a sua garupa, Tokalah alcançou o vale antes do meio dia do dia seguinte. Assim que entrou a área protegida viu Mansir cavalgar em velocidade na sua direção e antes que falasse das preocupações sobre a fumaça vista no céu, entendeu o que havia acontecido quando viu o menino machucado e sujo de fuligem nas costas do irmão.

一 Precisamos reunir alguns homens, cavalos e usaremos as carroças de milho para transportar os que não puderem andar ou caminhar. Temos que fazer isso rápido.

Squanto trouxe um pequeno pedaço de uma ave para Elena que continuava a tratar seu paciente, que agora parecia oscilar em lampejos de consciência os quais eram recheados com gemidos e dor agonizante.

一 Eu não estou com fome, de para alguma criança lá em cima.

一 Lua Negra disse que eu devia cuidar de você, até que ele voltasse. Então aceite.

一 Eu posso me cuidar sozinha, mas se quer ajudar sei que há uma fonte de água se puder me trazer um pouco eu agradeceria. Preciso limpar as feridas dele e mantê-lo hidratado. 一 Disse e o menino concordou e ela voltou a resfriar o pano sujo com a pouca água que ainda dispunha. Secou o rosto ardendo em febre do homem a sua frente que proferiu um gemido alto e desta vez, abriu os olhos de forma lenta tentando definir o que estava a sua frente. E Elena surgiu, uma face arendondada e branca com cabelos louro escuros levemente avermelhados assim como as folhas de tabaco que cultivam nas fazendas de sua terra, que desciam em ondas selvagens até os ombros. Seu olhar focalizou na mulher incrivelmente bela de olhos verdes que não se assemelha a em nada com nenhuma das outras que vira entre os Mandan.

一Por favor não se mexa, ainda não sei por certo as extensões dos seus ferimentos e nem pude imobiliza-lo como deveria, pode acabar agravando ainda mais dia situação. 一 Disse e desta vez percebeu que o homem entendeu o que falava asentindo levemente com a cabeça 一 Que ótimo,se você me compreende siguinifica que o ferimento na sua cabeça não é tão grave quanto eu pensava. Não quero que se esforce, mas pode me dizer seu nome, apenas se conseguir...

一Green 一 ele sussurou baixinho 一 Nathan Green. Sou da nação Cherokee da Geórgia. 一 falou tendo lampejos de memórias ainda embaralhadas que lhe levaram a crer que aquela figura quase angelical a sua frente se tratava da filha do general Krigher, a mulher que era o centro de toda a atenção e fofocas desde que pisou em Charlotetonw.

一Ótimo, isso é ótimo 一 falou checando suas pupilas. 一Meu nome é Elena eu não sou médica, mas modéstia parte tenho tanto conhecimento quanto os médicos daqui então, você está em boas mãos.

一 Você... Ele soltou um longo suspiro... Você é a senhora... Norton, não é? Fico feliz em vê-la bem. Em Charlotetonw corria rumores de que você estava morta ou em piores condições que a minha neste momento, sendo cativa dos índios.

一 Eu estou bem, os Mandan tem sido gentis e justos. Mas que um Cherokee da Geórgia faz aqui?

一Eu estava em uma missão de paz a pedido do governador e de seu irmão Edgar一 ele falou soltando um gemido dolorido como vê não foi bem sucedida 一 Ao que parece a cavalaria do forte Bennington tem ideias distintas aos do governador.一 Ele disse e Elena engoliu a seco as palavras.

一 O general é um homem muito cruel as vezes一 ela disse tentando não deixar sua tensão transparecer.

一 Ele não cordenou o ataque, quem estava a frente do grupo que atacou a aldeia, era Andrew Norton. 一 Falou com dificuldade e Elena inspirou o ar para os pulmões com força e o bloqueou no peito por segundos a fim de segurar a amargura que tomou em sua alma no mesmo instante. 一 Ele é seu marido, não é?

一 Ele foi, em outra vida. Agora descanse eu vou por mais lenha no fogo 一 ela disse ele segurou seu punho antes que se afastasse.

一 Ele não vai parar até encontrá-la, não sei a sua situação entre os Mandan, mas se desejam dar alguma chance a paz precisa voltar pra casa. Enquanto Bennington tiver o respaldo de um pai e um marido amorosos...一 Ele fez uma pausa para respirar 一 buscando uma mulher branca em poder de selvagens perigosos ... Eles ... Ninguém vai questionar os atos deles...一 Disse com dificuldade e Elena respirou profundamente e limpou as lágrimas que escaparam de seus olhos.

一Melhor descansar senhor Green, está se esforçando por demaisiado. Não quero que toda essa conversa agrave seu estado. 一 Disse findando o assunto.

A filha do General - EM ANDAMENTOWhere stories live. Discover now