A filha do General - EM ANDAMENTO

Orgulhosos e Livres - IV

Elena seguiu o índio que caminhou a passos rápidos até a casa onde o velho Burt foi despertado com um disparo certeiro em seu peito e o grito da sua mulher ecoou pela noite, no mesmo instante que Elena empurrou a mão dele impedindo que o segundo disparo feito por ele, lhe acertasse em cheio.

一Não! Ela não. 一 Ralhou Elena sentindo o sangue correr forte pelas veias 一 Pegue as meninas e saia daqui senhora Burt! 一Disse a mulher que continuou gritando apavorada 一 Vá! 一 Ela insistiu e a mulher levantou-se em pranto encarando o corpo do marido e depois o olhar firme de Tokalah a quem praguejou diversos insultos infames até finalmente correr para fora do quarto.

一 Você enlouqueceu? Eu posso entender porque fez isso com Owen e Burt, mas ela é uma mulher e você ia mata-la! 一 Elena falou intempestiva.

一 Se não fosse branca esses homens 一 ele apontou com a pistola para o corpo do velho coberto de sangue a cama 一 teriam te estuprado por dias e depois te matado na frente dela e ela não teria feito nada. 一 Disse tomando uma lamparina acendendo-a e em seguida jogou-a com força contra a janela coberta por uma cortina fina que imediatamente incandeceu-se em tons de vermelho e
amarelo.

一 Ela é uma boa pessoa, às vezes nós mulheres não temos escolha.

一 Sempre há uma escolha, mas tendemos a escolher o caminho mais fácil ou simplesmente não nos importa. Tenho certeza que o senhor Burt também era um bom homem pra muitas pessoas, mas não pra minha gente. Agora aqueles que ele matou e estão embaixo desse chão, vão poder seguir em paz.一 disse olhando o fogo se espalhar  一 Vamos embora.

Elena tentou não olhar para as três meninas agarradas a mãe chorando compulsivamente em frente a casa, enquanto o fogo se espalhava rapidamente pelos cômodos. Respirou fundo e foi içada a garupa do cavalo tomado por Tokalah e cavalgaram em alta velocidade até o local onde Condessa e Omaha haviam sido deixados.

Cortaram a noite em uma cavalgada forte, era melhor estar bem longe quando o fogo chamasse a atenção dos senhores das terras vizinhas. Quando o sol já brilhava intenso no céu Elena puxou as rédeas da égua que já não conseguia acompanhar o ritmo frenético de Omaha e seu cavaleiro.

一 Você está cansada, não é mesmo? 一 disse descendo do lombo da égua e vendo Tokalah retornando ao ver que ela não o acompanhava.

一 Temos que seguir, precisamos alcançar o acampamento.

一 Condessa está cansada e se tivesse parado quando pedi, poderia ter lhe contado que Cavalo louco já ergueu as tendas e seguiu caminho há alguns dias. Já devem estar longe. A maior parte dos guerreiros seguiu com ele e outra parte regressou ao vale, iriam buscar junto a Homem Sábio  e a Mansir o que seria feito. Achavam que estava morto. 一 Disse Elena e o viu torcer o rosto pensativo. 一 sua mão precisa de cuidados e eu estou exausta vamos descansar. 一 ela falou em tom de ordem e por mais que o índio quisesse continuar para resolver o mais rápido possível a situação com Navalha, a dor estava se tornando insuportável e o sol escaldante parecia potencializar a sensação de mal estar que lhe tomava o corpo.

Encontraram um lugar a sombra e Elena desembrulhou o pano sujo envolto em sua mão. Três de seus dedos tinha uma fratura exposta o outro pelo tamanho do inchaço também devia estar quebrado, apenas um deles parecia ter sobrado ileso.

一 Este aqui está muito lesionado, o tendão foi rompido e a carme está... Eu sinto muito 一 disse constatando que teria de ser amputado 一 os outros vamos entalar e esperar que os ossos se fundam novamente, talvez demore pra recuperar totalmente os movimentos, mas ficarão bons em algum tempo.

一 Corte 一 ele disse secamente e Elena assentiu com a cabeça.

Antes de seguir com a amputação, a mulher alinhou e imobilizou os outros dedos com uma tala improvisada com galhos secos e tiras de tecido da saia que usava. Sabia que a dor que ele estava sentindo era insuportável, mesmo assim ele permaneceu firme enquanto ela realizava os procedimentos e ele contava-lhe sobre a traição de Navalha.