A Filha do general - II

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一 Precisa comer 一 disse Kimimela empurrando um pedaço de carne e uma espiga de milho verde a Elena que permanecia encolhida na lateral da tenda.

一 Não quero comer, quero ir pra casa. 一 resmungou Elena pensativa.

一 Não vou insistir, mas deixarei a comida aqui, deve estar faminta.

一 E Oliver? Quer dizer Enepay... Ele está bem?

一 Ele ainda não acordou, Witchashawakan disse que o espírito dele se perdeu do corpo. Vai precisar de algum tempo para que sua alma possa ser costurada novamente, isso se os deuses julgarem justo que ele retorne.

一 Ele levou uma pancada forte, precisa de tratamento adequado, talvez esteja com uma fratura no crânio ou pior, se for leve ele ficará bem... mas por favor, peça aquele senhor que me deixe vê-lo, talvez possa ajudar. Tenho conhecimento médico e apreço por aquele menino.

一 É curandeira?

一 Quase isso.

一 Falarei com ele, se comer um pouco 一 Disse e Elena se deu por vencida pegando a tigela.

Depois de comer, Kimimela a levou até a grande tenda. A única construção que parecia não poder ser desmontada em poucos minutos, era circular, com paredes feitas de galhos trançados e barro. Seu interior era ricamente adornada com muito couro pintado, estampando diversos desenhos, a maioria retratando o dia a dia daquele povo. Penas, muitas contas coloridas, cestos de barro, palha, chocalhos, machados de guerra e arcos se amontoavam junto a tapetes de peles de diversos animais. Assim que entrou Elena viu o homem santo que vira mais cedo, agora ele usava um poncho colorido e balançava chocalhos sobre o garoto intercalando com baforadas de cachimbo em seu rosto.

一 Diga a ele que talvez eu possa ajudar 一 Elena falou a Kimimela que se aproximou do homem e cochichou algo que o fez parar a reza e observar a jovem mulher a sua frente, dando espaço a ela em seguida.

Elena verificou os batimentos, os olhos, o sangue já seco mas narinas de Enepay e por último o ferimento na sua cabeça.

一 Eu preciso de água, a mais gelada que conseguir. Precisamos reduzir o inchaço, se não tiver danos no cérebro, ele ira acordar, assim que a pressão diminuir. 一 Disse a mulher que continuou a observar confusa. 一 Eu preciso da água e panos limpos, Kimimela.

O resto do dia Elena despendeu aos cuidados do rapaz sobre os olhares atensiosos de Witchashawakan. Quando a noite caiu, Enepay acordou pela primeira vez, ainda confuso, porém pode dar alguns goles de água antes de perder a consciência novamente.

一 Witchashawakan está impressionado com você 一 Kimimela falou ao lhe oferecer uma tigela com uma espécie de sopa.

一 Ele é assustador.

一 É um homem santo, tem um olhar forte como todo aquele que foi tocado pelos deuses. Ele acha que você também foi, trouxe o espírito do menino de volta.

一 Isso não é magia, é medicina básica. Ele ia acordar hora ou outra, mas quanto mais rápido diminuir o inchaço menos as chances de lesões.

一 Mesmo assim, está sendo benevolente cuidando dele, estando aqui ferida e contra a sua vontade.

一 Enepay é meu amigo e cuidar dele me ajuda a não pensar nessa situação toda. 一 ela suspirou profundamente 一 Eu matei um homem, eu... Nem sequer pensei e enterrei um machado na cabeça dele como se ele não fosse nada e depois eu continuei a golpea-lo... Espero que um dia Deus me perdoe e tenha piedade da minha alma por esse terrível ato.

一 Se o que fez, foi pra defender a sua vida ou a vida de outra pessoa, porque seu Deus a condenaria? 一 Questionou kimimela.

Quando dia raiou Elena despertou, seu corpo parecia ainda mais dolorido do que no dia anterior, porém agora menos exausta, fora incapaz de pregar os olhos uma só vez dentro da grande tenda.

A filha do General - EM ANDAMENTOWhere stories live. Discover now