Espírito Livre - III

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一 Porque parece que você não tira os olhos do Oliver hoje? 一Perguntou Sarah.

一 Ele quer ir embora. Disse que vai esperar até às coisas estarem mais tranquilas, mas ele está mentindo. 一 Suspirou Elena 一E temo que ele acabe morto por aí.

一 Não devia se preocupar tanto com ele, fez o que podia e se ele é um ingrato e prefere viver entre os selvagens a culpa não é sua e como sabe que ele está mentindo?

一 Eu não sei, apenas sei. Alguma coisa me deixa ansiosa quando as pessoas mentem para mim. 一 Disse olhando o garoto pela janela. 一 E se as coisas estão tão ruins como Andrew tem relatado, não quero pensar no que pode acontecer com ele sozinho por aí...

一 Minha vó dizia que isso se chamava intuição. Então deve ser por isso que você e meu irmão brigam tanto. Não que meu irmão seja mentiroso, mas é muito reservado, sempre foi. É difícil saber o que passa na mente dele.

一 Estamos bem agora.

一 Ele a ama. Nunca vi ele agir com alguém como age com você, tão gentil e carinhoso, nem mesmo com a falecida Anna, que Deus a tenha. 一 Disse fazendo o sinal da cruz.

一 Ele está se esforçando e eu também, acredite. Desde que eu cheguei tudo tem sido tão difícil, sinto tanta a falta dos meus tios, da clínica, dos pacientes. Menos do cheiro, devo admitir que o cheiro daqui é muito melhor que o de Londres. 一Disse olhando mais uma vez pela janela.一 Onde foi que ele se meteu? 一 Disse Helena saindo par agora. Deu uma volta na casa e até o pequeno galpão onde os cavalos
foram acomodados e o baio ali não estava, apenas a cela jogada sobre um canto 一
Garoto teimoso! 一 Ela ralhou.

Voltou rapidamente para casa e avisou Sarah que regressaria em breve. Tomou seu chapéu e um pequeno cantil antes de encontar em Condessa e galopar apressada para a saída da cidade. Esperava encontrar Enepay dentro de alguns minutos, afinal fazia pouco tempo que ele havia saído, mas quando não conseguiu mais avistar o topo do prédio da justiça puxou as rédeas da égua. Embora soubesse que a estrada seguia em direção a Riverside, a próxima cidade não tinha como ter certeza que o garoto seguiu por ali e a noite já começava a cair. Desejou ter prestado mais a atenção nas aulas de geografia, pois não tinha a menor ideia de como se orientar naquele lugar sem pontos de referência confiáveis. Desceu da égua e tentou encontar algo que indicasse que alguém tinha passado por ali a pouco tempo e mais a frente viu um amontoado de esterco que parecia fresco.

一 Será que isso é do baio Condessa? 一 Perguntou a égua e retirou as luvas. 一Tudo bem Elena você enfia a mão em ferimentos cobertos de pus, pode fazer isso.一 Disse torcendo o rosto e tocando o dejeto com a ponta dos dedos. 一Está quente! Está quente, úmido e macio, significa que não está aqui há muito tempo e já pegadas por ali ... Mas como somos meninas espertas 一 disse arrancando o lenço que cobria o pescoço e em seguida rasgou-lhe uma tira e amarrou em um pequeno arbusto 一 Ora não se preocupe Condessa, não iremos muito longe, apenas mais algumas léguas certo? Se não os encontrarmos, regressaremos. E que Deus os proteja.

Elena seguiu por mais algum tempo, sempre marcando o caminho com pedaços do lenço. A noite parecia amais agradável de se calvagar e estranhamente a imensidão a sua frente não olhe causou o temor como no dia que foi as cachoeiras com o marido, sozinha sentia-se livre e curiosa. O céu parecia mais estrelado do que jamais vira e trote lento e compassado de Condessa lhe permitia andar ereta de peito aberto como viu em algumas pinturas de Joanna D'arc nas vezes que visitou a França com os tios.

一 Está vendo aquilo Condessa, parece fumaça. Será que é o nosso garoto fujão? 一Disse esporeando a égua e aumentando o trote. 一Eu sabia que era você 一 disse assim que avistou o baio e viu o menino se levantar.

一 Senhora Elena, não deveria estar aqui.

一 Nem você, prometeu-me que ficaria até tudo estar mais calmo.

一 Eu não fiz uma promessa apenas concordei, mas sabia que assim que o senhor Norton voltasse e me levassem para aquele maldito forte, não sairia de lá tão cedo.

一Nunca foi um prisioneiro Oli... Enepay... Você é um garoto inteligente, sabe fazer contas e aprende tudo tão rápido, sei que as pessoas te substimam por ser mestiço, mas tenho certeza que pode ter um futuro brilhante e mostrar a todos o quanto pessoas como você são incríveis.

一Sabe voltar sozinha? Porque eu não pretendo voltar, mas também não quero que acabe perdida.

一 Não tenho ideia de como voltar, na verdade nem sei como lhe encontrei deve ter sido Deus ou quem sabe como você diz Grande espírito? Que me pôs em seu caminho pra evitar que se mate 一Ela mentiu. 一 O que está assando? 一 Disse se aproximando da pequena fogueira.

一 É um rato do deserto, sao fáceis de pegar a noite. 一 Falou soltando um suspiro 一 Mas não devia estar aqui Senhora Elena, é perigoso.

一 Sim, é exatamente por isso que queria que esperasse e isso parece gostoso, estou faminta. Não imaginei que demoraria tantas horas para encontrá-lo 一 Disse a mulher 一 Comeremos e depois você me leva de volta e amanhã sem a cabeça quente voltaremos a conversar sobre você querer se arriscar pra votar pra um lugar que não sabe se será aceitou ou morto.

一 Ainda assim parece melhor que voltar pra aquela cidade. Mas tudo bem parece que não tenho escolha agora e achei que seu povo não gostasse desse tipo de comida.

一 Ah eu já comi lesmas na França e esse rato parece muito mais apetitoso. 一 Disse se sentando sob uma pedra. 一 Me diga, há muitos corvos por aqui?

一 Não, estamos perto da linha ferroviária eles não se aproximam por causa do barulho do trem. 一 Respondeu o garoto 一 Mas também pensei ter ouvido um. Achei que fosse minha cabeça.

一 Tem medo de corvos? 一 Elena questionou vendo o garoto se tornar apreensivo.

一 Acredite não devem ser corvos. Suba na sua égua. Temos que ir, rápido . 一 Disse o garoto jogando terra sobre a fogueira e desamarrando o baio enquanto Elena montava em Condessa.

一 Estamos em perigo? 一 Ela questionou tentando ver algo em meio a escuridão.

一 Se forem Powatans não, é só um aviso que há intrusos na terra deles, pra ficarem em alerta, se nós virem indo embora não causaram problemas.

一 E se não forem Powatans?

一 Aí são Crows, então estamos mortos. Anda vamos embora. 一 Disse o garoto fazendo o baio trotear.

Os dois dispararam em alta velocidade em direção a estrada e não demorou para que o uivo dos coiotes fosse ouvido novamente, dessa vez mais próximo e repetidas vezes o que fez Elena parar sentindo o peito disparado.

一 Não pare senhora Elena. 一 gritou o garoto quando percebeu que ela nao o seguia. Quase que no mesmo instante ouviram um disparo de rifle que fez Condessa assustar-se, levantando as patas dianteiras fazendo Helena cair ao chão e égua seguir em disparada.
Antes que Enepay pudesse retornar, um Crow de cabeça raspada e rosto pintado de vermelho e preto surgiu a sua frente, ao olhar para trás outro, usando um moicano adornado de penas puxava Elena para cima do lombo do cavalo enquanto um terceiro buscava a égua em disparada.

一 Melhor não se mexer garoto. O nativo falou apontando um rifle para ele.



A filha do General - EM ANDAMENTOOnde as histórias ganham vida. Descobre agora