Teria de parir seu filho ali mesma, sozinha. Constatou sentindo o peito disparar.

Envolveu a barriga carinhosamente e tentou se acalmar, respirando profundamente por diversas vezes. Já havia acompanhado muitos partos, sendo a principal parteira de alguns, sabia exatamente o que fazer em qualquer situação, menos na que se encontrava agora.
Amparar mãe e bebê durante o nascimento era totalmente diferente de trazer uma criança ao mundo, mas não tinha escolha.

Sugou todo o ar que pode para os pulmões tomando coragem, na aldeia o parto era um momento sagrado e a menos que as coisas se complicassem, mãe e bebê deveriam fazer aquilo sozinhos, apenas na companhia dos espíritos. Por vezes, viu as nativas se afastavam até a nascente, o pai ansioso as seguia e observava de longe, as mulheres se reuniam em uma vigília de cantos e preces a grande mãe por horas, até que uma nova vida surgisse e mãe e bebê voltassem, agora separados como duas almas distintas.  

一 Tudo bem, vamos fazer isso juntos meu bebê. 一 Disse carinhosamente ao afagar a barriga. Se levantou com dificuldade e andou até os cavalos de onde tirou uma das malas de garupa. Arranjou um tecido limpo e uma faca. Por instantes desejou ter um cantil com uma dose de uísque, conhaque ou qualquer bebida forte para espantar o frio, aliviar a dor e dar coragem para enfrentar as próximas horas.

Depois de voltar para dentro da cabana ajeitou o canto mais quente que encontrou e  tentou inutilmente acender a lareira.

Quando desistiu  já não conseguia suportar a dor e o frio, as contrações cada vez mais fortes e em intervalos mais curtos a deixavam incapaz de sequer pensar em qualquer outra coisa. Recostou-se a parede e retirou as anáguas e meia calça que usava por baixo do vestido, contorcendo-se a cada dor. 
A escuridão já tomava conta de tudo quando a bolsa estourou e as dores tornaram-se  ainda mais intensas. Nas próximas horas tentou manter a calma, mas a certo ponto a dor lascerante e a falta de progresso no parto a fizeram ser tomada por um desespero de lágrimas e incertezas.

Não muito longe dali, Andrew e Ike haviam se separado a fim de cobrir mais terreno, alcançaram o carroção com facilidade, mas a partir dali os rastros de Elena haviam se perdido em meio a neve. No entanto, o capitão não se deu por vencido, sabia que mesmo sem o peso do carroção, Elena não cavalgaria muito rápido naquele estado e não deveria estar longe. 

A pouca pele do nariz e olhos que estavam a mostra encarando o vento cortante do inverno ardiam em uma queimadura gélida de frio e seus pés, embora protegidos por botas de couro de cano alto estavam petrificados e doloridos.

一Elena!一Gritou mais uma vez e ouviu do sua voz ecoar na vastidão escura.
Esporeou Negro e voltou a um trote forte quando ao longe percebeu uma pequena cabana. Outrora construções assim eram comuns na região, antes das peles canadenses tomarem o mercado, o couro dos búfalos era um negócio próspero e regiões como aquela atraíram caçadores e mercadores de todo o país.
Puxou as rédeas e rumou em direção ao casebre, alegrando-se assim que avistou os dois cavalos  baios em frente.  Forçou a porta para entrar e assim que correu o olhar avistou Elena no chão recostada a parede com com uma carabina em mãos apontando para ele. Seus cabelos estavam desgrenhados e o suor escorria-lhe a testa, enquanto seu peito subia e descia numa respiração afoita.

一 Elena, sou eu. Abaixe isso.一 Falou tirando o chapéu e o lenço que protegia parte de seu rosto.

一 Andrew... 一Ela disse num sussurro quase sem forças.

一 O que houve com você?一  Falou ao de aproximar e ela engatilhou a arma.

一 Vá embora! Fique longe de mim 一 gritou tremulando a arma em punho.

一 Vai atirar em mim? 一 Ele falou sem pausar a investida se abaixando diante dela e deixando sua cabeça em frente a mira. 一 Atire Elena! Vamos! Atires!一 Ele disse encarando-o com os olhos azuis e ela desistiu  pousando a arma no chão em seguida. 一 Eu sinto muito, não queria tê-la assustado, tudo que eu quero é proteger você. O que houve?

一 Eu estou tendo o bebê, eu acho. Eu não sei. Ele já devia ter nascido. 一 Disse sem ânimo algum para iniciar uma discussão sobre a proteção que ela não queria.

一 Se cavalgarmos forte em duas horas estaremos em casa e Dorothy poderá ajudar, acha que consegue? 一 Ele perguntou e ela balançou a cabeça negativamente 一 Tudo bem, olhe pra mim e tente de concentrar. Porque acha que não está dando certo? Ele falou pousando a mão sobre sua barriga.

一Eu não sei, ele pode não estar na posição correta ou  posso não ter espaço suficiente, a placenta pode estar no lugar errado bloqueando o caminho, ele pode já estar morto, sou fraca demais... Tem muitas coisas que podem dar errado. 一 Ela disse com a voz entrecortada se contorcendo de dor com a próxima contração...

一 Ter um bebê eh difícil, deixe-,me te ajudar. Ele deve estar bem. Você pode fazer isso, é a mulher mais forte que conheço. Eu vou aquecer um pouco esse lugar e você diga a si mesma o que diria a mulher que está dando a luz e tente se acalmar. Tudo bem? 一Ele falou tentando manter-se calmo, poucas vezes viu a impetuosa esposa de maneira tão vulnerável, afastou-se até a lareira e quebrou um banquinho cuja a lenha estava seca para iniciar a fogueira. Depois de alguns minutos de fumaça, uma chama ardia diane deles aquecendo e iluminando e assim tanto Elena quanto ele perceberam a mancha de sangue que havia no entorno dela.

一 Tem muito sangue, 一 ela falou num suspiro 一 sangue demais.

一 Escuta, temos que tira-,lo daí. 一 Ele falou se ajoelhando-se diante dela, que se encolheu ainda mais a parede. 一Elena deixe-me te ajudar!  Precisamos que ele nasça para que pare de sangrar, não é? E se está sangrando ele também está sofrendo. Acredite você não vai querer conviver com a dor de pensar não ter feito tudo que podia pra salvar um filho. 一Ele falou em um tom magoado e Elena cedeu.

Elena passou a próxima hora entre urros de dor e contrações cada vez mais fortes, Andrew apesar de não saber bem o que fazer, limpava o suor de seu rosto e a mantinha acordada toda vez que seu corpo exausto pendia a desfalecer.

一Vamos Elena força! 一Ele disse ao perceber que já estava na hora  一 Força! Eu estou vendo ele  Você consegue, meu amor, empurre! Vamos empurre.

Elena afundou os dedos no macio das peles, cerrando os dentes com força contra tira de pano enrolada que Andrew trançou para ela minutos mais cedo. Sentiu a pressão em seus quadris aumentar de maneira exorbitante seguida de um alívio tamanho que a fez perder os sentidos.

Andrew segurou com firmeza a pequena criança coberta de sangue e líquido viscoso, demorou o tempo do bebê começar a espernear em suas mãos para sair do transe que entrou ao ter o pequenino em suas mãos.
O capitão, colocou cuidadosamente o bebê sobre o tapete e limpou seu rosto com um pedaço de pano.

一 É um menino Elena! Éum lindo menino. 一 Disse a ela e imediatamente cortou o cordão com um punhal  一 E ele é perfeito一 falou encarando o menino que agora chorava vigorosamente.

O bebê tinha uma espessa camada de cabelo negro e um nariz bem talhado, olhos estreitos e embora fosse um pouco magro, tinha um bom tamanho. Mãos pequenas recheadas com cinco dedos longos e finos os quais Andrew contou um por um com um sorriso maravilhado.

一 Você é perfeito. 一 Disse acariciando a cabecinha da criança em seguida tirou seu casaco azul de lã batida da cavalaria e envolveu o menino o melhor que pode. 一 Elena? 一Chamou a esposa que jazia inconsciente. 一 Elena?一 Disse aconchegando o menino em seu braço e indo até a  mulher. Sacudiu levemente seu rosto e em seguida verificou seus batimentos, respirando aliviado em seguida一  Eu preciso aquecer vocês dois. 一 Disse voltando o olhar para o bebê com lágrimas nos olhos. 一 Tudo bem pequeno, a mamãe só precisa descansar um pouco. 一Falou pegando uma das mãozinhas do bebê pra fora do embrulho e segurando carinhosamente com a ponta dos dedos.

一 Você é perfeito, perfeito. Meu menino perfeito. 一 Disse beijando o topo da cabeça do recém nascido.

***

Oi gente e aí o que acharam do capítulo e do nosso novo personagem? 

A filha do General - EM ANDAMENTOWhere stories live. Discover now