Lendas de vingança e liberdade - O reino massacrado

Capítulo 55

Narrado por Zahara

Com as mãos trêmulas, eu pego a carta e a abro.

Nunca escrevi uma carta antes, mas por você Zahara eu sempre faço coisas do qual não estou acostumado.
Desde que a vi pela primeira vez eu soube que você balançaria meu mundo por completo. Eu tentei ser o cara bonzinho e fazer o que era certo mas no final tudo foi em vão. O cara mau nunca fica com a garota, não é?
Por um curto momento achei que nós teríamos nosso "felizes para sempre". Você transformou minha vida num conto de fadas. Você me libertou não só das minhas correntes físicas naquele castelo, mas da minha própria escuridão. Você me mostrou a real beleza da vida.
Certa vez você me disse para viver uma vida do qual eu me lembrarei. E você se tornou uma parte inesquecível dela. Você é e sempre foi boa demais para mim, Zahara. Enquanto eu sou feito de sombras e escuridão, você é como as estrelas, capaz de iluminar até a noite mais escura. E é por isso que não pude contar isso a você. Que no final das contas um de nós teríamos que nos sacrificar pelo outro. Eu não poderia deixar que você morresse, nunca me perdoaria por isso. Eu quero que você leve seu povo para casa Zahara. Que seja feliz lá, por mais que eu não esteja ao seu lado. Sei que talvez você nunca irá me perdoar por ter feito tal sacrifício, por ter escondido isso. Mas por você, meu amor, eu posso suportar isso. E não me arrependo. De absolutamente nada. Porque se as coisas fossem diferentes eu talvez não tivesse a chance de conhece-la.
E se apenas algumas semanas foram tudo o que pôde nos ser dado, fico mais que satisfeito em ter passado esse tempo ao seu lado.
Eu só quero que quando se lembrar de mim, sinta orgulho de ter me amado. Quero que quando se casar e tiver filhos conte a eles sobre o demônio do qual sacrificou tudo por você. Para que você vivesse e fosse feliz.
Certamente já estou morto enquanto você lê isso.
Escrevo essa carta como uma despedida, mas ainda assim sou incapaz de dizer adeus. As palavras pesam em meu coração. Pois acredito, mesmo que em outra vida, irei encontra-la novamente para me iluminar com seu sorriso e navegar nas águas turbulentas dos seus olhos azuis como o mar.
Eu te amo Zahara. Amei desde o primeiro instante e amarei até o último. Talvez até depois. Lembre-se disso.

De sua Rapunzel

Azrael Neoren

Eu sinto o mundo desabar ao meu redor. Posso ouvir o som que meu coração fez ao se partir e eu ameaço cair de joelhos, mas Agamenon me segura.

— Era você ou ele, Zahara. Azrael escolheu morrer por você. — Agamenon diz e eu simplesmente não posso respirar mais.

— Onde ele está? — pergunto. — Eu quero ver meu Azrael. — Peço. Então Agamenon me leva até ele, para fora do castelo.

— Ele queria ver o sol nascer uma última vez antes de... partir. — Me explica e começamos a descer as escadas. Até que eu o vejo na grama.

Morto.

Corro até seu corpo e caio de joelhos diante dele. Solto um grito tão alto e tão agonizante que espero que até os espíritos tenham ouvido.

— Meu amor, por que fez isso? Por que se sacrificou por mim? — Sussurro, sentindo gosto de sangue devido a ter quase destruído minhas cordas vocais com aquele grito.

Eu o envolvo em meus braços, tentando desperta-lo de seu sono profundo.

— Volte para mim. Não me deixe aqui Azrael. O mundo não é o mesmo sem você ao meu lado. — Imploro, colocando a cabeça entre seu ombro e chorando desesperadamente.

Ouço mais três elfos se aproximarem, e vejo Osíris, Kira e quem acho ser Cameron.

— Por que vossa Majestade chora sobre o corpo desse demônio? — Ouço Cameron perguntar a Agamenon.

E enquanto eu continuo abraçada com Azrael morto em meus braços, Agamenon conta por que a futura rainha do povo feérico chora pela morte de um demônio. Quando ele explica quem era esse demônio e o que ele fez por mim e meu povo, Kira vem até mim e se ajoelha ao meu lado, colocando sua mão em meu ombro.

— Nós sentimos muito por Azrael, minha querida. Apesar de ser um demônio ele fez algo que nem mesmo o mais corajoso dos homens faria por vontade própria. Amou. E se sacrificou por esse amor. — Ela fala e eu choro ainda mais.

Olho para ele e aliso seus belos cabelos loiros, na esperança que ele abra os olhos e sorria para mim.

Mas isso não acontece.

— Eu quero ele de volta. — Sussurro para o nada. — Quero que devolvam meu Azrael para mim. — Vejo uma lágrima escorrer pelos olhos de Kira.

Ela vai até o outro lado do corpo de Azrael e coloca a palma de suas mãos sobre ele.

— Segure minhas mãos, querida. — Ela pede. Vendo que não irei solta-lo, ela mesmo as pega. E eu não tenho forças para resistir.

Ela aperta minhas mãos e eu sinto um estranho formigamento em mim, mas é diferente do de antes.

— Zahara, o poder da sua mãe não envolvia apenas cura. — Ela diz e minhas mãos começam a brilhar. — O poder da sua mãe era vida em sua mais pura essência. —

— Não Kira, eu não herdei o poder dela. Os raios já se manifestaram, não há como salva-lo. Ele já se foi. — Murmuro, olhando para Azrael.

— Não permita que falsas certezas deixem seu futuro incerto. — Ela diz e eu olho para ela.

— Azrael me disse exatamente essas palavras...
— Digo, confusa.

Então os olhos de Kira ficam vermelhos como sangue e em um piscar de olhos, há um lobo branco olhando para mim.

— Era você. — Sussurro para o Lobo e ele aponta o focinho para minhas mãos que estão mais brilhantes que o sol.

Eu coloco minhas mãos no peito de Azrael, seguindo um instinto em mim que eu não conhecia.

— Você não tem só os raios de seu pai, Zahara Neoren Moonrine. — O lobo sorri quando diz meu novo nome. — Depois de dois mil anos, uma criança nasceu. E ela trazia consigo vida e esperança. Trazia luz e cura. Zahara essa criança é você. — O lobo diz e parece que todo o resto do mundo desapareceu ao meu redor, existindo apenas eu e Azrael.

— Impossível... — murmuro.

— Agora acorde Azrael. Chame por seu demônio e ele responderá seu comando. De a ele a ordem, faça o pedido que reside em seu coração. — Kira, o Oráculo, fala.

— Viva, Azrael. — Sussurro em seu ouvido e a luz penetra seu peito, indo até seu coração. —Eu concedo a você sua liberdade, concedo a você o perdão. —

Então Azrael abre os olhos.