Lendas de vingança e liberdade - O reino massacrado

Capítulo 29

Narrado por Zahara

O pesadelo mudou, agora estou no quarto do alojamento que estamos dormindo. Vejo Azrael sem camisa na cama em cima de alguém. Ele parece estar se alimentando.

Eu me aproximo dele. Quando olha para mim, seu rosto está encharcado de sangue e ele está com um coração quase todo devorado em sua mão. O meu coração. Eu quem estou abaixo dele, com um buraco no peito e sem vida.

— Me perdoe, pequena. — Azrael fala comigo. Horrorizada, eu me afasto.

Em algum lugar distante, ouço alguém chamar meu nome. Uma voz tão familiar... Mas não consigo reconhece-la. Está muito longe. Também ouço barulho de correntes e gritos de dor. Olho ao redor mas não da ninguém chamando por mim ou arrastando correntes.

Azrael me matou.

O cenário muda.

Eu estou fugindo, com uma flecha enfiada no ombro. Corro desesperadamente. O que está me perseguindo? Eu olho para trás. Azrael está se aproximando com um olhar assassino no rosto. Ele envia uma onda do seu poder sombrio até mim, que me derruba de joelhos.

Elas entram em mim e sinto sangue escorrer dos meus olhos e a dor insuportável de ter todos os meus ossos sendo esmagados junto com a minha alma. Grito e me contorço de dor, me afogando e meu próprio desespero.

O cenário muda.

Agora estou completamente nua em um beco escuro. Há dois homens me agarrando pelos braços, me segurando. Azrael se aproxima de mim, seu olhar é perverso e malicioso. Ele me toca, seios, partes íntimas, coxas. Mas seu toque é diferente. É maldoso e possessivo. Seu toque é como uma ordem, não um pedido.

Como ele pode fazer isso comigo? Fecho os olhos com força.

Eu ainda estou vivendo esse momento terrível, mas levo minha mente para outro lugar. Um lugar calmo e tranquilo.

Só então que percebo que não é um lugar, e sim uma pessoa.

Quando abro os olhos novamente eu estou na cama, deitada nos braços de Azrael. Eu olho para ele e sorrio, e fico feliz quando ele sorri de volta. Toda a dor e sofrimento não tem importância aqui. Com ele.

— Você me motiva a querer mudar, Zahara. — Ele sussurra em meu ouvido. Eu... eu me lembro disso!

Esses momentos ficaram marcados em minha mente, impossíveis de serem apagados. Eles se enraizaram em meu coração mais profundamente que qualquer outro momento que tenha me feito chorar ou sofrer. São muito mais valiosos.

— Zahara, acorde. — Azrael diz para mim enquanto estou em seus braços.

— Mas eu estou acordada. — Digo para ele. E quando o olho há sangue manchando sua garganta e corpo. Há cortes profundos em seu peito. Assustada, eu me sento na cama diante dele — O que houve?! — Indago, sem saber o que fazer. Há sangue negro por toda parte.

Azrael coloca delicadamente sua mão em meu rosto, me acariciando com seu polegar.

— Você precisa despertar, pequena. Estará em apuros se continuar aqui comigo.— Eu não entendo o que ele quer dizer.

— Mas é aqui que eu quero estar, com você Azrael. Você vai me proteger, não vai? — Digo, e ele sorri.

— Claro que vou. Mas pra isso preciso que você acorde. Agora. — Seu semblante fica sério.

Acordar? Acordar de quê? Eu não estou dormindo, estou?

De repente tudo muda outra vez e eu estou em uma sala escura. Um arrepio percorre meu corpo e ouço alguém chamar meu nome outra vez e barulho de correntes. Olho para trás e ali está Azrael, chamando por mim. Eu corro até ele, que está acorrentado em uma parede.

— Azrael? — O chamo, mas parece que sou invisível para ele. Então por que ele chama por mim?

Ele para de chamar e começa e gritar de dor. Um corte se abre em seu peito, como se alguém o estivesse torturando. Onde estou?

Azrael para de gritar e olha para frente, como se alguém falasse com ele. Mas não há mais ninguém aqui. Então uma faca é cravada em sua garganta e eu caio para trás, aterrorizada. Alguém que não estou vendo está matando ele!

Eu preciso salvá-lo mas como vou fazer isso? Eu nem sei onde estamos ou o que está acontecendo.

Olhando ao redor para procurar por alguma arma, vejo algo pequeno e delicado jogado no chão. Eu me aproximo e me abaixo para ver o que é.

É um anel.

O anel de minha mãe, aquele que amplifica qualquer poder mágico. O que ele está fazendo aqui? Eu coloco o anel.

Nada acontece.

Eu volto minha atenção a Azrael. Mas agora eu vejo outra pessoa com ele, um velho com uma grande capa negra e capuz cobrindo sua face enrugada.

E ele está prestes a fincar uma faca no coração de Azrael.