Capítulo 19

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Narrado por Zahara

Eu sequer sei o que pensar depois de tudo o que Azrael me contou. Bom, isso piora tudo. Como seremos capazes de enfrentar a criatura que matou o rei mais poderoso do meu povo, dizimou uma cidade e assumiu o poder do reino mais poderosos do continente? Eu sequer tenho algum tipo de magia!

— Não temos a menor chance. — Sussurro, perdendo as esperanças aos poucos.

— Eu quem deveria dizer isso, não você. Você é a que nunca desiste e sempre tem um plano B na manga. — Azrael fala.

— Como vamos enfrentar Ydris e seu exército de demônios? Somos apenas uma Elfa e um demônio, não centenas! — Digo, realmente tentando pensar em alguma escapatória. Eu preciso me sentar em algum lugar que não seja o dorso de um cavalo para respirar e pensar com calma.

Eu toco meu corcel até a praça da cidade e me sento em um banco. Azarel desce do seu cavalo e se senta ao meu lado.

— Foi uma péssima hora pra você me contar tudo isso. — Falo, pendendo minha cabeça para trás. — Deveria ter me contado antes que era inocente. — Azrael solta um riso de escárnio.

— Não sou inocente. Eu só não matei aquelas pessoas. Você sabe disso. —

— Eu sei. Só quero acreditar que você não é tão ruim assim. Sou ingênua de querer isso Azarel? — Pergunto olhando para ele. — Sou ingênua de sempre tentar ver o lado bom de tudo? — Falo, uma lágrima de frustração escorrendo dos meus olhos.

Como pude achar que logo eu, uma elfa inútil e sem poder algum venceria um rei tirano, mesmo antes de saber que ele pode ser um demônio milenar?

— Não confunda ingenuidade com esperança, Zahara. — Ele fala.

— E qual a diferença? Não sou ingênua por ter à esperança que iria libertar meu povo? De achar que algum dia eu teria um lar para retornar? — Sussurro, apoiando as mãos no rosto. — Eu já passei por tanta coisa Azrael. Nunca me deixei abalar. Mas agora é como se tudo tivesse me atingido de uma só vez. — Digo, mais lágrimas escorrendo dos meus olhos.

Azrael tira minhas mãos de meu rosto e o segura com suas próprias. Ele enxuga minhas lágrimas com seus dedos e olha em meus olhos.

— Este mundo já tirou tudo de você Zahara, tudo. Ainda assim você se manteve de pé. Sua esperança sempre foi um ato de resistência. O motivo de você continuar lutando dia após dia. Vai deixar que tirem isso de você também? — Ele pergunta, e então palavras atingem minha mente.

"E mesmo que eu venha perecer e a morte me leve consigo em seus braços, lutarei até meu último segundo, seja nessa vida ou na próxima, para roubar minha liberdade de volta."

— Se lembra quando disse essas palavras para si mesma? — Azrael indaga. — Quando foi até mim naquele castelo abandonado me prometendo vingança e liberdade? —

— Como eu poderia esquecer? — Falo.

— Então não se esqueça! Não se esqueça do porquê está lutando. Do motivo pelo qual passou anos me procurando, sem sequer saber o que ia encontrar. Não deixe toda sua dor, sua perda e seu sacrifício ter sido em vão. — Azrael fala com convicção.

Uma brisa forte passa por nós, tirando o capuz de Azrael e esvoaçando seus longos cabelos dourados como o pôr do sol. Eu coloco minha mão sobre a sua, o olhando com certa ternura.

— Sabe, até que para alguém que se diz ser tão cruel, você sabe como motivar alguém melhor que eu. — Digo com um pequeno sorriso. — Obrigada. — Murmuro. Azrael é tudo o que tenho, seja ele bom ou mal. E talvez isso não seja tão ruim assim.

— Me agradeça depois, quando eu estiver bebendo seu sangue. — Ele fala e eu reviro os olhos.

— Você tinha que estragar tudo né? — Falo me levantando, escondendo minha risada. — Mas você tem razão. Precisa estar no seu melhor se queremos entrar naquela mansão e enfrentarmos mais demônios como você. — Digo montando em meu cavalo.

— Também há feitiços na estrutura. Provavelmente vamos enfrentar armadilhas e ilusões. — Azrael fala conforme voltamos para o alojamento.

— Acha que vamos conseguir? —

— Vamos tentar, isso já é o bastante. E qual a utilidade desse anel que você quer recuperar? —
— É um amplificador. Talvez se eu usá-lo minha magia se manifeste. — Explico. — Mas mesmo que funcione, não é garantido qual poder eu herdei dos meus pais. O poder da vida e da cura de minha mãe seria maravilhoso, mas na guerra que vamos entrar preciso do poder sobre as tempestades do meu pai. - Falo.

— O que abrange o poder de sua mãe? — Azrael pergunta.

— Bem, eu não tive muito tempo para vê-lo em todos seus aspectos ou ser ensinada sobre muitas coisas sobre ele. Mas sei que minha mãe o usava para curar os feridos e fazer todo tipo de coisa florescer. — Conto, me lembrando da vez que me cortei em um arbusto de rosas e minha mãe curou meus ferimentos.

— E o do seu pai? — Indaga novamente.

— Eu nunca o vi muito em ação, mas foi ensinada sobre ele. Meu pai era capaz de invocar as tempestades do próprio inferno. Seus raios podiam energizar oceanos inteiros. Mas leva tempo para esse poder crescer. Quanto mais for usado maior o tempo para ele aumentar. — Explico, suspirando. — Quando meu pai desenvolveu seus poderes ele tinha apenas 7 anos. Aos 10 ele conseguia fazer os céus tremerem. Aos 15, um mar de tempestade. Aos 20 ele partiu uma montanha com um único raio. — Conto.

— Ele era muito poderoso. — Azrael diz.

— Ele era. —

Lendas de vingança e liberdade - O reino massacradoHikayelerin yaşadığı yer. Şimdi keşfedin