Capítulo 10

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Narrador observador

O peito de Azrael se apertou quando viu Zahara ferida no chão. Mas o que isso significava? Que ele sentiu pena da elfa? Que se importava se ela se ferisse? Azrael não sabe lidar com qualquer tipo de emoção ou sentimento. Não sabe distinguir o sofrimento da raiva, o egoísmo da empatia.

Por isso ele não entende a garota. Mesmo ferida e irritada, ela teve a calma de ensina-lo a guiar seu cavalo. Mesmo querendo arrancar sua cabeça, teve paciência. E quando o cavalo lhe cortou o rosto, ela sorriu para o animal e lhe deu carinho. Mas quando o corcel não o obedeceu, Azrael quis arrancar seu coração.

Ele não foi ensinado a ter sentimento algum. A ser gentil e atencioso. Em seu mundo, a crueldade era sinônimo de sobrevivência. E por isso que ele sentiu a necessidade de proteger sua irmã. Não havia maldade em seu coração. Sem ele, ela morreria pela sua própria luz. Azrael nunca foi capaz de compreender como Mora nasceu assim, tão diferente de todos. Tão diferente dele.

Com o tempo, ele aprendeu a se importar com ela. Mas ainda assim havia perversidade nele, mas em Mora, havia esperança. Quando sua irmã se feria Azrael a obrigava aprender a se defender sozinha. Quando ele se feria, ela cuidava dele.

Está escurecendo

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Está escurecendo. Zahara e Azrael descem de suas montarias para que os animais descansem e eles também.

Azrael observa a elfa treinar a mira com seu arco e flecha. Ela consegue acertar seu alvo repetidas vezes, sem errar. Totalmente concentrada em seu objetivo.

Zahara não conversou mais com ele desde o incidente com o corcel. Disse apenas o necessário. O demônio se acostumou com sua tagarelice, com suas perguntas intermináveis. É estranho para ele o silêncio dela. Como se lhe faltasse algo.

E isso o deixa profundamente irritado. O fato dele ter se acostumado com isso. De ter se acostumado tanto com ela ao ponto de sentir falta de sua voz irritante. Ele sabe que ela está furiosa com ele. Por ter matado aquelas mulheres e por te-la feito se ferir. E Azrael não precisou ler seus pensamentos para deduzir isso.

Ele não tem feito mais isso. Ler a mente de Zahara. Isso a deixa nervosa, então ele parou. Azrael suspira, irritado.

É isso que o incomoda. A elfa está penetrando em sua mente aos poucos e o fazendo sentir a necessidade de agrada-la. E isso faz Azrael ter vontade de mata-la. De colocar as mãos naquele fino pescoço e a sufocar até que ela implore por sua vida.

Ele quer que Zahara volte a falar. Que ela faça o silêncio ir embora como sempre faz. Então Azrael cede à tentação de ler a mente da jovem, para saber como resolver isso.

"Se ele continuar olhando pro meu pescoço dessa forma vou acertar uma flecha em seu peito."

Talvez isso ajude. Se ela descontar sua raiva nele certamente voltará a falar.

Então em um piscar de olhos Azrael se coloca na frente do alvo de Zahara, sendo atingido por uma flecha em seu coração.

— Você enlouqueceu?! Ela diz desesperada, indo até o demônio. Ele permitiu que a flecha lhe perfurasse o peito para que Zahara visse que havia doído. — Por que fez isso Azrael? — Pergunta, retirando a flecha.

Sangue negro começa a escorrer pelo peito dele.

— Não era isso que você queria? Que eu pagasse por te-la ferido e matado aquelas mulheres? — Ele pergunta, em dúvida do porquê isso pareceu não ter funcionado.

— Não é assim que as coisas funcionam. Ferir você não iria curar minhas feridas nem trazê-las de volta a vida. — A princesa diz pressionando o ferimento dele. — E por que você se importa? — pergunta de forma hostil.

— Não me importo. - Não mesmo? Azrael não tem certeza. — Só não gosto do seu silêncio. - Zahara o encara.

— O que quer que eu diga? —

— Me ofenda, mande-me calar a boca ou faça uma de suas perguntas. Apenas diga algo. — Azrael pede. Não, ele implora. O demônio nunca havia implorado nada antes, mas aí está.

Então Zahara deixa escapar um sorriso. Humorado e sincero. Para Azrael. Ela havia sorriso para ele. Por que isso o deixou... feliz? Outra emoção que Azrael nunca havia experimentado. Uma que Zahara o estava proporcionando.

— Se queria levar uma flechada, devia ter me pedido antes. — A princesa diz. — E como uma simples flecha pôde faze-lo sangrar? — Ele dá de ombros.

— Eu permiti que ela me ferisse. — Responde. — Caso contrário apenas ricochetearia em mim. —

— Ok, e quando você vai parar de sangrar? — A elfa pergunta, com preocupação agitando seus olhos azuis acizentados como as ondas do mar.

— Sabia que qualquer arma banhada em sangue de demônio pode matar outros como eu? — Informa.

— Você acabou de me dizer uma forma de mata-lo, Azrael? — Zahara indaga, com um sorrisinho cruel nos lábios. Ela pega uma de suas facas e a suja com o sangue do guerreiro. Em seguida a pressiona em seu pescoço. — Pensando melhor, me parece uma boa ideia faze-lo pagar por ter me machucado mais cedo. — Fala.

— Seria muito desperdício matar alguém tão bonito e útil quanto eu. — Azrael está sorrindo maliciosamente para a princesa.

— Realmente. Vou deixar para mata-lo quando não me for mais útil. Afinal, não é só pra isso que homens servem? Para satisfazerem os desejos de uma mulher? — Provoca. O sorriso de Azrael aumenta ainda mais.

— Devo cobrar agora a dívida que tem comigo por ter espantado aquelas mulheres, Vossa Alteza? — Ele pergunta, sua voz baixa e provocante como a de um amante. — E veremos se estou mesmo enferrujado. — Zahara franze a sobrancelha, perplexa com sua ousadia. Ele acha mesmo que ela aceitaria tal convite?

— Eu passo. — Ela diz e se afasta, guardando a faca em sua cintura. — Se eu fosse você estancaria esse ferimento. — Aconselha e começa a acender uma fogueira.

Lendas de vingança e liberdade - O reino massacradoWhere stories live. Discover now