Capítulo 16

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Narrado por Zahara

Quando chegamos eu deito na cama, ainda vestindo o casaco que Azrael colocou em mim. Ele lava suas mãos ensanguentadas e se deita ao meu lado.

— Me perdoe. — Pede. Eu me viro para ele e olho em seus olhos.

— Você me salva e pede desculpas? — Indago, confusa.

— Eu deveria ter ido com você. Deveria te-la protegido. — Azrael fala com a voz cheia de remorso.

Ele se culpou por não ter conseguido proteger a irmã e agora está fazendo a mesma coisa. Mas ele me considera importante para sequer se culpar?

— Eu pedi que ficasse. A culpa não é sua. - Digo. — Obrigada por ter feito aquilo. -

— Eu deveria ter matado aqueles vermes quando entraram na taverna. Eu li seus pensamentos. Eles começaram a querer violenta-la desde o momento que a viram. - Azrael está carregado de raiva e revolta. - Eles pensaram que você era uma bruxa. Por minha causa. Por isso fizeram aquilo. — Azrael fala e se levanta.

Então era isso que o estava incomodando desde o começo. Por isso agiu daquela forma mais cedo. E ainda sim, ele me obedeceu e não matou aqueles homens, mesmo sabendo o que estavam planejando contra mim.

Azrael não se culpa apenas pelo fato de não ter ido comigo até Lydia. Ele se culpa por não ter os matado antes. Ele se culpa por terem pensado que sou uma bruxa.

— Azrael. — Eu o chamo e me levanto também e vou até ele. Eu estico minha mão até seu belo rosto. — Não importa que por sua causa tiraram conclusões erradas. O que importa é que estava lá por mim quando precisei ser salva. — Falo e ele põe sua mão sobre a minha.

— Apenas retribui o favor. — Ele sussurra e eu não entendo o que ele quis dizer. Retribuiu pelo quê?

— Sabe, já passei por tanta, tanta coisa nos últimos anos. Não é a primeira vez que tentam fazer tal coisa comigo. Mas foi a primeira que não consegui me defender. Eu fiquei com tanto medo...— confesso. — Mas não há lugar para o medo em minha vida. Eu só estava assustada, mas agora já passou. Não vou ficar me lamentando por isso. — falo com um suspiro.

Isso só me atrasaria. Me faria viver constantemente com medo. Por mais que tenha sido horrível passar por isso, vou esquecer. Vou seguir em frente, porque é isso que eu faço. Posso não conseguir me defender sempre e precisar de ajuda algumas vezes, mas isso não faz de mim uma mulher fraca. Me faz cada vez mais forte.

Quando mais tentam me ferir, mais resistente eu fico. Eu sou o tsunami do qual tentam fugir mas acabam sendo engolidos pelas ondas.

— Você deveria comer algo. — Perdi minha fome. Mas a última vez que Azrael se alimentou foi há vários dias, naquela cachoeira.

— Você também Azrael. — Digo, aceitando o que terei de fazer.

Ele não pode matar mais ninguém ou tudo ficará ainda pior. Há notícias correndo sobre nós pela cidade. Provavelmente outras pessoas virão atrás de nós e eu precisarei dele do meu lado. Mas Azrael precisa se alimentar ou vai ficar cada vez mais fraco. No final eu não tenho escolha.

— Não. — Ele fala, se afastando de mim. — Não quero tirar mais nada de você hoje. — Eu me sento na cama. O que deu nele? Antes ele não pensaria duas vezes ou até imploraria por isso. Agora se nega?

— Baba pelo menos um pouco. Preciso que você esteja forte para sobrevivermos nessa cidade. E você fica insuportável quando está com fome. — Falo e Azrael se aproxima de mim.

— Quer mesmo isso?— Pergunta. Que escolha eu tenho?

— Ande logo com isso, preciso dormir. — Digo, suspirando. Estou fisicamente e mentalmente cansada depois de hoje.

Azrael se aproxima de mim como um tigre se aproxima de uma gazela prestes a ser abocanhada. Ele põe uma mão em meu pescoço, segurando-o. Eu o inclino para direita. Azrael aproxima suas presas lentamente e eu fecho meus olhos apenas aguardando a dor. Até que eu a sinto. Mas dessa vez ele não faz questão de me fazer sentir dor. Diferente da última vez ele não está querendo se divertir, apenas querendo saciar a fome.

Azrael estava desesperado por isso. Posso sentir pela forma como ele agarra meu pescoço e como suga meu sangue. Pela forma como ele leva sua outra mão até minha coxa e a aperta até formar um hematoma.

— Você realmente estava com fome...— Digo, o observando de soslaio. Ele não me responde, nem através de pensamentos. Acho que sequer ouviu.

Azrael apenas me joga para trás me deitando na cama, ainda com as presas cravadas em mim. Ele prende minhas mãos com as suas e apoia seus joelhos na cama para que não caia sobre mim. Quando ele me deitou o casaco que estava sobre mim se abriu, deixando meus seios aparecerem novamente e eu não consigo cobri-los por estar presa. Mas Azrael sequer viu que havia feito isso. Ele não se importou.

Ele só está concentrado em sua fome insaciável

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Ele só está concentrado em sua fome insaciável. Seus longos e lisos cabelos dourados estão caídos sobre mim como uma cortina e há uma parte manchada com meu sangue. Azrael descola sua boca da minha garganta e afasta a cabeça. Ele me olha nos olhos, meu sangue escorre de sua boca. Dessa vez parou antes de me deixar quase vazia. Mas posso ver que está se segurando para não abocanhar minha garganta de novo. Ainda estou presa debaixo dele, e Azrael não da sinal de que irá me soltar. Seu olhar é selvagem como o de um predador.

— Seu sangue é como uma droga que quanto mais bebo, mais o desejo. Está me viciando aos poucos. — Ele murmura.

— Você parou mais cedo dessa vez. — Apesar de estar com mais fome do que da última. Azrael dá de ombros.

— Se eu não parasse agora provavelmente a mataria. — Ele fala e me solta, se deitando ao meu lado.

E apesar do que ele me disse, ainda me sinto segura ao seu lado. Mesmo sabendo que é um demônio e que ele poderia me matar. Eu fecho o casaco que estou vestindo novamente.

— Sei que ainda está com fome. — Falo em um bocejo, prestes a me entregar ao sono. — Deixo você beber um pouco mais amanhã. — Com isso eu me viro para o lado e adormeço.

Lendas de vingança e liberdade - O reino massacradoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora