Capítulo 36

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Narrado por Azrael

Eu ouço Zahara gritar de dor do outro lado do vilarejo e me sinto gelar.

Corro o mais rápido que o vento e as sombras podem me levar, uma sensação desesperadora tomando conta de mim. O que me deu na cabeça pra deixar que ela se separar de mim com uma monstruosidade correndo solta por aí? Não vou me perdoar jamais se ela estiver morta, sendo devorada por um monstro.

Pela primeira vez o que vejo me deixa completamente aterrorizado e sinto meu coração parar em meu peito. O lobo está em cima do corpo de Zahara.

Não, isso não pode ser real. Zahara não está morta, não pode estar.

Eu me aproximo do lobo, pronto para lhe arrancar suas vísceras e esmagar seus ossos, mas ele já está morto. Estava tão atordoado em vê-lo em cima de Zahara que sequer notei que não estava mais vivo. Eu o retiro de cima da minha pequena elfa, o jogando para o lado. Há uma adaga cravada em seu peito. Provavelmente cravada ali no último momento de Zahara que está imóvel, seus olhos fechados e sua perna numa posição que não deveria estar. Ela está encharcada de sangue. Eu caio de joelhos diante do seu corpo.

— Zahara, não me abandone. Por favor. — Sussurro, puxando seu corpo contra mim. — Não me deixe sozinho outra vez.—Imploro, sentindo pela primeira vez lágrimas começarem a se formar em meus olhos e meu coração se partir em milhares de pedaços.

— Não pense que se livrará tão fácil de mim grandão. — A ouço dizer em meu ouvido.

Eu afasto minha cabeça de seu ombro para lhe olhar nos olhos. Uma onda de alívio e felicidade me atinge como um tsunami. Não digo nada, apenas a encaro, não acreditando que ela ainda está aqui, viva nos meus braços.

— Eu pensei que... quando vi aquele lobo sobre você... — Não termino de falar, apenas a aperto mais forte contra mim.

— Eu acabei tropeçando e quebrando a perna enquanto fugia dele. Quando pulou em mim, cravei uma adaga em seu coração. Não estava morta, só desmaiei pela falta de ar que seu peso sobre mim causou, me impedindo de respirar. — Ela explica.

— Por um momento pensei que tivesse te perdido, pequena. — Digo, acariciando seu rosto.

Ela alisa meu braço com sua mão, me confortando.

— Se eu morresse você estaria livre do juramento. — Zahara fala. — Mesmo assim veio me salvar o mais rápido que pôde. —

— Morreria em paz sabendo que eu estaria livre para fazer deste mundo um inferno pessoal? — pergunto.

— Apenas pelo fato de ter jogado essa chance fora para me salvar hoje já me diz o suficiente. — Eu sorrio. — Não achei que fosse possível ver lágrimas em seus olhos algum dia. — Ela diz com um sorriso no rosto, mudando de assunto. Sorriso do qual por um momento pensei que nunca mais veria.

— Não são lágrimas. Seu cabelo acabou espetando meus olhos, por isso. Eu não estav... — Sou interrompido com um beijo seu. Tudo em meu ser se acalma e sinto uma imensa tranquilidade tomar conta de mim.

— Eu vou fingir que acreditei nessa desculpa, se é assim que prefere. — Ela diz, sorrindo contra minha boca. — Agora vamos encontrar uma cama confortável naquele vilarejo. Preciso dormir. — Eu a pego no colo e ela solta um gemido de dor com o movimento.

— Está muito feio? — pergunto sobre sua perna, preocupado.

— Não se preocupe, até amanhã ela estará novinha em folha. Sou um elfo, esqueceu? Me curo rápido. —

Então a levo até o vilarejo.

A mulher que estava atrás do balcão naquela taverna que Zahara havia entrado antes de sairmos por aí dando uma de mercenários nos olha chocada

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A mulher que estava atrás do balcão naquela taverna que Zahara havia entrado antes de sairmos por aí dando uma de mercenários nos olha chocada. Provavelmente se perguntando porque há tanto sangue em Zahara e porque eu a estou levando nos braços.

— Oh meu deus! O que houve com a pobrezinha? — A mulher pergunta.

— Ela matou seu monstro. — Digo e jogo algumas moedas no balcão, mais que o necessário para um quarto. — Nos dê um quarto e daqui uns instantes vá buscar as roupas dela para lavar. — Peço. A mulher chocada e certamente incrédula que Zahara, uma jovem de 1,60 matou um lobo imenso, entrega uma chave.

— Certamente vão encontrar o corpo daquele lobo na floresta amanhã e ficarão um pouco surpresos. — Zahara diz conforme subo as escadas com ela.

— Você poderia ter morrido por querer ajudar essas pessoas. — Digo como uma advertência.

— Mas não morri e agora essas pessoas não precisam mais viver com medo. Muito melhor assim, não acha? — Eu suspiro.

— Você é boa demais pra esse mundo, princesa. — Digo por fim.

Lendas de vingança e liberdade - O reino massacradoWhere stories live. Discover now