Lendas de vingança e liberdade - O reino massacrado

Capítulo 6

Narrado por Zahara

Quando terminei de limpar meu ferimento joguei o pano fora.

Suspiro, pensando quando irei me livrar dessa dor e esperando que seja antes de sermos atacados novamente. Porque certamente outros virão. Pensando nisso, fico me perguntando o motivo de quererem a mim.

Por que vieram atrás de mim com toda força somente agora que tenho Azrael comigo? Quem eram aqueles três e como sabiam que ele está livre? Tantas dúvidas...

Eu fecho os olhos por um instante. Tento mentalizar um objetivo, mesmo que seja bobo ou pequeno. Um que esteja ao meu alcance nesse momento.

Eu poderia procurar uma erva analgésica e fazer um chá. Isso aliviaria drasticamente minha dor. E pensando bem eu vi algumas próximo do riacho. Mas antes de fazer qualquer coisa, passo um tempo com os olhos fechados, recuperando minhas energias.

...

Não sei quanto tempo se passou, mas finalmente reuni minhas forças e me levantei. Caminhando com dificuldade devido a dor que lateja a cada passo, alguns metros pareceram quilômetros. Porém encontrei a planta que precisava.

Fico um bom tempo tentando acender uma fogueira e quando finalmente consigo, fervo a água que está em meu cantil e coloco as folhas dentro dele para que a água absorva o necessário para amenizar minha dor. Depois de alguns minutos eu bebo o chá.

Já se passaram horas. Onde está Azrael?

Minha dor está diminuindo aos poucos, graças aos céus. Porém a fome continua comigo, persistente e incômoda.

- Que bom que já acendeu a fogueira. Toma. - Azrael diz atrás de mim, me dando um susto. Ele passa na minha frente e joga em meu colo um coelho, já despelado e pronto para colocar no fogo.

— Por que precisou de tanto tempo para caçar um coelho? — Indago.

— Eu não precisei. Estava analisando o perímetro a frente, vendo se não haverá mais impecilhos. Esse coelho eu achei quando estava voltando. — Explica, se apoiando numa árvore.

— Obrigada, de qualquer forma. — Agradeço. Enquanto espero o coelho assar, me lembro de algo. — Quem eram aqueles? — Pergunto, observando o fogo.

— Demônios inferiores. — Isso não vai ser fácil de lidar. Nem um pouco.

— E por que eles queriam a mim? Quem é o mestre do qual falaram? — Azrael suspira, entediado.

— Saem mais coisas de sua boca além dessas suas perguntas intermináveis? — Indaga, visivelmente irritado.

— Também posso cuspir em você se preferir. — Digo de forma irônica.

— Faça isso e terá que aprender a mastigar sem seus dentes, princesa. — Ele responde, com seu típico sorriso cruel.

Antes que eu possa responde-lo, sinto uma pontada de dor em meu ferimento. Droga, está sangrando. Pelo menos a dor está suportável agora.

Eu me sento apoiada em uma árvore, observando o sol se pôr no horizonte. Com uma vida tão turbulenta, é raro conseguir apreciar os pequenos detalhes da vida. Ouvir os pássaros cantando, o sol nascendo, admirar os cervos da floresta enquanto caminham em bando.

No fundo ainda sou aquela garotinha que nuca pôde crescer. Ou talvez teve que aprender a crescer rápido demais. Sinto falta de quando tudo era mais fácil. Quando meu pai me contava histórias antes de dormir ou quando eu e minha mãe preparávamos os arranjos de flores para o festival da primavera. Quando eu tinha um lar para descansar depois de um dia cheio, uma família para me apoiar.

Eu não tenho ninguém, além de mim mesma. Será que poderei voltar para casa algum dia? Depois de anos procurando, finalmente achei o que meu pai disse que eu precisava. Tudo está só no início ainda.

Quanto sofrimento terei que aguentar até cumprir com meu dever?

O quanto for preciso. Se necessário, suportarei até a mais dolorosa das torturas. Matarei quem for preciso e farei meu melhor para reconquistar meu lar roubado. E mesmo que eu venha perecer e a morte me leve consigo em seus braços, lutarei até meu último segundo, seja nessa vida ou na próxima, para roubar minha liberdade de volta.

Mas até lá, vou me contentar em sobreviver um dia de cada vez. Um passo de cada vez. Um pôr do sol de cada vez.