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Elizabeth continuou ali por mais alguns minutos explicando detalhes da casa e apontando as melhorias que realizou para a minha chegada.

-Acho que não esqueci de nada... -Ela falou ao tocar sua testa ao encarar um ponto fixo, como se estivesse pensando em algo. -Bem... -Suspirou ao balançar a cabeça. -Imagino que deva estar imensamente cansada. -Sorriu. -Iremos deixá-la descansar agora.

-Sim, estou um frangalho! -Suspirei ao sorrir.

-Certo. -Piscou. -Se precisar de qualquer coisa é só ir até minha casa e chamar, não precisa ficar envergonhada, estou falando sério, se precisar de qualquer coisa... É só chamar! -Tornou a repetir e eu sorri com tamanha generosidade.

-Obrigada. -Falei de forma franca, estava satisfeita com aqueles gestos e a primeira impressão que tive de Elizabeth não poderia ser melhor, em minha opinião ela era uma senhora de índole admirável.

-Até mais, querida! -Acenou ao caminhar em direção as escadas, Eva apenas gesticulou ao sorrir de maneira simpática, com certeza seria mais fácil de conquistá-la, pois ela mostrava-se uma garota receptiva e sorridente.

Eu não poderia dizer o mesmo de Jason, ele continuava com aquela feição indecifrável, não sorriu ao menos uma única vez para mim, nem demonstrou qualquer resquício de simpatia ou qualquer afeição, sua presença ali me deixava perturbada e inquieta. E sob um olhar pra lá de desconfiado e pouco acolhedor ele saiu porta a fora, deixando-me só com meus próprios demônios.

-Idiota... -Murmurei ao chutar levemente minha bolsa, que deslizou alguns centímetros por conta do piso polido.

Estava oficialmente sozinha, quero dizer, não apenas naquele ambiente, estava sozinha em todos os sentidos possíveis e agora tudo dependeria apenas de mim, aquela seria minha tão sonhada independência, pois de certo modo comprei minha liberdade através de um preço muito amargo.

Balancei minha cabeça de maneira negativa tentando afastar aquelas pensamentos, olhei em volta e aquele vazio existencial ecoou em minha alma, notei que seria impossível afastar tais lembranças e teria que me conformar em conviver com aqueles fantasmas do meu passado.

-Não seja ridícula, Lydia... -Continuei a murmurar enquanto descia os degraus para trancar a porta, minha mão tateou a parede e logo encontrei o interruptor, desliguei as luzes e logo a escuridão tomou conta do pequeno lance de degraus.

Eu não sei ao certo por quanto tempo fiquei sentada naquele colchão inflável apenas encarando as paredes brancas daquele lugar, foi como se a "ficha" estivesse caindo naquele momento, durante toda a viagem eu estava carregada de adrenalina, não pensei com muita razão nas conseqüências e nem do "depois", apenas agi de maneira impulsiva e nem ao menos cheguei a fazer planos de como agir quando tivesse vivendo aquela nova fase.

Bem, o "agora" havia chegado como o peso de um enorme piano em minhas costas, minha cabeça estava presa em um turbilhão de pensamentos, questionamentos, dúvidas, incertezas. Droga!

Possivelmente o tal "karma" existia e estava atrás de mim para cobrar com juros o sofrimento que causei em minha família e em Andrew.

Aquela não era hora de ser fraca, busquei tanto por independência e finalmente havia conseguido alcançar tal feito, decidi que a Aretha não seria tão enfraquecida quanto sempre fui como Lydia, eu seria uma mulher forte, de pulso firme e de atitudes plausíveis e coerentes. Não iria importar-me com o que os outros pensam, não seria mais a garota de classe e sem voz ativa, a partir daquele momento falaria na lata o que surgisse em minha mente.

Declínio Where stories live. Discover now