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Apesar de estar aparentemente desinteressada aos olhos de todos que me cercavam para os acontecimentos futuros, em meu particular existia grande alvoroço por conta dos meus planos que não envolviam o casamento, tinha tanto o que resolver, tanto o que decidir para que tudo saísse como o planejado. Devo confessar que era imensamente angustiante não ter com quem dividir aqueles segredos, a melancolia de estar vivendo os últimos momentos com aqueles que eu tanto amava era algo devastador, só em pensar na idéia de que eu não veria mais Andrea em meu quarto conversando sobre coisas aleatórias, ou até mesmo do boçal do meu irmão falando o quanto eu era feia ao acordar... Eu realmente detestava o Jonah em alguns momentos, mas com certeza tal chatice faria falta em meu dia-a-dia. Até mesmo da minha mãe, Margot, aquele olhar azulado e na maioria das vezes rígidos ao brigar comigo por conta de alguma conduta que ela julgava ser inadequada fariam imensa falta.

-Onde vai? -Andrea questionou assim que saímos do restaurante e notou que eu estava fazendo o caminho contrario ao estacionamento onde Ryan nos esperava.

-Vou ao banco. -Falei sem olhá-la. Precisava fazer uma retirada relativamente alta, aquela seria provavelmente minha ultima oportunidade, a entrega dos documentos estava marcada para o fim da tarde o que me deixava ainda mais apreensiva. Eu já havia guardado certa quantidade de dinheiro, mas aquilo seria suficiente para pouco mais de dois meses daquela "vida nova", afinal, eu recomeçaria do zero e tinha muito o que providenciar até construir algo concreto.

-O que vai fazer lá, Lydia? -Andrea falou enquanto se esforçava para acompanhar meus passos rápidos.

-Estou pensando em assaltá-lo. -Brinquei com sarcasmo e levei um pequeno puxão de cabelo, o que fez com que eu sorrisse ainda mais.

-Mal criada! -Repreendeu-me ao fechar a cara por alguns segundos. Assim que adentramos no banco, ela foi no sentido dos caixas eletrônicos, mas eu continuei a caminhar até a porta giratória, o que fez com que ela segurasse meu corpo. -O caixa eletrônico fica aqui, Lid. -Apontou.

-Eu sei, Di. -Revirei os olhos. -Eles permitem que eu pegue até mil reais e eu preciso de uma quantia maior, tenho que pegar lá dentro com algum gerente. -Expliquei.

-Por que precisa de dinheiro em espécie? -Questionou parecendo estar desconfiada.

-Tenho que levar pra lua de mel, simples. -Dei com os ombros fingindo indiferença.

-Você não tem seu cartão? Seu pai não vai tirá-lo de você, Lydia. -Piscou algumas vezes. -E além disso, garanto que Andrew dará o que você pedir, você não tem que se preocupar com nada, menina!

-Eu quero levar o meu dinheiro, Andrea... O que tem de errado nisso? Sei que Andrew será um bom marido, mas... -Revirei os olhos ao bufar. -Olha, eu só quero fazer uma retirada da conta, afinal, ela é minha, certo? -Sorri brevemente. -Estou com um pouco de dor de cabeça, passamos por uma farmácia, será que não poderia ir até lá e buscar alguma aspirina? -Falei ao fazer uma careta ao tocar minhas têmporas. -Por favor, Di... -Pedi na tentativa de livrar-me dela provisoriamente.

Mentir para as pessoas que mais amamos era algo cruel, uma sensação de culpa recorrente se instalava em meu peito a cada vez que Andrea comentava sobre suas expectativas, eu só conseguia sorrir e concordar.

[...]-Você está sabendo que o Adam organizou uma despedida de solteiro para o Andrew? -Jonah questionou enquanto assistíamos televisão na sala. -Será amanhã. -Completou ao trocar de canal.

-Rebecca comentou. -Respondi ao olhá-lo. -Você foi convidado?

-Claro, sou o cunhado. -Sorriu ao piscar. -Tenho o dever de ir para ficar de olho nele, para que não apronte nada.

-Onde essa tal despedida será organizada? Em qual boate? -Questionei com um sorriso sarcástico nos lábios e Jonah deu com os ombros e logo desviou o olhar. -Cretino! -Falei ao jogar uma almofada nele. Eu realmente não estava preocupada com essa despedida, afinal, essa seria chance perfeita de iniciar e concluir meu "desaparecimento", Andrew e os amigos estariam preocupados demais com as garotas que Adam com certeza arrumaria como divertimento, meus pais estariam eufóricos e ansiosos para notar que eu não estaria em meu quarto e no final tudo se encaixaria perfeitamente, eu precisava acreditar nisso.

-Andrew não ira fazer nada, ele sabe que tem muito o que perder. -Jonah falou, fazendo com que eu saísse de meu devaneio e voltasse a encará-lo.

-O que quer dizer com isso?

-Calma, não estou falando de interesse em algo material, afinal, o pai dele é sócio igualitário em nossa empresa. Digo... -Ele coçou a nuca, parecia pensar nas próximas palavras. -Estou falando sobre você, Lydia. Andrew é um grande sortudo por tê-la como noiva, muitos queriam estar no lugar dele, sei que nunca digo o quanto te admiro pois a função do irmão caçula é fazer a vida dos mais velhos um verdadeiro inferno e... -Ele suspirou. -Esse é nosso ultimo dia como irmãos que moram na mesma casa, pois amanhã não teremos tempo pra nada e logo você terá sua própria vida, Andrew será sua prioridade. -Enquanto ouvia aquelas palavras do meu irmão foi impossível não sentir um nó se formar em minha garganta, meus olhos rapidamente ficaram embaçados por conta das lagrimas que se formavam para rolar. -Quero dizer que vou sentir imensa saudade sua, Lyd. -Ele sorriu. -E se caso Andrew fizer algo que te desagrade ou te desrespeite, você pode ligar a qualquer hora que eu irei até sua casa e o colocarei no lugar dele! -Concluiu fazendo com que um sorriso triste surgisse em meus lábios.

Declínio Wo Geschichten leben. Entdecke jetzt