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JONAH

Não fazia idéia do que aconteceria nesse reencontro. Estava nervoso e meu corpo denunciava esse meu estado pra lá de ansioso, minhas mãos soavam e tremiam conforme os quilômetros diminuíram. Nunca imaginei estar no meio de tal situação, Lydia parecia outra pessoa nas mensagens que trocamos e o receio de encontrar uma pessoa totalmente diferente da irmã com qual convivi uma vida inteira... Era um medo real.

Dirigi por várias horas e estava totalmente exausto, parei em diversas conveniências para abastecer o carro e me intoxicar de café, enérgicos e diversos inibidores de sono.

Passei por diversas cidades que jamais pensei que conheceria, as vegetações tornaram-se cada vez mais frequentes e os prédios comerciais ficaram escassos. Jamais encontraríamos Lydia em um lugar como aquele caso o destino não interferisse. Foi um verdadeiro milagre.

[...]

Quando cheguei no local no qual havíamos combinado nosso encontro, respirei alivado e fechei os olhos por alguns segundos tentando buscar forças para encontrá-la. Peguei as mochilas que estavam no banco traseiro do carro e antes de desembarcar olhei para o retrovisor e vi o quão destruído eu estava, em todos os sentindos e aspectos. Balancei minha cabeça negativamente enquanto passava as mãos em meu cabelo tentando retornar minha dignidade que havia ficado na metade do caminho.

-É isso... -Murmurei ao sair do carro.

Meus passos tornaram-se lentos e inseguros ao checar cada garota que passava por mim. Fiquei nessa procura por quase vinte minutos e quando estava prestes a achar de Lydia havia me enganado e não estaria ali, por algum sinal divino ou coisa do gênero, a encontrei sentada em um dos bancos da rodoviária. Sua cabeça estava inclinada para frente enquanto ela olhava para baixo e balançava os pés no que parecia ser um gesto de impaciência.

Foi impossível conter meu alívio e alegria ao vê-la tão próxima de mim.

-Finalmente! -Falei ao olhar pra cima agradecendo seja quaisquer que fossem as circunstâncias, entidades, divindades ou carma.

Praticamente corri ao encontro de Lydia e quando ela ergueu a cabeça e me encarou com aquele par de íris tão semelhantes aos da minha mãe, fui incapaz de conter a ansiedade e a puxei pelo braço, abraçando-a fortemente.

-Lyd... -Murmurei extasiado. Ela permaneceu imóvel por alguns segundos e eu juro conseguia sentir seu coração bater de maneira acelerada. -Finalmente de encontrei, Lyd... -Falei ao dar-lhe um beijo no topo da cabeça enquanto a apertava mais ao meu corpo. Esse meu gesto pareceu a comover, pois a mesma envolveu os braços ao redor do meu corpo e segundos depois ouvi um soluço abafado. Ela estava chorando.

Lydia e eu nunca fomos sinônimo de melhores amigos ou irmãos exemplares, muito pelo contrário, brigávamos e nos provocávamos diariamente, discordávamos praticamente de tudo, se ela quisesse ir para um lado, eu consequentemente escolhia ir para o outro... Mas naquele momento em específico, notei o quanto eu amava minha irmã. Eu a queria por perto.

Ficamos estagnados naquele abraço por longos minutos. Nunca pensei que desejaria tanto estar perto da Lydia.

-Você quer comer algo? -Ela questionou assim que nos denvecilhamos e eu sorri com seu zelo de irmã mais velha.

-Quero.

-Então vamos naquela lanchonete ali da frente. -Ela passou por mim enquanto tentava secar as lágrimas que desciam de maneira incessável. Enquanto ela caminhava na minha frente, pude notar a diferença da Lydia que eu costumava conhecer... Seus cabelos agora mantinham um tamanho curto e as roupas deixavam-na totalmente diferente, o jeans justo e escuro juntamente com um moletom da mesma tonalidade faziam com que ela parecesse uma adolescente comum e despreocupada.

-O que tem nessa sacola? -Apontei para o embrulho que ela carregava com cautela.

-Uma bomba. -Ela piscou. -Deixa de ser enxerido, pirralho. -Ela fez um careta e eu sorri com sua implicância.

Assim que nos sentamos frente a frente, Lydia tratou de pegar o cardápio e esconder seu rosto com o mesmo enquanto fingia escolher o que iria comer. Ela estava fugindo da conversa que certamente teríamos.

-Pode escolher qualquer coisa. -Ela falou. -Eu pago. -Continuou. -Claro, qualquer coisa até trinta reais... Agora não estou mais em condições de esbanjar. -Ela abaixou o cardápio e ofereceu o mesmo para mim.

-Certo. -Retruquei ao sorrir.

Lydia mantinha o olhar desconfiado enquanto trazia consigo um sorriso tímido e discreto. Seu olhar sempre mantinha como alvo os talheres, era assim em casa também, assumia uma postura submissa aos que a cercavam-na.

-Eu comprei um bolo pra você. -Ela falou ao tirar um pequeno embrulho da sacola. -Dia 12 foi seu aniversário. -Ela indagou ao pegar uma vela em seu bolso. -Comprei em uma padaria no caminho pra cá. -Lydia mantinha uma feição abatida enquanto tentava manter um sorriso lábios. Ela não estava bem. -É de chocolate com nozes, seu favorito... Di deve ter feito um bolo pra você também, estou certa? -Ela olhou pra mim. -Ela sempre preparava bolos caseiros em nossos aniversários. -Ela sorriu como se estivesse relembrando das cenas.

Declínio Where stories live. Discover now