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LYDIA

Havia tantas coisas à serem ditas, mas o silêncio parecia fazer ainda mais sentido para ambos os lados no momento.

Escondi meu rosto em seu peito enquanto sentia aquele nó característico na garganta, meus dedos apertavam sua jaqueta em um gesto possessivo, não queria soltá-lo, não queria perdEu ê-lo. Jason batia levemente suas mãos em minhas costas parecendo compreender tudo o que se passava em minha mente naquele momento.

Tudo tornou-se incerto em poucos dias e eu não sabia o que aconteceria nas próximas horas e aquilo me deixava ansiosa. Juro que a cada passo que dávamos em direção do carro de Jason sentia como se uma pedra estivesse presa ao meu tornozelo. Me tornei uma bússola quebrada, não existia uma direção correta, todos os lados pareciam errados e desconexos.

[...] -...quer comer alguma coisa? -Jason questinou ao parar em um posto de combustível após alguns horas de estrada. Eu havia dormido por boa parte daquele percurso, não apenas por sono ou cansaço, mas parte de mim estava ansiosa e envergonhada por estar na companhia de Jason naquela situação, eu não fazia idéia do que Jonah havia dito e naquele momento sua expressão e postura tornaram-se uma grande incógnita.

-Quero uma água, por favor. -Falei ao espreguiçar meu corpo enquanto desviava o olhar. Jason não falou mais nada, apenas circulou o carro e foi em direção da conveniência. Peguei meu celular e verifiquei as mensagens que Jonah enviou horas antes... Eu quase não o reconhecia, até mesmo sua voz mudou de entonação, sua escrita parecia mais centrada, aquele garoto de dezessete anos que deixei para trás meses antes parecia não existir mais e em seu lugar um novo Jonah sucedeu diante do cenário caótico que criei involuntariamente.

-Sua água. -Jason surgiu de repente ao lado da janela e entregou uma garrafa de água e outra lata de isotônico.

-Eu não quer... -Ele me interrompeu.

-Você vai beber, Areth... -Jason balançou a cabeça negativamente e bufou. -Lydia. Você vai beber esse isotônico e comer alguma coisa sim. -Ele colocou uma sacola em minhas pernas. -Estamos indo para um hospital ver seu pai... Não queremos que você ao invés de apenas uma visitante, se torne também uma paciente, certo? -Sua entonação parecia tão firme quanto sua postura.

Não rebati.

Não neguei.

O que fiz? Tirei uma das diversas embalagens de lanches que haviam naquela sacola e comi um dos pães recheados sob o olhar atento de Jason que esboçou um breve sorriso ao ver o embrulho vazio muitos depois.

-Lydia? Lydia! -Ao fundo uma voz familiar chamava por mim de maneira insistente.

-Hum... -Balbuciei pouco consciente e segundos depois meu corpo foi balançando de maneira frenética. -O quê? -Bocejei relutante ao abrir meus olhos e dar de cara com Jonah na porta do passageiro. -Jonah! -Indaguei surpresa ao passar aos mãos em meu rosto.

-Você está horrível... -Constatou ao mirar seu olhar em minha direção.

-É, eu realmente já estive em melhor situação. -Rebati ao empurrar seu corpo levemente. -Cadê o Jason? -Questionei ao olhar para os lados em busca dele.

Jonah apontou para a figura inquieta do outro lado da rua que parecia mexer em seu celular enquanto mantinha um cigarro preso entre seus dedos.

-Você está com ele agora, não é? -Jonah questionou subitamente ao notar meu olhar ocioso.

-Cadê meu pai? -Mudei de assunto ao desembarcar do carro.

-Na UTI e a nossa mãe foi em casa para descansar... Você tem algum tempo até que ela volte. -Jonah explicou enquanto tirava o crachá de visitante de seu agasalho e colocava o mesmo em meu moletom. -Você pode entrar para vê-lo e sair sem que ninguém note sua presença, assim como eu havia prometido.

-Certo. -Assenti.

-Você precisa saber que... -Jonah me surpreendeu ao colocar suas mãos meu rosto em uma carícia fraternal. -Ele está diferente da imagem que tem em mente, compreende? Não fique chocada e nem se culpe, ok? -Ele inclinou seu rosto em minha direção e deu-me um beijo casto na testa. Aquele gesto, aquele cuidado era algo novo e estranho, não costumávamos demonstrar afeto daquela maneira.

-Você está tão crescido, pirralho. -Constatei ao empurra-lo. -E o que quer dizer com isso? Não fique brincando com essas coisas. -Falei em negação. -Ele vai melhorar e vai voltar com tudo e certamente tomará seu poder na empresa. -Fingi zombar ao forçar um sorriso. Eu compreendia o quão grave aquela situação parecia ser, mas não queria aceitar as informações e a realidade na qual fui inserida novamente. -Está tudo bem, tudo vai ficar bem, não é? Ele é forte, sempre foi. Ele é o mais forte entre nós. -Completei ao tocar em minha garganta. -Eu vou concertar tudo, ok? -Toquei em seu ombro e apertei o mesmo.

-Lyd... -Jonah murmurou com uma expressão preocupada ao encarar-me de maneira atenta parecendo notar meu estado. -Você precisa de ajuda tanto quanto o nosso pai... -Seus dedos  tocaram meu cabelo. -Também te negligenciamos e eu sinto tanto por isso, Lyd. -Concluiu ao puxar-me para sua direção e envolver seus braços ao redor do meu corpo. -Eu realmente sinto muito, Lydia.

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