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LYDIA

-Não se incomode...

-Não é incomodo! –Falei ao erguer meu corpo e ir em sua direção, ela recuou por alguns instantes num gesto infantil, digo, ela virou seu corpo para que eu não pegasse as coisas de sua mão. Tal gesto fez com que eu também recuasse, não esperava tal gesto de uma senhora e por motivo tão torpe. –Ah, desculpe, eu não quis... –Pisquei algumas vezes. –Desculpe. –Pedi mais uma vez ao voltar a sentar. Ela pareceu ficar constrangida pelo próprio gesto, tanto que balançou a cabeça negativamente e murmurou algo, parecendo recriminar a própria ação.

-Eu que devo pedir desculpas... –Sorriu brevemente. –Eu tenho tanto zelo pelo Jason que as vezes, bem, é um ciúme materno, típico de uma mãe de filho único e... Jason nunca me apresentou e nem mesmo trouxe uma garota aqui antes.

-Eu compreendo sua atitude, Nadinne. –Falei contrariada.

-Peço desculpas mais uma vez. –Falou ao entregar a xícara. –Leve pra ele sim, tenho certeza que ele ficará mais contente com sua presença lá.

-Eu... –Desviei o olhar por alguns instantes. –Eu acho que é melhor você mesmo levar, eu não quis me intrometer. –Falei ao forçar um sorriso.

-Leve, por favor! –Pediu ao tocar em minhas mãos. Apenas assenti ao pegar as coisas de suas mãos e tentar equilibrá-las. –Ah, posso te pedir um pequeno favor?

-Claro.

-Não fale nada disso com o Jason, foi apenas algo irrelevante, não é algo que acrescente... –Pediu e eu novamente assenti.

-Sem problemas. –Falei afim de acabar com aquela situação.

Quando parei diante da porta da sala de Jason, suspirei pesadamente e bati algumas vezes na porta.

-Posso entrar? –Pedi.

-Claro, Aretha. –Jason se adiantou para abrir a porta e se surpreendeu ao ver o que eu levava comigo. –Acho que meu dia vai ser bom! –Comentou num tom exausto ao pegar a xícara e o prato da minha mão com cautela.

-Resolveu o problema? –Questionei ao fechar a porta e escorar meu corpo na mesma.

-Não... –Balançou sua cabeça negativamente ao sentar-se na cadeira. Sua mesa estava repleta de pastas e arquivos, me aproximei da mesma e vi os projetos com plantas das construções, meu pai e Jonah viviam levando documentos como aqueles pra casa e viravam a noite estudando resoluções e revisando as fórmulas. –Se interessa por plantas? –Brincou ao notar meu interesse.

-Acho que deve ser bem difícil... –Sorri.

-Realmente. –Jason mantinha um olhar estranho sobre mim, quero dizer, não era algo malicioso ou algo do gênero, era um olhar de “cuidado” se assim posso dizer.

Ele sorria com meus gestos e com isso seu olhar também ganhava mais vida, era a primeira vez que notava suas ações ficarem tão mais leves. Era recíproco. Eu também gostava de estar em sua companhia.

-Só de olhar tantos números, letras e contas eu já quero desmaiar. –Zombei. –Nunca gostei de chegar perto de plantas como essas... –Comentei como se pensasse alto.

-Você já teve contato com isso?

-Hum? –Murmurei confusa ao encará-lo.

-Você... –Ele sorriu. –Você disse que nunca gostou de lidar com essas planilhas e projetos... –Me encarou. –Já teve contato com isso? –Questionou com estranheza.

-Ah... –Balancei minha cabeça negativamente enquanto circulava a mesa. –Não, eu só fiz uma suposição. –Revirei os olhos fingindo indiferença. –Lidar com as fórmulas, números, letras... Parece ser um porre. –Proferi ao pegar a xícara de suas mãos.

Eu não poderia dar uma mancada como aquela novamente, precisava esquecer de uma vez por todas minha outra realidade, Lydia não existia mais, e com desaparecimento levou toda sua família para o mesmo caminho de abstração num provável buraco negro.

Ela não existia mais.

Jonah não existia mais.

Seus pais não existiam mais.

Seu noivo não existia mais.

Afinal, quem é Lydia Grier mesmo? Eu não a conheço. Eu não a conheço! Acho que jamais cheguei a conhecê-la.

-É realmente bem estressante. –Concordou. –Mas alguém tem que fazer, não é? –Ri com aquele comentário.

-É, prefiro ficar com minhas mesas e clientes bêbados cantarolando musicas antigas mesmo. –Suspirei. –E falando nisso... –Olhei para o relógio na parede. –Preciso passar em casa e jogar uma água no corpo, daqui a pouco tenho que cumprir meu turno.

-Você virou a noite. –Jason falou ao caminhar até mim. –Não está cansada?

-Se eu deitar com certeza vou apagar e acordar somente amanhã, mas tenho obrigações a cumprir. –Lamentei ao sorrir brevemente.

Jason parou diante de mim e passou seus braços ao redor do meu corpo, abraçando minha cintura fortemente numa caricia enquanto impulsionava meu corpo para trás, fazendo com que caminhássemos até a parede.

–Jason, é seu local de trabalho e... –Ele me interrompeu.

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