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JONAH

-Andrew ligou algumas vezes. –Andrea falou ao respirar pesadamente. –Em pensar que minha menina deveria estar nesse momento aproveitando a lua de mel... –Seu peito estava arfando e suas mãos ficaram trêmulas. –Eu estou pedindo tanto a Deus para que minha filha esteja em segurança, que nenhum mal caia sobre ela... –Falou com a voz falha. –Não sei se ela está bem, se estão alimentando ela... –Andrea abaixou a cabeça e logo ouvi os soluços. –Minha menininha...

-Andrea... –Ryan lamentou ao tentar se aproximar da amiga de longa data para consolá-la, mas ela saiu da cozinha em passos rápidos, possivelmente não queria que a víssemos chorando.

-Vou levar um pedaço desse bolo para o meu pai. –Falei com Samira, a cozinheira da casa.

-Faça isso mesmo, Jon... –Seu tom de voz era baixo e cabisbaixo, ela entrou-me um prato juntamente com um talher. Afaguei seus cabelos numa rápida carícia, todos estavam inconsoláveis, mas aquele não era o momento de me tornar uma pessoa fechada e desumana com o sofrimento alheio.

Cortei um grande pedaço de bolo e um copo de suco, coloquei tudo em uma bandeja e subi de maneira cautelosa, primeiro passei no quarto dos meus pais e vi que minha mãe dormia, minha avó estava ao seu lado, velando o corpo da filha com uma expressão tristonha.

-Alguma notícia? –Sussurrou assim que coloquei a cabeça dentro do quarto.

-Não... –Respondi ao balançar a cabeça e ela assentiu ao olhar para baixo. Fiquei encarando um pouco a figura da minha mãe, e depois abandonei o espaço, sabia exatamente onde encontrar meu pai. E como o esperado ele estava no quarto de Lydia, sentando em sua cama segurando uma foto, meu pai estava frágil, e jamais pensei que encontraria tal sentimento em seu peito.

-Oi, pai. –Falei ao sorrir de maneira fraca enquanto fechava a porta atrás de mim. –Trouxe esse bolo para o senhor. –Coloquei a bandeja na escrivaninha e logo me acomodei ao seu lado.

-Não estou com fome, Jonah. –Falou após alguns minutos de silencio.

-O senhor precisa comer alguma coisa, caso contrário logo ficará debilitado e... –Fui interrompido.

-E quanto a Lydia? Será que estão dando o comer para a sua irmã? –Ele falou num tom ríspido.

-Você não precisa se culpar por isso pai, foi uma fatalidade. Não havia como impedir. –Tentei argumentar.

-Eu falhei com sua irmã, Jonah. –Ele me encarou. –Minha tarefa era protegê-la e olha onde estamos? Não entraram em contanto, eu tive que ligar e o delegado está tirando nossas esperanças, na ultima vez que liguei na delegacia, ele falou que estão procurando nas proximidades daquele terreno onde ela desapareceu, falou que estão procurando pelo corpo. Pelo corpo. –Repetiu num tom raivoso. –Do que adianta o dinheiro que temos?

-Pai...

-Sabe, Jonah... –Ele indagou ao endireitar seus óculos. –Ser homem não é algo fácil, ainda mais quando se torna um chefe de família. Quando me casei com sua mãe, meses depois ela anunciou que teríamos um filho, fiquei imensamente contente, pois no meu ponto de vista era a única coisa que nos faltava para que a felicidade fosse completa. –Ele sorriu como se lembrasse da historia. –E meses depois a Lydia chegou... Nunca pensei que veria algo tão pequeno, delicado e indefeso. Quando segurei sua irmã pela primeira vez em meu colo, jurei que nunca deixaria que nada a machucasse, faria o possível e o impossível para vê-la contente e realizada. Lydia sempre foi uma jovem bonita, e eu sabia que logo viriam os marmanjos, consegui expulsar alguns da porta de casa, outros eu intimidei na saída do colégio. É a função do pai odiar todos os garotos que tentam se aproximar. –E mesmo sem ter a intenção de sorrir naquele momento, foi impossível esconder o resquício de felicidade ao ouvir aquilo. –Mas como nada é como queremos, logo o Andrew apareceu e Lydia parecia gostar dele, e naquele momento percebi que não poderia mais afastá-lo, ela estava virando uma mulher e eu não poderia fazer nada além de assistir aquilo acontecer, mesmo nos bastidores eu tentava ampará-la e vê-la bem. Andrew viu algo na sua irmã, Jonah, viu o quão doce ela era, conseguiu ver algo além da beleza dela e não foi burro, tratou de presenteá-la com um anel de compromisso e novamente eu estava de mãos atadas, lógico que eu o ameacei de maneira indireta, pedi para que ele cuidasse bem dela e não faltasse com respeito. –Ele tocou na foto com as pontas dos dedos, parecendo acariciar o retrato de Lydia. –Eu falhei com você, com sua mãe e principalmente com a Lydia, não consegui protegê-la do mal que nos cerca, Jonah.

-Tenho certeza de que ela está bem, pai. –Falei mesmo não acreditando em minhas palavras. –O senhor precisa comer alguma coisa. –Pedi.

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