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LYDIA

-As lojas maiores ficam no centro da cidade. –Eva falou ao rir. –Pelo visto você não está acostumada com cidades minúsculas como Calum. São poucos habitantes, conseqüentemente não existem muitas lojas por aqui. Você veio de cidade grande, não é mesmo?

-Mais ou menos. –Menti ao morder outro pedaço do lanche.

-Olha, se quiser eu pego o carro do meu pai e podemos ir no final de semana até o centro da cidade, posso tentar te ajudar nas escolhas, auxiliar onde existem os melhores moveis, preços. O pessoal costuma ser bem sacana com quem é de fora. –Explicou.

-Seria ótimo, Eva. –Sorri totalmente agradecida. –Você está sendo muito gentil comigo, eu não sei nem como agradecer... –Toquei em sua mão, Eva pareceu ficar surpresa com gesto abrupto, mas não recuou, pelo contrário, segurou minha mão de maneira firme enquanto sorria de maneira carinhosa para mim. Naquele momento percebi que poderíamos construir um laço forte de amizade, eu precisava daquilo.

-Eva! –O outro garoto que trabalhava ali apareceu ao lado da mesa segurando vários papeis soltos. –Sei que é seu horário de almoço, mas como a Rachel não veio hoje. –Ele entrou alguns pedidos para ela. –Não estou dando conta sozinho e você sabe o quanto eles... –Ele gesticulou para a mesa ao fundo e eu segui com o olhar, só então voltei a lembrar da existência dos homens que Eva denominou como problemáticos. –Eles me deixam desconcertado. –Falou meio sem jeito. Seu nome era Ivan, sua aparência não era uma das coisas mais atraentes do mundo, era incrivelmente magro, sua pele era clara como uma folha de papel sulfite e para fechar o conjunto da obra, usava uma par de óculos incrivelmente grandes e desproporcional para seu rosto. O típico garoto que servia como combustível para zombaria.

-Certo, Ivan. –Eva suspirou pesadamente ao erguer o corpo. –Nos falamos depois, Aretha. –Ela sorriu enquanto recolhia o prato, Ivan pegou o copo e saiu em passos rápidos. –Ivan tem certo receio deles, um medo bobo. –Ela fez uma careta.

-Tudo bem. –Assenti ao sorrir. –Pode ir tranqüila, vou terminar de comer. –Falei. –Gostei muito da companhia.

-Eu também gostei. –Ela acenou ao afastar-se e caminhar até a mesa onde estavam sentados o motivo de nosso atrito minutos antes.

-Olá, rapazes. –Ela falou com certa implicância ao pegar seu bloco. –O que vão querer hoje?

Suspirei pesadamente e voltei minha atenção para o lanche quase intacto, senti uma enorme saudade das refeições saudáveis que Samira a nossa cozinha preparava. Na maioria das vezes eu torcia o nariz, mas no fim sempre pagava a língua e repetia, o sabor de suas receitas eram inconfundíveis, eu adorava.

Mesmo sem virar meu corpo nenhuma vez para “espiar” o que acontecia em minha volta, senti o olhar da mesa ao fundo pesar sobre mim, tentei comer o mais rápido possível, chegando até mesmo a engasgar ao solver alguns goles de suco.

Enfiei as mãos em meu bolso e retirei de lá algumas notas, antes que eu pudesse chamar pela Eva ou pelo outro garoto, vi que a mesma passou por mim equilibrando, ou pelo menos tentando, levar algumas bandejas carregadas, eu jamais entenderia aquele “dom” de levar duas bandejas abarrotadas de comida sem derrubar uma gota sequer de refrigerante, assisti ela fazer aquilo inúmeras vezes e em todas, ela obteve êxito em conseguir entregar os pedidos, mas notei que ela teve certa dificuldade em especial com aquela, ela movia o corpo pra lá e pra cá enquanto olhava concentrada para a bandeja fazendo quase um malabarismo para não derrubar nada.

-Ei, eu te ajudo! –Falei ao escorregar meu corpo pelo banco de couro e erguer o mesmo rapidamente. –Isso... –Falei enquanto tentava pegar as garrafas de cervejas, Eva mirou seu olhar esverdeado em minha direção e sorriu de maneira agradecida assim que pode respirar de maneira tranqüila ao sair daquela pequena tensão. –Qual mesa? –Falei ao olhar para os lados, um dos homens que estava da mesa ao fundo ergueu a mão e gesticulou.

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