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JONAH

Estávamos vivendo em uma realidade paralela e deturpada, nos recusávamos a pensar em qualquer possibilidade que visasse notícias ruins sobre o desaparecimento da Lydia.

Mas devo confessar que enquanto esperávamos por informações ao lado do telefone pacientemente, a chama de esperança que existia em meu coração estava cada vez mais fraca e a esperança se perdia a cada noite em que virávamos em claro. O delegado responsável pelo caso falou de uma maneira “não oficial” que em situações como aquela onde o contato dos possíveis criminosos não acontecia em pelo menos 48 horas, não deveríamos ficar muito confiantes com um desfecho feliz, segundo ele, precisávamos nos manter firmes para o caso de receber um telefonema onde informariam que encontraram um corpo que precisava ser reconhecido por algum familiar.

Aquelas conversas eram assombrosas, eu não vivia em nenhuma bolha, sabia exatamente o grau de violência atual, mas jamais imagina que aconteceria isso em minha família, logo com a minha irmã.

-Fiz esse lanche pra você, Jonah. –Andrea entregou um embrulho para mim assim que adentrei na cozinha onde ela estava reunida com algumas pessoas que trabalhavam na casa, todos estavam muito abalados pois conheciam Lydia há anos, praticamente criaram-na. –Você precisa comer um pouco. –Indagou com sua voz embargada.

Nossa casa estava “destruída”, tudo se dissipou, estávamos desolados, e no meio de toda essa tragédia quem assumiu as rédeas da situação foi justamente a Andrea, minha mãe bem que tentou manter-se firme, mas no segundo dia de procura ela praticamente desabou em um choro desesperador e precisou ser medicada, estava a base de medicamentos pesados e vivia a maior parte do dia em um “outro mundo”.

Bem, meu pai... Meu pai estava num estado preocupante, jamais pensei que meu pai entraria naquele grau de loucura, ele cismou que possuía uma parcela de culpa no desaparecimento de Lydia, pois em sua concepção, ele não havia cumprido com seu papel de pai e não a protegeu devidamente. Ele não estava indo ao trabalho, não estava se alimentando e se recusava a comer, vivia vagando pela casa com o telefone na mão, hora ou outra ele entrava no quarto da Lydia e permanecia ali por horas.

Os sócios estavam preocupados, assim como o resto da família, meu pai nunca mostrou fraqueza em momento algum, sempre foi impiedoso nos negócios, não sentia pena e nem hesitava na hora de tomar alguma decisão, e aquele comportamento se estendia em casa, sempre agiu com pulso firme em nossa criação, mantendo o amor fraterno é claro, mas sempre houveram cobranças e broncas.

Lydia definitivamente era nosso alicerce, mesmo que ela não soubesse de tal coisa, talvez nem mesmo nos sabíamos disso, até o momento em que ela foi arrancada de uma maneira tão prematura e inexplicável.

-Meu pai comeu alguma coisa? –Questionei ao revirar o lanche.

-Não. –Ela suspirou. Andrea estava completamente desolada, em sua expressão eu conseguia enxergar a dor, ela tratava Lydia como a filha que nunca teve, o amor que nutria pela minha irmã era algo inexplicável, ou como ela mesmo dizia: “algo da alma”. E eu realmente não sabia de onde ela estava tirando aquela força para manter-se firme diante aquela avalanche. –Sua mãe comeu uma fatia de bolo depois de muito custo, sua avó teve que empurrar.

-Estou preocupado com meu pai.

-Eu também. –Ela fungou. –O seu tio disse que se ele continuar indo por esse caminho, logo desenvolverá uma doença, ele está tendo crises de ansiedade e pra isso virar uma depressão não vai demorar. –Lamentou ao enxugar as lágrimas em um guardanapo.

-Jamais imaginei meu pai assim. –Bufei ao empurrar o prato para longe.

-Você precisa ser forte, garoto. –Ryan aproximou-se de mim ao tocar meu ombro num gesto afetivo. –Seus pais precisam de você. –Falou de maneira firme.

-Eu sei. –Falei ao levantar e caminhar até o balcão.

Declínio Nơi câu chuyện tồn tại. Hãy khám phá bây giờ