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LYDIA

-Está ótimo pra mim, Holt. -Falou ao oferecer um sorriso meio de canto. Suspirei profundamente ao devolver um sorriso carregado de nervosismo.

Tudo era tão novo e ao mesmo tempo assustador, pensar que aquela seria a primeira vez que eu dividiria o mesmo quarto com um homem durante uma noite inteira... Realmente, viver como a Aretha era simplesmente bem complexo e intenso, eu estava experimentando situações e sentimentos que jamais pensei conhecer em vida.

Viver como Lydia por dezenove anos havia me deixado limitada, como se eu morasse em um aquário caro e pequeno onde as possibilidades eram poucas apesar de muitos recursos. Me tornei aquilo o que esperavam de mim, uma garota medrosa e retraida, desde muito nova meus pais me limitaram a viver de uma maneira escassa de exageros e reações.
Mas eu não queria mais ser assim! Pela primeira vez eu estava em um mar desconhecido e apesar de estar totalmente amedrontada com o meu destino, era a primeira vez que me sentia verdadeiramente viva. Gostava daquela sensação que Jason me proporcionava e minha nova ambição de vida seria me sentir auto-suficiente. Apesar de gostar do Jason, não queria usa-lo como muleta para minhas frustações.

-Preciso tomar um banho. -Ele falou ao deixar as peças sobre a cômoda.

-Hum? -Pesquei algumas vezes ao despertar daqueles inúmeros questionamentos. -Vai ter que ir pra casa? -Falei num tom baixo com certa frustração.

-Tenho algumas roupas na mochila... -Ele apontou pra baixo. -Estão lá no meu carro. -Concluiu. Aquilo me causou estranheza e fui incapaz de disfarçar minha feição, ao perceber Jason balançou os braços rapidamente de uma maneira inquieta. -Não! Não me interprete mal... Eu não vim aqui com segundas intenções. Estava realmente preocupado e apenas passei pra ver se estava bem. -Ele apoiou seu corpo na cômoda agora de uma maneira mais relaxada ao notar que eu sorria de seu nervosismo. -Afinal, eu trabalho em uma construtora e algumas vezes tenho que fazer visitas em obras ou ir até algum cliente... Trabalho braçal... É o preço alto que pago por ser o dono de todo esse majestoso Império! -Jason abriu os braços enquanto sorria de maneira divertida, zombando daquela situação.

-Que sorte a minha então! -Brinquei ao secar minhas mãos em um pano de prato. -Você estacionou o carro na porta da sua avó? -Falei ao caminhar até ele. -Ela vai perceber... -Jason me interrompeu.

-E você acha que ela já não sabe? -Jason sorrou de manaira  presunçosa. -Pensei que fosse mais esperta, Holt! -Ele balançou a cabeça negativamente. -Minha avó é observadora e já recebi um vasto sermão do quão paciente e cavalheiro tenho que ser com você, caso contrário... Certamente ela vai vir atrás de mim com alguma vasoura ou algo do gênero, não me lembro muito bem do instrumento que ela usou para me ameaçar. -Falou ao bufar. Foi impossível não rir daquele desabafo.
Elizabeth era uma senhora com virtudes invejáveis.

-Bom, pelo menos tenho alguém velando pela minha segurança. -Sorri. -Fico mais aliviada agora. -Pesquei.

-Ela deveria ameaçar você, visto que o neto dela sou eu... Mas tudo bem, serei um homem honrado e com limites. -Ele fez um reverência ao passar por mim trazendo consigo um sorriso debochado.

-Palhaço! -Bati nele com o pano de prato enquanto observava o mesmo descer as escadas em passos rápidos. Ouvir o riso descontraído de Jason ecoar pela casa era uma música pra lá de confortante. -Espero que estajam todos bem... -Murmurei ao tocar em meu peito. -Tenho que esquecer de todos vocês a partir de hoje... -Continuei enquanto pensava na imagem de Jonah sorrindo. -Só assim vou conseguir seguir minha vida totalmente. -Senti uma lágrima solitária descer pela minha face em um choro silencioso. -Espero que me perdoem e também me esqueçam em algum momento. -Suspirei ao balançar minha cabeça tentando afastar aquelas imagens.

[...]

-Deixei a toalha na maçaneta. -Falei ao apoiar minhas mãos na porta. O vapor quente escapava pelos vãos enquanto ouvia Jason transitar pelo banheiro.

-Certo, Holt. -Jason falou alto do outro lado e eu sorri.

Minutos depois Jason saiu do banheiro descalço, ele passava a toalha em seu cabelo de uma maneira rápida enquanto mantinha em seu rosto uma feição serena e despreocupada, suas bochechas estavam coradas e ele aparentava ser alguns anos mais jovem. Ele usava uma calca de moletom preta e uma camiseta da mesma cor.

-Fiz uma cama pra você... -Apontei para uma cama improvisada que preparei usando alguns cobertores e travesseiros. -Eu testei e ficou bem macio. -Conclui enquanto cobria meu corpo com uma manta rosa que Eva havia me presenteado dias antes.
Jason olhou para a cama e assentiu ao sorrir.

-Ok, Holt... -Ele caminhou até a mesma e sentou-se. -Amanhã vou mandar alguém lá da construtora vir e colocar a porta no lugar. A televisão eu posso levar para um amigo que tem uma assistência perto do centro, já falei com ele... -Jason falava enquanto mantinha os olhos fixos em seu celular, ele parecia falar com alguém e continuou assim por alguns minutos. Talvez fosse alguém da empresa, um amigo ou cliente... Andrew, Jonah e meu pai faziam o mesmo antes de deitar para enfim dormirem.

-Está bem... -Concordei ao deitar. -Pode apagar as luzes, por favor? -Pedi ao virar meu corpo para sua direção.

-Certo. -Falou ao mirar seu olhar em mim, ele ergueu o corpo em um gesto rápido e caminhou até o interruptor, desligando o mesmo segundos depois. Jason ligou o abajur que ficava na mesa de cabeceira ao lado da minha cama e ao passar por mim fui incapaz de controlar meus gestos, segurei em seu pulso o impedindo de voltar pra seu "projeto de cama". -O que foi? -Ele falou ao me olhar de cima. Virei meu corpo e o encarei de volta.

-Prefiro que deite aqui comigo. -Falei ao desviar o olhar. Estava constrangida, no entanto, eu queria tê-lo por perto. Quero dizer, ainda mais perto. -A cama... -Apontei para o chão. -A cama que fiz pra você pode te deixar com dores e... -Suspirei. -Prefiro que deite aqui comigo... Pode ser?

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