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JONAH

-Deixei que ficassem sozinhos no quarto. -Expliquei. Mas antes que eu pudesse falar ou fazer, Jason virou-se dando as costas pra mim impossibilitado quaisquer chances de diálogo. Apertei minhas mãos e tentei conter inúmeras ofensas presas em minha garganta. Que cara arrogante! -Eu realmente esperava que pudéssemos conversar e alinhar alguns pontos de extrema importância. -Falei a contragosto. Lydia aparentemente possuía grande apreço por ele e por conta disso, precisava engolir meu orgulho. -Pelo bem de Lydia. -Completei e só então ele mirou sua atenção em mim.

-Pelo bem dela? -Retrucou ao sorrir com sarcasmo. -Aretha... -Ele balançou a cabeça. -Lydia. A Lydia não está bem, cara. -Seu tom de voz continha fúria e revolta. -Não vê que ela está prestes a desmoronar? -Indagou ao apontar para a direção do hospital.

Tais palavras fizeram com que eu sentisse vergonha e culpa. Tudo pioraria para Lydia em poucos minutos e parte desse sofrimento seria em decorrência ao meu planejamento.

-Eu sei disso. -Respondi ao desviar o olhar. -Mas eu precisava salvar meu pai. -Passei as mãos em minha nuca.

-Um peso e duas medidas? -Jason questionou mantendo sua postura agressiva.

-Sei que aos seus olhos somos grandes vilões e pelo visto não conseguirei convencê-lo do contrário nesse momento. Tudo bem, eu aceito esse papel. -Assenti ao encara-lo de maneira firme. -Não vamos discutir sobre culpa ou mérito, Jason... Quero ajudar minha irmã e preciso da sua ajuda, certo? Serei franco com você... Em poucos minutos minha mãe vai chegar e essa situação vai piorar pra todos, em especial para a Lydia.  Pesquisei sobre você e vi que possui uma construtora, é uma empresa pequena mas de muito potencial pelo que eu soube... -Jason continuava na defensiva. Sua feição não era amistosa por mais que tentasse agir de maneira amigável. Parecia prever quais seriam as próximas palavras e tal gesto me deixava apreensivo.

-E daí?

-Serei direto. -Revirei os olhos. Ser um cara político naquela situação não estava ajudando. -Você é um bom engenheiro e em nossa Construtora há inúmeros projetos para serem estudados... Pensei que talvez seja vantajoso para ambas as partes que você ficasse aqui por algum tempo. Análise os projetos e assuma os que forem adequados para seu negócio, te darei essa autonomia... Existem muitos profissionais de grande importância e com seu potencial pode fazer muitos contatos, adquirir experiência e afins. Pense nisso como um intercâmbio, Jason. Estará ajudando Lydia, nossa empresa e si mesmo, ninguém perderá nada com isso. -Estava agitado e ansioso pela resposta de Jason.

Formulei esse plano antes de conhecê-lo e fui ingênuo ao pensar que seria fácil, por telefone ele aparentava ser um homem introvertido e de personalidade difícil, entretanto, não imaginava estar diante de uma pessoa que me enxergava como um anticristo.

-Vai responder ou apenas me socar? Quero me preparar... -Ousei questiona-lo e pela primeira vez vi um resquício de simpatia em sua face.

-Sua irmã tem o senso de humor semelhante ao seu. -Constatou ao balançar a cabeça. -Ambos são ruins.

Antes que eu pudesse respondê-lo, observei de soslaio o carro da minha mãe adentrando no estacionamento do hospital.

-Minha mãe chegou... -Murmurei. -Precisamos ir. -Indaguei ao atravessar a rua em passos rápidos.

-Filho? -Minha mãe levantou-se apreensiva. -Aconteceu algo? Pedi para que Andrea fosse até a recepção em busca do boletim médico ou... -Ela inclinou-se para o lado e olhou para trás de mim. -Quem é esse, Jonah? -Olhou de maneira curiosa para Jason que permaneceu parado como uma estátua viva.

-Ah... Esse é o Jason! Um amigo que fiz através de um grupo de engenharia... Ele tem muita experiência e por isso pedi pra que viesse me ajudar com alguns projetos. -Fui até o Jason e o abracei de lado colocando minhas mãos em seu ombro num gesto fraternal, como se fôssemos grandes amigos. Ele fez menção de  se afastar, olhou primeiramente para minhas mãos e depois direcionou um olhar extremamente raivoso em minha direção. Senti receio e temi pela minha integridade, mas permaneci firme enquanto o puxava para mais perto. -Essa é minha mãe. Margot. -Apontei para a figura loira de olhar afiado e postura hesitante.

-É um prazer conhecê-lo, Jason! -Indagou ao simular simpatia. Jason apenas acenou com a cabeça e ofereceu um sorriso mecânico.

-Senhora... -Andrea apareceu no corredor totalmente afobada. -As enfermeiras disseram que não há novidades e ele ainda não acordou. -Explicou.

-Mãe... -Falei num tom mais baixo ao afastar-me de Jason e ir em sua direção. -Preciso contar algo e... -Não consegui terminar minha frase, pois o som da porta de um dos leitos sendo fechada fez com que todos olhássemos para o lado.

Minha mãe prendeu o ar parecendo ter recebido um forte golpe enquanto seus olhos duplicaram de tamanho.

-Lyd! -Andrea balbuciou estupefata.

Lydia permaneceu estagnada ao lado da porta enquanto mantinha uma postura receosa, seus ombros caídos e cabeça baixa demonstravam sua vergonha.

Andrea correu até a minha irmã e abraçou Lydia fortemente fazendo com que ambas quase fossem ao chão por conta do impacto.

-Minha menina! -Andrea tremia enquanto apertava Lydia contra seu corpo, parecendo não acreditar que ela realmente estivesse ali.

Sorri ao presenciar tal cena. Andrea sempre amou Lydia imensamente, cuidou e protegeu com sentimentos semelhantes ao de uma mãe.

-É você mesmo, Lyd? -Indagou chorosa ao segurar a cabeça de Lydia enquanto "checava" suas condições. -Deixe-me ver o seu rosto... -Murmurou entre soluços. -É um milagre! Minha Lydia voltou! -Sorriu ao distribuir beijos por toda a face de Lydia.

Desviei o olhar daquela cena por alguns segundos e direcionei a atenção para o lado da minha mãe que continuava sem reação nenhuma. Seu peito arfava enquanto as mãos trêmulas pareciam ter dificuldade em segurar a pequena bolsa que trazia consigo.

-Ly...Lydia?! -Ela caminhou em passos lentos até minha irmã que apenas a observava silenciosamente. Andrea desvencilhou-se de Lydia com muito custo e afastou-se um pouco afim de dividir aquele misto de sentimentos presentes em seu corpo. Um amplo sorriso dividia espaço com as lágrimas do que agora pareciam ser de alívio e felicidade. Andrea estava radiante.

-É a nossa menina, senhora! -Andrea indagou extasiada ao tocar os cabelos de Lydia.

-Filha... -Margot possuía os olhos azuis marejados por conta das lágrimas armazenadas. Lydia e elas abraçaram-se fortemente e no segundo seguinte pareciam uma única pessoa. Um choro silencioso e significativo podia ser ouvido enquanto palavras sem nexo eram ditas por elas.

Declínio Where stories live. Discover now