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-Aretha? -A voz baixa e num tom calmo fez com que eu virasse de imediato, era Elizabeth.

-Oi! -Falei sorridente ao me aproximar dela.

-Pensei que havia desistido, já estava agoniada... -Falou ao ignorar a mão que eu havia estendido para lhe cumprimentar, para minha surpresa ela envolveu meu corpo em um abraço incrivelmente apertado, no primeiro instante fiquei imóvel com aquela sua atitude, mas por fim acabei cedendo e correspondendo aquele carinho.

-Por telefone você parecia ser uma tão crescida, falava tão bem, parecia ser uma mulher madura... -Falou assim que nos desvencilhamos. -Agora você que você ainda é uma criança. -Ela se afastou alguns passos e me olhou de cima a baixo. -Uma moleca! -Sorriu grandemente e aquela sua simplicidade em falar comigo fez com que eu sorrisse também. -Minha neta deve ter a mesma idade... -Falou como se estivesse pensando alto.

-Primeiro eu quero me desculpar com a senhora, tive alguns contra-tempos e por isso o meu atraso. Eu costumo ser muito responsável e... -Fui interrompida.

-Deixa disso! -Ela deu um leve tapa em meu ombro.

-Vamos, tenho que te mostrar a casa. -Ela falou e eu assenti ao virar para pegar minhas coisas. -Cadê o restante das suas coisas? -Questionou. Suspirei pesadamente ao encará-la.

-Como eu disse para a senhora por telefone. Estava procurando um lugar onde eu poderia recomeçar do zero, isso incluía todas as bagagens e lembranças, sabe? Bens materiais aos poucos eu vou construindo. -Falei. -Pode ficar tranqüila, já paguei três meses de depósito por isso, para trazer segurança, a senhora não vai ter prejuízo algum. -Completei.

-Fique calma, Aretha! -Um sorriso calmo e gentil nasceu em seus lábios. -Eu questionei apenas por preocupação. -Indagou. -Eu moro naquela casa ali... -Ela apontou para um portão um pouco distante. -Olha, você deve estar cansada a viagem, certo?

-Demais. -Suspirei ao sorrir.

-Eu acabei de fazer uma macarronada excelente. -Ela piscou. -Acontece que eu sempre erro a mão e coloco uma quantidade maior, e eu moro sozinha, sabe? -Assenti. -Por que você não vem e janta comigo? Assim eu posso explicar algumas coisas que não tive chance por telefone, pode ser? Será uma ótima boas vindas para você, é o nosso modo de demonstrar o quão afetuosos podemos ser com pessoas novas. -Sorriu.

Pensei em recusar pois estava exausta, mal conseguia manter meus olhos abertos e precisava urgentemente de um banho quente, mas meu estomago estava pedindo por uma refeição decente e reforçada, Andrea vivia dizendo que saco vazio não parava em pé e sei que ela tinha razão com recitar essa frase.

-Eu aceito. -Falei por fim.

Enquanto caminhávamos em seu quintal eu pude observar o pequeno jardim carregado de flores silvestres, todas bem cuidadas e pareciam fazer um pequeno arco-íris, ao perceber que eu estava olhando para elas, Elizabeth começou com um breve discurso explicando o quão duro era mantê-las tão vivas em uma cidade chuvosa onde o céu vivia cinzento, eu não dizia absolutamente nada, apenas balançava a cabeça e sorria hora ou outra, estava cansada e socializar naquele momento parecia ser algo incrivelmente trabalhoso.

-Pode colocar suas coisas ali, Aretha. -Ela apontou para o lado do sofá e assim fiz, deixei minhas bolsas ali e a segui pelo um amplo corredor, as paredes tinham uma leve coloração cinza e quadros enfeitavam aquele breve percurso que dividia espaço com pequenas luminárias. -Esse aqui é meu marido. -Ela apontou para a figura de um senhor.

-E onde ele está? -Questionei ao sorrir brevemente.

-Faleceu. -Ela suspirou e meu sorriso desapareceu no mesmo instante.

-Me perdoe. -Pedi ao fazer uma careta, ela tocou meu ombro e sorriu de uma maneira confortante.

-Não se preocupe. -Sussurrou. -Essa daqui é minha filha Emma, ela está grávida de seis meses, é uma menininha, quero dizer, outra na verdade... -Ela sorriu ao olhar para a imagem da filha.

Era uma mulher com cabelos ruivos que batiam na altura dos ombros, a pele incrivelmente clara fazia contraste com o vestido longo de cor negra.

-Essa aqui ao lado dela é minha neta, Eva. Ela é linda, não acha?

Declínio Where stories live. Discover now