001

2.5K 106 8
                                    

Aquela seria a ultima prova do vestido antes do "grande dia", eu jamais conseguiria descrever a sensação de encarar o meu reflexo usando uma peça tão importante e ao mesmo tempo insignificante, era algo complexo e parecia não fazer sentido algum aquele pensamento, eu sei. Muitas mulheres associam o dia de seu casamento como uma das datas mais importantes de suas vidas, mas eu não sentia sequer algum resquício de felicidade, pois em minha concepção, eu estava caminhando para uma vida sem sentido e razão aparente, viver apenas para o meu futuro marido não me parecia ser algo justo.

-Acho que podemos fazer mais alguns ajustes aqui no quadril, Meredith. -Minha mãe falou ao aproximar-se de mim.

-Já não está apertado o suficiente, senhora? -Andrea questionou aparentemente receosa. -Se apertar ainda mais, creio que ela não consiga respirar direito, não ira ficar confortável para se locomover pelo salão, dançar... -Completou.

-Ela terá todo o tempo do mundo para ficar confortável. -Retrucou ao tocar levemente o meu braço, observando quais ajustes ela ainda julgava ser necessário. -Todos estarão lá, todos os olhos estarão presos aos noivos... Qualquer falha, qualquer simples erro vai estragar uma vida inteira de planejamentos, ensaios e esforços. -Ela sorriu. -E você não quer que isso aconteça, não é mesmo, Lyd? -Questionou.

-Claro que não, mãe. -Respondi em um sussurro.

-Ótimo! -Piscou ao virar-se para iniciar uma conversa sobre o vestido perfeito com Meredith. Através do reflexo olhei para Andrea que tentava passar algum consolo com seu sorriso pra lá de triste. Andrea era minha segunda mãe, desde que me entendo por gente ela já fazia parte da minha vida, apresentações escolares, doenças e inúmeras coisas que fazem parte do crescimento de qualquer criança. Eu nunca consegui compreender o real motivo de Andrea continuar conosco mesmo após meu crescimento, ela era simples demais para que eu associasse aquele sua decisão com algo relacionado a ambição, dinheiro ou algo do gênero... Era como se ela tivesse criado um laço conosco, um laço que não seria quebrado facilmente.

[...]-Vai almoçar com o Andrew? -Andrea questionou assim que saímos do ateliê.

-Não, ele está preso na empresa, tio Ben quer adiantar o máximo de projetos, por conta da lua de mel. -Expliquei e ela assentiu.

-Podemos almoçar juntas então, o que acha? -Propôs ao sorrir alegremente. -Essa poderá ser um dos nossos últimos momentos juntos, logo você terá sua vida e não sobrará tempo para sua mãezinha aqui. -Suspirou.

-Não seja boba... -Balancei minha cabeça. -Acho uma excelente idéia, Di. -Sorri.

Minha mãe não nos acompanhou, pois segunda ela, alguém ali tinha que se preocupar com a cerimônia, já que a noiva parecia não estar dando a mínima.

-Vai pedir o que? -Andrea questionou assim que nos acomodamos em nosso lugares.

-Ainda não sei. -Falei ao pegar o cardápio. -Desde que dona Margot criou aquela dieta lá em casa, não sei como estou sobrevivendo. -Suspirei pesadamente e Andrea sorriu.

Há pouco mais de dois meses minha mãe havia criado uma receita onde todos ali tinham que viver com os alimentos malucos que sua nutricionista havia passado, lógico que meu pai e meu irmão não acataram essa decisão e continuaram a comer o que bem entendessem, mas já no meu caso era diferente, pois se caso eu engordasse alguma grama o vestido me denunciaria. Andrea comprava uma besteira aqui ou ali para suprir minha necessidade por açúcar, mas era algo raro.

-Acho que vou querer esse hambúrguer aqui... -Falei ao apontar minha escolha pra ela.

-Um hambúrguer, Lyd? -Repetiu ao encarar-me.

-Sim. -Dei os ombros. -E quero um enorme copo de refrigerante para acompanhar. -Pisquei e ela suspirou.

Assim que finalizamos os nossos pedidos e o garçom se afastou de nossa mesa, Andrea começou a falar sobre suas expectativas e como seria emocionante tal acontecimento, para ela aquele seria o momento no qual eu deixaria de ser uma garota e me transformaria em uma mulher.

...-você parece estar tão distante, Lydia. -Falou ao encarar-me com mais atenção, parecendo tentar decifrar o que se passava em minha mente apenas com seu olhar de "mãe". -O casamento é depois de amanhã, todos estão tão eufóricos, até mesmo o Andrew parece estar mais ansioso que você... Nunca vi uma noiva não estar agitada.

-Di... -Peguei em sua mão. -Você acha que o Andrew me ama? -Questionei abruptamente fazendo com que Andrea ficasse alguns segundos em silencio.

-Você é tão estranha, Lydia. -Ela revirou os olhos. -Cria cada pergunta! -Deu com os ombros. -É claro que Andrew te ama, caso contrario não teria te pedido em casamento. -Sorriu.

-Existem diversas maneiras de amor, Di. -Falei. -Existe amor fraternal, do tipo entre um pai e uma filha, de uma irmã com um irmão... Estou falando de amor entre um homem e uma mulher. Você acha que Andrew me ama dessa maneira?

-Acredito que sim.

-Ás vezes eu acho que não existe amor entre nos. -Olhei para minhas mãos e fitei minha aliança em meu dedo anelar. -Ele sente apenas carinho por mim, um carinho forte, mas não existe nada além disso, nenhum sentimento intenso que me faça estremecer... Que me faça repensar sobre tudo isso. -Quando ergui meu olhar, Andrea estava com sua habitual expressão de "o que devo dizer?", seu olhar carregava empatia e zelo materno, mas aquela era uma das questões que nem mesmo nossas mães conseguiriam responder.

-Repensar sobre o que, Lyd? Você está tão estranha, menina... -Antes que ela pudéssemos continuar com aquela conversa carregada de martírio e suspiros, o garçom trouxe nossos pedidos e eu tentei comer em silencio sobre o olhar desconfiado de Andrea.

Declínio Where stories live. Discover now