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LYDIA

-Não irei te influenciar. –Ele deu os ombros. –Mas devo alertá-la que muitas vezes os tais boatos podem ter fundamento, sabe? –Jason me encarou. –Não quero soar como alguém contraditório depois de tudo que falei sobre se importar com o que estranhos falam de você, Aretha, mas conhece aquele ditado que diz: “onde há fumaça, há fogo”?

-Compreendo. –Falei ao abaixar a cabeça.

-Você já deve ter criado suas primeiras impressões de todos no qual teve contato, estou certo?

-Talvez. –Ergui a cabeça, Jason gesticulou ao rir da minha “afirmação”.

-Sei. –Ele respirou profundamente e impulsionou seu corpo para cima, erguendo o mesmo. –Tenho que ir, marquei com algumas pessoas.

-Ah, claro. –Soltei as embalagens que estavam em meu colo e ergui meu corpo também. –Obrigada mais uma vez. –Sorri.

-Sem problemas, Holt. –Ele indagou ao voltar com seu velho “humor”, ou devo dizer, ao seu humor inexistente, seu olhar voltou a ser vago de qualquer empatia e sua expressão não demonstrava afeição alguma. –Não precisa me acompanhar até a porta, eu sei o caminho. –Falou ao gesticular enquanto afastava-se em passos lentos e carregados de segurança até o pequeno lance de degraus. –Juízo. –Falou pouco antes de sumir do meu campo de visão.

Novamente sozinha.

Sim, eu teria que me acostumar com aquele vazio, afinal, eu havia escolhido viver daquela maneira, eu não poderia pensar na possibilidade de voltar atrás naquela escolha de importância incalculável.

-Você fez sua escolha, Lydia. –Murmurei ao jogar meu corpo contra o colchão. –Agora trate de ligar com as conseqüências.

[...]

Duas semanas morando na pequena cidade de Calum, finalmente minha vida estava entrando nos trilhos e eu poderia dizer com convicção que “Aretha Holt” possuía uma existência plausível, não apenas existia. Aos poucos minha casa estava tomando forma, havia finamente comprado os utensílios principais que uma residência necessitava: cama, geladeira, fogão, e mesa juntamente com duas cadeiras. Me dei ao “luxo” de comprar uma televisão de poucas polegadas, quero dizer, não que aquilo fosse um ato de ostentação, mas em minha situação eu não poderia bancar as regalias na qual estava acostumada, o aparelho era pequeno, acho que se assemelhava quase ao tamanho do meu notebook, nem de longe parecia com a imensa dela do televisor que ficava suspenso na sala dos Grier’s.

No entanto, eu estava satisfeita, pois aquilo bastava pra mim, aquela simplicidade era tudo o que eu precisava naquele momento, Eva me presenteou com uma linda e longa cortina na qual tentamos fixá-la na porta que dava acesso a minha minúscula varanda. E bem, Eva e eu havíamos nos aproximado, ela dizia não possuir amigos ali, pois foi alvo de comentários maldosos ao seu respeito no passado que mancharam sua reputação perante os moradores, ela não havia contato quais comentários foram esses e não achei certo obrigá-la a contar uma coisa tão pessoal para uma “estranha”.

Eu estava contente com minha nova realidade, já havia conhecido os pais de Eva e eles me tratavam super bem, me convidavam para jantar com eles praticamente toda noite, me senti imensamente acolhida ali, não sentia maldade ou coisa do gênero, apenas simpatia.

Declínio Where stories live. Discover now