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LYDIA

-Espero não morrer intoxicada. -Provoquei ao caminhar até ele, parando ao seu lado no intuito de ajuda-lo de alguma forma. -Quer ajuda em algo?

-Experimenta... -Jason pegou uma porção generosa de macarrão na panela e trouxe em direção da minha boca, foi impossível não sorrir quase que de maneira espontânea com aquele seu gesto tão despretensioso em seu ponto de vista, mas já no meu... Bom, aquele seu gesto possuía tanto significado, talvez fosse algo que ele jamais conseguiria entender, nem mesmo se eu tentasse explicar, então eu apenas o agradecia mentalmente por ter entrado de maneira tão improvável em minha vida tumultuada e incerta.

-Certo -Jason sorriu e assoprou a comida num gesto cauteloso antes de coloca-la em minha boca. -Humm... -Ronronei ao fechar meus olhos como se aquela fosse a coisa mais gostosa que eu já havia degustado em toda minha vida.

Ouvi o riso relaxado de Jason e fui incapaz de não sorrir junto mais uma vez, ele definitivamente me deixava mais leve em vários aspectos.

-Vou fingir que acredito, pois você se esforçou bastante pra não cuspir. -Zombou ao repetir o gesto mais uma vez e novamente eu abri minha boca como se estivesse prestes a provar a coisa mais deliciosa no mundo.

Naquele momento eu não pediria outra coisa, estava satisfeita e grata por aquela "gororoba" feita por Jason. Mesmo tendo experimentado diversos pratos caros de chefes mundialmente famosos em restaurantes de renome, eu não mudaria nada. Escolheria mil vezes aquelas invenções que Jason se esforçava para preparar.

-Eu gostei. -Sorri ao tomar o garfo de sua mão e inverter os papéis. -Experimenta! -Falei ao soprar a comida, mas para minha surpresa Jason empurrou minha mão e inclinou seu corpo para frente e beijou brevemente meus lábios.

-Gosto de ter ver assim, Holt.

-Obrigada por aparecer. -Aquela frase tinha duplo sentido, não em um contexto sexual ou algo do gênero, era algo ainda mais profundo, algo que naquele momento Jason não iria entender.

Talvez em outro momento, outra vida, Jason e eu poderíamos viver algo longo e pleno, onde ambos cuidariamos um do outro, mas o buraco onde eu estava presa e constantemente era puxada ainda mais pra baixo me impedia de planejar um futuro onde eu não me via à mercê dos planos já criados por outras pessoas.

-Eu realmente gosto muito de você, Jason. -Confessei ao encara-lo.

Jason sorriu totalmente disperso ao tornado de pensamentos pessimistas que assombravam cada célula do meu corpo.

Ele estava contente com aquele momento e isso me confortava um pouco. Ele abraçou meu pescoço com o antebraço e beijou o topo da minha cabeça e respirou profundamente parecendo sentir o cheiro adocicado do shampoo que Andrew vivia reclamando do quão enjoativo aquela fragrância era.

-Eu gosto do seu cheiro. -Murmurou ainda sorrindo ao depositar um beijo em meus cabelos ainda úmidos por conta do banho recente. -Combina com você. -Completou ao desvencilhar-se de mim.

Eu jamais poderia imaginar essa guinada que minha vida deu em poucos meses, eu estava pessimista demais para pensar se aquilo era bom ou não, mas ver o quão sereno Jason parecia estar enquanto comia seu macarrão totalmente alheio aos meus olhos atentos me deixava mais entorpecida. Era como se naquele momento a Aretha realmente existisse e possuía uma vida pacata e totalmente normal.

-Gostoso? -Jason questionou ao apontar para o meu garfo que rodopiava mil vezes antes que enfim coloca-lo na boca.

-Esta delicioso! -Sorri brevemente e ele assentiu. -Eva esta muito irritada comigo por eu ter a abandonado na lanchonete?

-Em um primeiro momento ela estava preocupada... -Ele indagou depois de solver um longo gole de suco. -Mas agora que enviei uma mensagem avisando que você está bem... Ela certamente virá amanhã pra lhe dar uma grande bronca e quem sabe uns tapas. -Falou com bom humor ao sorrir.

-Você esta bem contente hoje, Jason. -Falei ao sorrir também. -Eu realmente gosto muito do seu sorriso.

-Eu gosto da sua companhia. -Respondeu com naturalidade ao piscar. -E sobre o restaurante... Acho que você fez um grande favor ao não voltar lá.

-Hum? Como assim? -Questionei totalmente alheia.

-Seus lanches eram péssimos! -Ele deu os ombros. -E olha que eu não sou exigente com comida... Mas caramba! Comer aquilo foi cruel. -Zombou e eu abri minha boca incrédula com suas palavras.

-Que mentira! -Falei ofendida ao jogar o pano de prato em sua direção, ele agarrou o mesmo e riu.

-Você nunca trabalhou em sua vida, não é mesmo Holt?

-Claro que já! -Menti ao dar com os ombros. -Meus lanches eram bons sim, você que possui um baladar pouco requintado e não sabe saborear coisas boas. Estou muito a frente de suas convicções, Jason. -Brinquei de volta e ele assentiu parecendo divetir-se com toda aquela conversa.

"Ah, Jason... Eu realmente espero encontra-lo em outras vidas. Em outra totalmente diferente e mais leve. Eu realmente adoraria reencontra-lo quando toda aquele desastre tivesse fim. Vou rezar para que isso aconteça... Vou esperar por você."

-Você quer dormir aqui hoje? -Perguntei sem olha-lo enquanto lavava a louça. Jason recolhia algumas peças de roupa que estavam espalhadas pelo assoalho.

-Posso? -Sua voz tinha um tom ansioso e surpreso. Como se estivesse esperando por aquilo, mas ao mesmo tempo admirado por conta da situação.

-Uhun... -Falei ao soltar os talheres no escorredor. -Sei... -Falei ao virar meu corpo para encara-lo. -Sei que o cenário não é o mais propício e que você certamente esperava mais organização na casa de uma garota solteira que mora sozinha... -Desviei o olhar com nervosismo enquanto apertava a barra do meu vestido num gesto totalmente inquieto. -Mas é o melhor que eu posso te oferecer nesse momento, Jason. -Conclui ao erguer minha cabeça novamente.

Jason mantinha em seu rosto uma feição seria e ao mesmo tempo satisfeita, parecia alegre por ouvir tais palavras. Ele segurava várias peças de roupas em seus braços juntamente com alguns outros objetos que estavam jogados pelo quarto, em outro momento eu acharia tudo aquilo muito engraçado, seu zelo por mim parecia ser genuíno assim como sua preocupação e naquele momento eu precisava apenas disso, eu precisava de uma pessoa que se preocupasse verdadeiramente comigo.
E pela primeira vez em muitos anos eu possuía essa pessoa... E ela estava parada diante de mim.

Declínio Kde žijí příběhy. Začni objevovat