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LYDIA

Permaneci sentada por mais alguns minutos, não estava cansada fisicamente, mas algo em mim fazia com que minhas pernas não possuíssem sustentação para suportar o restante do meu corpo.

-Aretha? -Clarice apareceu na fresta da porta. -Posso entrar?

-Claro! -Passei as mãos no rosto e tentei esboçar um sorriso digno de uma atriz. Dissimulação que herdei principalmente da minha mãe... Ela ficaria feliz por isso? Provavelmente não.

-Como está? -Ela cruzou os braços aos escorar-se em um dos armários.

-Estou bem... -Continuei sorrindo. -Foi apenas um mal estar. -Expliquei. -Espero não ter assustado muito você e nem aquela senhora. Sinto muito.

-Fique tranquila sobre isso. -Ela me tranquilizou ao tocar brevemente meu ombro, dando alguns tapinhas como um sinal de carinho. -Mas acho prudente que vá pra casa e descanse pelo resto do dia. -Indagou ao sentar-se ao meu lado. -Você não parece muito bem, Aretha... Estou preocupada com você. -Confessou ao franzir o cenho. -Parece tão aérea nos últimos dias, pálida, olhar distante e tão fraca... Você está passando por uma fase ruim? É algo que eu possa ajudar? -Ela tocou minha mão, talvez com o intuito de passar segurança, cumplicidade ou algo do tipo.

Eu a encarei em silêncio por longos minutos, não conseguia esboçar reação alguma diante dela.

-Eu compreendo. -Ela suspirou profundamente ao dar-se por vencida.

[...]

-Oi Félix... -Sorri ao avistar o gato de cor acinzentada na fachada do hotel. -Hoje fez bastante frio, não acha? -Falei ao sentar-me ao seu lado. -Eu trouxe um presentinho pra você... -Mexi em minha mochila e logo encontrei a pequena lata de ração que eu havia comprado no caminho pra casa. -Você gosta? -Sorri ao puxar o lacre enquanto ouvia o ronronar do meu atual e único amigo.

-Você é uma única pessoa de fora que ele permite que se aproxime dele. -Um senhor que estava sentado em dos bancos falou num tom baixo enquanto parecia ler o jornal.

-Sério? -Questionei sem muito interesse.

-Sim.

Sorri ao olhar novamente para o gato que ignorava o que acontecia ao seu redor enquanto se deliciava com o presente.

Após alguns bons minutos na companhia de Félix, decidi subir para tomar um banho quente e me agasalhar.

A água extremamente quente deixava minha pele com uma coloração avermelhada e meus dedos enrugados, só então me toquei de que havia se passado longos minutos. Suspirei profundamente ao apoiar a cabeça no box enquanto sentia o breve ardor nas minhas costas e me permiti pensar em Jason... Pois eu tentava diariamente não pensar nele ou em quaisquer coisas que remetessem as lembranças que criamos nos últimos meses. Sentir aquilo era tão sufocante. Amar alguém poderia ser tão bom e ao mesmo tempo dorososo assim? Será que ele sentia o mesmo? Ele sentia minha falta? Posso estar sendo egoísta por pensar assim... Mas parte de mim realmente esperava que ele não me esquecesse facilmente.

Um som insistente fez com que eu despertasse das minhas lembranças e questionamentos. Tentei ignorar os primeiros toques, mas ao perceber que a pessoa não desistiria de falar comigo, acabei fechando o registro após resmungar inúmeras ofensas.

Apenas duas pessoas possuíam meu novo número de telefone: Clarice e a dona do hotel.

Me surpreendi ao notar no visor que a chamada vinha de um número restrito. Permeci parada enquanto gotas de água caiam do meu cabelo e molhavam o carpete. Eu deveria atender? A curiosidade e o receio travaram uma guerra interna.

Balancei minha cabeça negativamente e tomei coragem.

-Alô?

-Oi Lydia... -Fechei meus olhos em sinal de exaustão ao reconhecer a voz do outro lado da linha. -Afinal, acho que partilhamos sim do mesmo QI... -Falou ao compreender meu "silêncio" naquela ligação.

-Você pagou quanto pra que me vigiassem? -Retruquei num misto de revolta e tristeza.

-Não veja por esse lado, Lyd. Você é minha irmã e esse foi a única maneira que encontrei para lhe proteger de pessoas mal intencionadas e até de si mesma... Mas vamos esquecer isso por um momento, por favor. -Jonah bufou do outro lado da linha. -Te liguei por outro motivo. -Seu tom de voz parecia ansioso ao completar aquela frase.

-Eu não quero saber! -Falei ao apoiar o celular em meu ombro enquanto pegava a mochila que Jonah havia me entregado no nosso último encontro e a jogava no cesto de lixo. -Não quero que me ligue e nem me preocupe, entendeu? Eu renunciei ao meu sobrenome, herança, nossa família e... -Jonah me interrompeu.

-É sobre nosso pai, Lydia.

Ao ouvir aquilo senti meu corpo vacilar e sentei da cama. Eu conseguia imaginar o final daquela conversa e isso fazia meu coração acelerar de maneira desenfreada.

-Acho que ele não vai passar dessa semana e... -Ele se calou por alguns segundos e naquele momento consegui enxergar Jonah como o garoto de dezoito anos recém completados. Ele estava com medo. -Ele está sedado e não sei vai... Lyd, essa talvez seja sua última chance de vê-lo com vida ou até quem sabe de salvá-lo.

-Não me peça isso, Jonah... -Murmurei ao levar as mãos até a cabeça.

-Estou te implorando, Lydia!

Declínio Tempat cerita menjadi hidup. Temukan sekarang