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LYDIA

-Não é dever seu, Jason. –Sorri ao curvar meu corpo para pegar os engradados, mas ele segurou levemente em minha cintura fazendo pressão para que eu voltasse a levantar.

-É uma gentileza, Holt. –Jason falou ao empurrar levemente meu corpo para o lado. –Não está acostumada com gentilezas?

-Vim de um lugar onde prezam muito por gentileza, mas nem sempre são fieis aos princípios que pregam. –Suspirei. –Eu vou trancar o galpão. –Falei ao erguer o molho de chaves. –Acho que não vou durar muito tempo aqui. –Falei de forma franca enquanto voltávamos para o restaurante.

-Por que?

-Esse é o meu primeiro emprego e não consegui nem mesmo pegar algumas latas de refrigerante, Jason. Você continuaria empregando uma funcionária assim? –Sorri ao balançar minha cabeça negativamente.

-Todos precisam de uma chance, Holt. –Respondeu ao me olhar de maneira seria, em seu olhar eu conseguia notar sua boa vontade e verdade, Jason não possuía os valores morais e financeiros que meus pais tanto zelavam como qualidade para um futuro marido, mas ele parecia ser mais honrado que muitos homens de berço que conheci ao decorrer de passeios e jantares. –Vejo que está tentando fazer o seu melhor e... E tenho certeza de que não será descriminada por isso. –Completou ao oferecer um breve sorriso que desapareceu em segundos, tempo o suficiente para fazer com que eu também sorrisse ao assimilar suas palavras.

-Já estava preocupada, Aretha. –Eva falou assim que pisei na cozinha.

-Tive certa dificuldade para equilibrar tantos engradados. –Sorri com certo constrangimento ao apontar o Jason que adentrava com naturalidade.

-Então essa é a famosa Aretha? –Olhei com estranheza para trás e pude notar a presença de uma garota morena escorada em um dos armários.

-Sim, sou eu... –Falei confusa ao encará-la, ela estava amarrando um pequeno avental em sua cintura, no entanto, seu olhar continuava fixo em mim e eu conseguia sentir uma certa tensão.

-Essa é a Rachel. –Eva suspirou ao caminhar até ela e tocar em seu ombro.

-Ah, prazer! –Tentei sorrir, mas era evidente que ela já havia nutrido algum sentimento negativo por mim e independente do que eu fizesse aquilo não mudaria, eu conhecia como ninguém olhares como aqueles, vim de um cenário onde lobos estão escondidos em pele de cordeiro e vivendo assim era natural que eu aprendesse a jogar conforme as regras postas na mesa.

-Rachel, coloque essas latas de refrigerante no freezer. –Eva apontou para o canto da porta onde Jason havia colocado as latas.

-Estou indo lá pra frente. –Jason falou ao enfiar as mãos nos bolsos e cruzar a cozinha em passos lentos e vagos, ao passar por mim ele piscou, mas não foi nada que pudesse significar uma paquera ou algo do gênero, pude sentir certa cumplicidade e fiquei contente com aquilo.

-Pensei que eu ficaria atendendo as mesas hoje. –Rachel falou num tom implicante ao olhar para Eva.

-Pensou errado, Marcel precisa de ajuda aqui na cozinha e eu estou treinando a Aretha para que ela consiga atender as mesas.

-Não seria mais eficaz se ela ficasse auxiliando o Marcel? –Rachel questionou ao apontar pra mim.

-Não, não seria, Rachel. –Eva respondeu rispidamente. –Tem alguma objeção?

-Claro que não, Eva. –Retrucou de forma cínica ao cruzar os braços. –Boa sorte, Aretha e tenha um ótimo primeiro dia! –Ela forçou um sorriso ao virar o corpo e ir até a outra divisão onde os alimentos eram preparados.

-Fique tranquila, Aretha. –Eva sorriu. –Cão que ladra não morde. –Falou ao entregar alguns pedidos em minha mão. –Acho que servir vai ser melhor para você, quero dizer, até que você pegue o ritmo das coisas.

-Certo. –Indaguei ao passar as mãos em meu rosto.

-Fique com a mesa treze e quinze. –Ela entregou um bloco de notas juntamente com uma caneta, apenas assenti e caminhei até a área das mesas.

Isso definitivamente não era para mim, eu não duraria uma semana naquilo.

Declínio Where stories live. Discover now