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Olhei em volta e quando percebi que não havia ninguém por perto guardei as bagagens no porta-malas, depois embarquei no carro e coloquei o destino no GPS.

Foram poucos minutos até chegar naquela parte da cidade onde funcionava uma obra de casas populares, o lugar era pouco movimentado e rota que dava acesso até a boate onde Andrew estaria com os amigos, então nada fugiria da historia que contei ao meu pai.

O lugar estava deserto, o asfalto era irregular as casas estavam inacabadas, um cenário perfeito para qualquer filme de terror.

Abri minha bolsa e joguei os pertences no assoalho do carro e espalhei tudo, peguei o dinheiro e os cartões, eu me livraria daquilo em algum lugar propício.

Só então desembarquei do carro e caminhei até uma caçamba daquelas onde os restos da obram eram descartados, peguei um pedaço pequeno de concreto e voltei até o veiculo onde comecei a atingir os vidros inúmeras vezes, não mantendo um único padrão.

Meu peito ainda arfava por conta do grande esforço feito ao atingir o carro inúmeras vezes com aquele pedaço de concreto irregular, em minha mente um grande sinal de alerta era emanado para todo o meu corpo: “não faça isso, Lydia!”.

Eu não poderia desistir de tudo agora, tinha muito em jogo, foram meses de planejamento e esforço para concluir aquele plano com perfeição, se caso descobrissem toda a verdade por trás daquele “desaparecimento” as conseqüências poderiam ser graves, irreversíveis.

Vi inúmeros filmes e fiz diversas pesquisas de como fazer uma cena de crime perfeita, arquitetei aquele momento por dias e perdi inúmeras noites de sono pensando nas possibilidades.

-Não seja medrosa, Lydia! –Murmurei tentando encorajar a mim mesma.

Balancei minha cabeça algumas vezes enquanto tentava não pensar na gravidade daquela situação.

Retirei o salto e os deixei caídos próximo do carro, como se eles tivessem sido abandonados em um momento de pressa, num momento onde eu tentei correr de algo, ou alguém.

Depois disso dei um forte puxão no colar de perolas que enfeitava o meu pescoço, rapidamente pude ouvir o som das mesmas quicando e rolando pelo asfalto, olhei tal cena com certa melancolia, aquele colar foi o presente que Andrew havia me dado em meu aniversario de dezesseis anos.

Caminhei em passos rápidos até o porta-malas e retirei de lá os meus únicos pertences para essa nova fase: apenas uma mala de viagem e uma mochila com os documentos novos e parte do meu dinheiro.

Joguei-as no chão e sentei-me ao lado da mala enquanto pegava uma muda de roupas, uma calça jeans e um moletom simples que jamais pensei que teria de usar, minha mãe surtaria se caso me visse usando aquelas roupas simples de departamento, calcei um par de tênis e prendi meu cabelo rapidamente.

Devo confessar que a adrenalina daquele momento, misturada com o um forte medo, deixava parte da minha libido em pura excitação. Aproveitando aquele momento de insensatez observei meu celular e pude ver a foto que estampava a tela de bloqueio: Andrew e eu em nosso noivado há cerca de um ano atrás, estávamos contentes, ou pelo menos aparentávamos estar, provavelmente era algo que estávamos acostumados a fazer: “fingir algo”.

Novamente balancei minha cabeça tentando afastar aquela sensação e atingi o aparelho em um único golpe certeiro usando o mesmo pedaço de concreto que eu havia utilizado minutos atrás no vidro blindado do carro.

Chutei o aparelho para baixo do carro e respirei profundamente, em seguida acendi os faróis do carro em luz alta, ele já estava estacionado de maneira irregular, como se eu houvesse parado o mesmo por algum problema, depois disso deixei a porta do motorista aberta e tomei distancia observando atentamente “meu trabalho”, eu não poderia deixar nenhum nó desatado.

Declínio Where stories live. Discover now