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LYDIA

-Você apagou do nada. –Ele se limitou a dizer ao se aproximar de onde eu estava sentada. –Eu não consegui te acordar, não senti seu pulso e fiquei... –Ele se calou. –Foi fod... –Eva acertou um tapa em sua cabeça.

-Não começa com os palavrões, seu tonto!

-Foi só um desmaio, talvez minha pressão tenha caído e bom, desmaiei... Não é algo de outro mundo. –Tentei sorri ao passar as mãos em meu cabelo que estavam úmidos, assim como parte da minha camiseta. –Você jogou água em mim? –Questionei.

-Eu não sabia o que fazer! –Retrucou ao passar as mãos seu rosto.

-Estávamos tomando café na cozinha quando escutamos o carro frear de maneira abrupta, minha avó e eu levantamos assustadas e antes que pudéssemos pensar em algo Jason apareceu desesperado carregando você nos braços... –Eva suspirou. –Ele estava quase chorando! –Sorriu e nesse momento deu um leve empurrão no corpo dela que como resultado deu alguns passos para trás.

-Não inventa, ferrugem. –Indagou no seu tom de voz sério. O Jason vulnerável havia ido embora, dando lugar a sua personalidade implacável de sempre.

-Chá de camomila com erva doce! –Elizabeth adentrou na sala segurando uma caneca cheia de chá, seu sorriso recheado de afeto me deixava mais tranqüila. –Beba tudo... –Falou ao sentar-se do meu lado. –Como está se sentindo?

-Bem... –Sorri brevemente ao solver um longo gole do chá já morno. –Acho que minha pressão caiu. –Falei afim de acabar com aquele assunto. –Jason ficou preocupado atoa e as preocupou atoa também. –Me limitei a dizer. Elizabeth passou as mãos em meus cabelos enquanto me observava de uma maneira estranha.

-Talvez seja anemia. –Eva falou.

-Jason? –Elizabeth chamou o neto enquanto ainda mantinha sua mão em meus cabelos numa calma carícia.

-Oi.

-Você não engravidou a moça, certo? –Ela falou assim “na lata”, sem rodeios e descrição. Foi impossível não cuspir o chá que estava em minha boca ao ouvir aquilo.

-Que?! –Jason indagou totalmente incrédulo com aquela pergunta.

Elizabeth agiu com tanta normalidade que possivelmente em outro momento eu daria uma alta e sonora gargalhada, no entanto uma “questão” nunca soou tão maneira inapropriada.

–Claro que não! –Completou enquanto lançava um olhar totalmente irritado para sua avó, que ainda nos encarava com certa desconfiança.

Ela nem mesmo imagina o quanto nossa noite foi “frustrante” nesse quesito, quero dizer, eu frustrei os planos de Jason que até tentou cruzar aquele limite, mas minha cabeça estava atordoada demais pra me concentrar em outras coisas além dos meus problemas, mas parece que não há nada tão ruim que não possa piorar e minha vida estava fadada a tragédias.

-Elizabeth... –Foi minha vez de falar, abri minha boca algumas vezes em busca das melhores palavras pra conseguir explicar que o neto dela e eu nunca havíamos chegado nesse ponto, obviamente ele bem que tentou, mas uma garota com a cabeça tão ferrada como eu com um passado que constantemente me assombrava... Não fui capaz sequer de conseguir beijá-lo! Isso sem duvidas era muito patético e vergonhoso até de assumir pra mim mesma enquanto pensava sobre todo o assunto. –Jason e eu nunca fizemos nada. –Expliquei sentindo meu rosto arder enquanto era observada atentamente por aquele trio. –Ele está sendo um bom amigo e é muito respeitoso. –Ergui minha cabeça e o encarei. –Somos bons amigos. –Completei.

A postura de Jason ficou mais relaxada e ele permitiu-se sorrir de maneira divertida, possivelmente achando graça da nossa noite pra lá de azarada e uma manhã um tanto quanto agitada.

-Estranho seria se os dois tivessem tendo algo... –Eva comentou como quem pensasse alto. –Jason não consegue se portar bem com mulher alguma além da senhora e da minha mãe.

-Você está bem engraçadinha essa manhã, não é mesmo Eva? –Jason resmungou ignorando a presença da irmã que estava parada ao meu lado no sofá. –Quer que eu te leve pra casa?

-Me levar? –Ri. –Eu moro praticamente do lado da sua avó, Jason... Não precisa. Eu vou tomar um banho e descansar um pouco.

-Tem certeza?

-Sim. –Suspirei ao erguer meu corpo. –Elizabeth... –Virei e a encarei esboçando meu melhor sorriso. –Muito obrigada pelo chá, estava ótimo! –Toquei em suas mãos num gesto de agradecimento. –E me perdoe também pelo susto que causei logo pela manhã.

-Fique tranqüila, menina! –Sorriu de maneira zelosa. –Não quer mesmo que Jason e Eva te acompanhe até o portão? –Questionou com uma expressão preocupada. –Tenho medo que desmaie e esteja sozinha... Não tome banho agora, certo? Tente dormir um pouco, descansar e só depois quando sentir-se totalmente bem pense em fazer algum esforço... –Suspirou ao apertar minha mão. –Me prometa? –Ótimo! Mais uma pessoa afetada pela bagunça ambulante chamada Lydia ou Aretha, que seja... Eu nem mesmo conseguia pensar no que me transformei. Amaldiçoou o dia em que meus pais me colocaram no mundo.

-Eu prometo. –Sorri tristemente ao imaginar em como meus pais estariam sem saber do meu paradeiro, aquela ferida nunca fecharia em nenhum de nos. –Eu prometo. –Repeti num murmúrio.

Suspirei pesadamente tentando afastar os pensamentos desastrosos da minha mente e o choro que ameaça formar-se em minha garganta.

–Bom... –Tossi pra disfarçar minhas feições pra lá de deprimentes. –Eu vou indo então. –Virei meu corpo e encontrei um par de olhos fixos em minha direção: Jason.

-Eu te acom... –O interrompi.

-Não precisa. –Me adiantei. –Obrigada por tudo e me perdoe pelo susto que preguei em vocês. Em todos vocês. –Toquei disfarçadamente em seu braço ao passar por ele indo em direção da porta. –Espero que tenha um bom dia. –Comentei sem olhá-lo enquanto atravessava a porta.

[...]-Inferno! –Blasfemei ao jogar a chave contra a televisão que fez um som oco ao ter contato com o objeto metálico.

Declínio Where stories live. Discover now