43 - O Covil da Serpente

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A arena continha algumas paredes cheias de estacas em seu centro, onde corpos estavam estatelados e cravados, também havia muita lama no chão e certos lugares continham areia, além de outros objetos espalhados em toda a sua extensão.

No fundo da arena, era possível discernir um grande buraco próximo ao chão, onde parecia ser o lar de algo cruel, e a criatura responsável por tantos corpos apodrecendo naquele lugar.

Eu já sabia que lugar era aquele. Arthur já havia se infiltrado na Corte de Hazor várias vezes para poder entender e mapear os arredores do Castelo.

Aquele lugar era a diversão que Hazor criara para as pessoas que veneravam seu reinado. Era uma arena para ser usada como "jogos de caça".

O lugar era usado como uma punição para mestiços pegos fora de seu "território", aqueles que ousavam sair das vilas para xeretar a cidadela.

Sua punição?

Tentar matar uma criatura que vivia naquele buraco e que saia assim que sentia cheiro de sangue novo. Um criatura que vivia com fome e que se deliciava com carne humana.

Ninguém jamais saiu vivo daquela arena.

Um lugar perfeito para esconder uma jóia. Um livro.

O barulho de areia se movendo retornou a nossos ouvidos. À direita daquela arena, algo estava saindo do solo de forma lenta e quase preguiçosa. Um som engasgado começou a invadir o ar, e toda esperança que tive de passar despercebido por qualquer monstro, morreu em minhas entranhas.

A criatura que saiu das areias era diferente de qualquer fera que eu já havia visto em minha vida inteira, apesar de eu mesmo controlar todas elas. Mas aquela em específico, não pertencia a Deusa da Lua.

A criatura se assemelhava a um escorpião gigantesco, devia ter uns seis metros de altura, suas escamas eram pretas e as oito garras que desciam daquela besta poderiam atravessar qualquer corpo com apenas uma tentativa. Além da cauda longa, que continha estacas por toda sua extensão.

Estar perto daquela coisa sem morrer era praticamente impossível, mas eu havia passado por coisa pior.

- Qual é o plano? - Vizeu perguntou, quando a criatura se virou para nós, sentindo nosso cheiro de sangue fresco.

- Se lembra de um treinamento imposto por Neale, onde ela separou duplas para imobilizar uma de minhas feras?

- Você acha que dá para imobilizar aquilo, Misac?

Como em resposta, a criatura rugiu para nós e seu grito fez um estrago em meus tímpanos, que começaram a apitar na hora.

Ela era poderosa. Poderia deixar alguém despreparado extremamente tonto só pelo som agudo de seu rugido.

- Meu nome agora é Kian - avisei Vizeu - Dá pra matá-lo se levarmos a criatura para as paredes de estaca, está vendo? - Vizeu assentiu.

- Mas podemos dar meia volta, por acaso ainda não vi onde o Livro poderia estar escondido.

- Na caverna - apontei para o buraco próximo ao chão que ficava no fundo da arena - É onde provavelmente a criatura dorme. Um tesouro guardado por uma besta, não é óbvio?

- Infelizmente sim.

- Apenas lembre-se do treinamento. Mantenha-se longe da criatura e próximo às paredes ou qualquer objeto que possa te proteger.

Vizeu pegou sua espada e um chicote que mantinha preso em seu boldrié, enquanto eu também sacava minha lâmina e algumas estacas. Mas eu já mirava outra arma um pouco à frente. Havia uma alabarda jogada na lama, parecia estar sorrindo para mim e eu não poderia ignorá-la.

Depois das Chamas - Livro 1Onde as histórias ganham vida. Descobre agora