18 - Traga Misac de Volta às Suas Feras

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Acostuma-te à lama que te espera!

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Acostuma-te à lama que te espera!

O Homem, que, nesta terra miserável,

Mora entre feras, sente inevitável

Necessidade de também ser fera.

- Augusto dos Anjos

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Lynn

Após alguns dias em meio ao vasto oceano, o cheiro do mar e o barulho das águas sendo chacoalhadas me mantiveram tranquila na escuridão imensa que se abria em minha frente.

A noite havia caído e não dava para discernir nada no horizonte, apenas aonde as luzes do navio atingiam. O ar gelado soprava em meus cabelos, agora ruivos novamente. Eu estava enrolada em uma manta, sentada em uma cadeira confortável na torre de comando ao lado de Dimitri. Ele me ensinava algumas coisas sobre navegação, como por exemplo, saber quando virar a estibordo e não ser atingido por uma das velas em movimento, de que forma as estrelas poderiam entregar nossa posição nos mares, o melhor jeito de traçar uma rota e coisas semelhantes.

Era compreensível o amor que ele tinha pelo mar, acredito que se me fosse dado a oportunidade de velejar quando eu ainda era uma criança, possivelmente eu também preferiria a água ao solo.

Pensei em meu pai, e em como ele também poderia ter gostado do mar visto dessa forma, mas ele preferiu ficar com Blahz e o resto dos rebeldes para guardar a Fenda.

Após algumas tentativas falhas, consegui finalmente caminhar sem tropeçar em meus próprios pés. Não era tão difícil depois de se adequar ao movimento do navio.

Quando estava cansada demais para manter meus olhos abertos, desci as escadas para ir em direção a um tipo de dormitório conjunto que continha inúmeras redes, mas parei no convés quando escutei alguém falando de uma forma diferente.

A voz serena, parecia flutuar diretamente para mim, ao mesmo tempo que era grave, era tranquila. Eu não sabia identificar se era uma voz feminina ou masculina, parecia com o som de uma melodia indefinida.

A voz congelou minha alma, eu a sentia dentro de mim, me chamando para perto.

Aproximei-me das grades do navio e olhei para baixo. A água atingia a madeira vibrante do Octavius e voltava para a o azul escuro misturando-se a aquela imensidão. E a voz parecia ter a mesma sintonia do mar, elevava-se e se mantinha neutra, uivava e cantava para as profundezas. O mais estranho foi quando esse canto passou a ficar decifrável. Parei de me mexer e ouvia as palavras rítmicas e enevoadas.

Traga o cavaleiro e o seu amado.

Deixe-o livre novamente para nos guiar.

Venha até nós com aquele que possui nosso sangue,

Depois das Chamas - Livro 1Onde as histórias ganham vida. Descobre agora