14 - Desertor do Sangue

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"Não é tanto o que fazemos, mas o motivo pelo qual fazemos que determina a bondade ou a malícia

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"Não é tanto o que fazemos, mas o motivo pelo qual fazemos que determina a bondade ou a malícia."

- Santo Agostinho

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Callum

Havia um bosque esquecido numa das passagens ao leste da floresta. Quando eu ainda era pequeno, gostava de procurar lugares para me esconder da fúria de uma pequena Kira diabólica. Foi quando encontrei esse local, sempre o usei para me esconder do mundo e ficar sozinho.

Bem, até ela aparecer.

Depois de deixar o salão do trono, mandei um recado através de um dos pássaros mensageiros, era um pedido de encontro. Precisava vê-la e extrair de mim toda a angústia daquela noite.

Comecei a me lembrar da satisfação nos olhos da minha irmã ao matar a garota inocente. Agnes. Jamais esqueceria seu nome.

Eu havia ficado no salão, mesmo após todos terem se retirado. Os gritos do outro prisioneiro ainda ecoavam em meus ouvidos, o choro que o acarretou encheu tanto seu coração de dor que seu corpo o fez desmaiar. Ele ainda estava vivo, trancafiado em uma das celas da masmorra.

Ninguém se importou em deixar o corpo da garota largado na poça de seu próprio sangue. Era só mais um objeto quebrado, que algum empregado encontraria para retirar, como se não valesse nada. Como se não fosse uma vida humana.

Comecei a pensar nos sonhos que morreram com ela, nas expectativas e esperanças que desapareceram. Aquilo doeu em mim como jamais havia acontecido antes. Eu era o filho de um ser do caos e irmão de uma fria alma agourenta. Meu sangue era amaldiçoado e fadado ao mau. Mas eu não escolheria esse caminho, foi por isso que me aliei aos Rebeldes.

A noite, o bosque era calmo e pouco iluminado. A luz do luar atravessava as árvores e trazia um brilho bruxuleante na sombra das folhas, que dançavam e murmuravam com o vento. Eu amava o som delas se chocando.

Olhei uma segunda vez para a trilha que circulava o lugar na esperança de vê-la, mas não havia ninguém.

Quando eu a conheci, me divertia com o deboche que ela ostentava em seu rosto. Ela não confiava em mim e nas minhas palavras, e eu a achava uma megera. Mas com o tempo, meu coração foi cedendo ao seu sorriso largo e personalidade forte. Quando me dei conta, já estava apaixonado. Por anos alimentei um amor que achei que me destruiria, tentei me distanciar e ficar com outras mulheres. Mas ninguém era como ela.

Meu pai me criou para odiar o amor, dizia que era a maior fraqueza e bobagem que alguém poderia sentir e aceitar. Mas ele estava errado. De todas as coisas que poderiam existir naquelas terras, o amor era a maior e melhor delas.

Depois das Chamas - Livro 1Onde as histórias ganham vida. Descobre agora