01 - A Ti Voltará Outra Vez

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"O sorriso que ofereceres, a ti voltará outra vez

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"O sorriso que ofereceres, a ti voltará outra vez."

- Abílio Guerra Junqueiro

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67 anos depois. 

Reino de Ermont.

Lynn

Naquela noite o bar estava lotado, os homens gritavam e chacoalhavam seus copos para cima, pedindo mais rum e vinho enquanto debruçavam-se sobre as poucas mulheres que frequentavam o local. Nunca entendi como elas aguentam ficar paradas em frente aquelas bocas que fedem como um cadáver.

Nem todos exageravam, alguns dos homens só iam até lá para relaxar após um dia de trabalho exaustivo, bebiam dois copos e iam embora, lúcidos. Eu conhecia a maioria dos rostos, cresci observando-os entrarem e saírem pelo bar, dia após dia, sempre no mesmo horário, sempre a mesma rotina miserável.

Meu pai estava no balcão limpando alguns dos copos imundos, conversando com um mercador da região. Nós vivíamos em um pequeno vilarejo na parte mais afastada do reino, onde os que não tinham um futuro vinham trabalhar produzindo ferramentas e aço para a Legião Vermelha.

Ermont era um dos Quatro Reinos em um gigantesco pedaço de terra boiando no Oceano, cada um dividido de acordo com sua posição no mapa. Leste para Derorn, Oeste para Thangnall, Sul para Ermont e Norte para Ghalan, que não era bem um reino, mas sim um lugar inabitável, devastado e sucumbido pela Guerra, intocado por mãos humanas por ser amaldiçoado. Apenas existia no mapa, como um enfeite quebrado e desprezado demais para ser lembrado.

Unidas eram Keevard, um reino que de acordo com as lendas, havia sido partido a milhares de anos.

Meu pai era do reino de Derorn, facilmente notado pela cor de seus cabelos alaranjados do qual herdei. Pelo que ele me conta, era o primogênito de uma família rica e extremamente poderosa, até fazer uma viagem para Ermont, apaixonar-se pela minha mãe, desistir da vida que tinha e desposar-se.

O que talvez os dois esqueceram quando decidiram fazer tal maluquice é que nenhum dos reinos se suportam. Um membro de Derorn casar-se com uma de Ermont era uma violação e uma vergonha para as famílias. Então eles fugiram para o vilarejo mais afastado dos grandes comércios, e celebraram por estar em uma terra de ninguém. Abriram então um pequeno negócio fajuto e tiveram a mim, uma desgraçada mestiça de cabelos vermelhos que já nasceu condenada a ser uma pária. E aqui estou eu, analfabeta e garçonete de homens arrogantes e mulheres violadas.

Com o passar das horas os gritos foram elevando-se. Já havia muitos bêbados nas mesas, meu pai estava ajudando Carl a servir enquanto eu fiquei no balcão. Meus braços e pernas doíam, reclamavam por um descanso, o sono estava me derrubando aos poucos e ainda havia muitas pessoas ali.

Depois das Chamas - Livro 1Onde as histórias ganham vida. Descobre agora