27 - Objeto de Esperança

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Conta a lenda que tudo que cai nas águas deste rio - as folhas, os insetos, as penas das árvores, se transforma em pedras do seu leito

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Conta a lenda que tudo que cai nas águas deste rio - as folhas, os insetos, as penas das árvores, se transforma em pedras do seu leito.

Paulo Coelho

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Lynn

Éramos um amontoado de pés marchando para dentro de algo completamente desconhecido. Minha cabeça estava trabalhando a todo vapor, tentando processar que realmente havíamos chegado a Ghalan. Estávamos pisando em terras lendárias, mágicas e esquecidas pelo tempo. Meu coração estava acelerado, imaginando que há milhares de anos atrás, pessoas normais, como eu, haviam pisado nessas mesmas terras que agora gritavam, livres.

Dimitri e Kian guiavam o grande grupo de rebeldes e piratas para dentro da floresta morta. O cenário era um tanto amedrontador. Os galhos das árvores se curvavam em nossa direção com seus espinhos a mostra, dando boas vindas à terra de antigos fantasmas.

Eu estava andando ao lado de Annabel, que ainda não me olhava nos olhos depois de nossa luta no convés. Prestava atenção no pingente em seu pescoço, que balançava conforme seu corpo se movimentava. O cordão era negro e marcava sua nuca em uma linha fina, o medalhão era da cor de esmeraldas vivas, e três marcas verticais grotescas estavam entalhadas no centro do objeto. Pareciam garras.

- O que significa? - me aproximei ainda mais dela e torci para que ela não se afastasse, como fez nos últimos dias à bordo.

Senti que ela se retesou com minha tentativa de aproximação, e temi que me deixasse falando sozinha, mas ao invés disso ela agarrou o pingente e sorriu enquanto andava.

- Essa é o símbolo que identificava os Hewyr - sua voz era calma e trazia um pouco de determinação nelas - meu pai entregou à mim quando alcancei a maioridade. Ele dizia que esse colar está em nossa família desde à guerra que separou essas terras. As histórias variam, mas todas elas deixam claro que antes de Anir sumir, em meio ao desespero e da morte, ele entregou esse colar à uma criança, e pediu para que ela mantivesse viva a esperança do retorno dos antigos heróis. Essa criança, ao que parece, conseguiu fugir de Ghalan com alguns milhares antes que tudo ruísse. Ela cresceu e manteve viva a chama dos Hewyr e a esperança de que um dia eles retornassem.

Percebi que seu semblante havia mudado e os olhos brilhavam de forma que achei que a qualquer momento ela choraria. Mas Annabel apenas me encarou e prosseguiu:

- Desde aquela época os rebeldes existiram, e esperavam pela oportunidade que estamos tendo hoje, de reescrever a história e mudar tudo novamente. Mais desses colares foram feitos, cópias um tanto fajutas, mas com grande significado. Quando vir alguém carregando um colar cor de esmeralda, é porque eles acreditam nos Hewyr.

Corri os olhos pelos piratas e rebeldes que seguiam atrás de Kian e Dimitri, e pela primeira vez, notei que muitos deles traziam aquele mesmo colar pendurado no pescoço. O verde do medalhão não era tão brilhante quanto o de Annabel, mas eu me assustei quando me lembrei de uma coisa.

Antes de Melusina partir para as profundezas do mar e me deixar entrar em Ghalan, ela havia me entregado um colar, que enfiei em meu bolso e esqueci completamente de que estava lá.

Coloquei as mão no pequeno compartimento da minha calça larga e retirei um colar tão brilhantes quanto à mais preciosa jóia. Parecia que ele pulsava em minhas mãos, eu o sentia quente contra minha pele, e aquele formato de garra que havia em seu centro era tão negro quanto o mais profundo ébano.

- Parece que agora não é apenas eu que possui um dos originais - Annabel sorria escancaradamente para mim, admirando o objeto em minhas mãos enquanto ainda segura seu colar.

- Por que são verdes? - estava curiosa, pelo que dizia nos livros que eu lentamente estava conseguindo ler, o uniforme que eles usavam era azul e preto.

Escutei uma risada rouca em minha mente, uma na qual eu já era familiarizada e que fez meu coração se aquecer um pouco mais. Olhei para frente rapidamente, só para me certificar de que Kian não estava me observando. E realmente não estava. Ele e Dimitri conversavam e provavelmente especulavam por onde deveríamos seguir. Eu deveria ter imaginado aquilo.

- Era Griffin - continuou Annabel, alheia a minha pequena distração - diziam que essa era a cor dos olhos dele. A mais pura esmeralda. Ao que parece, Misac, além de um dos melhores guerreiros que já existiu, tinha uma hobby um tanto estranho por criar coisas e objetos. E produziu esses colares em homenagem à ele. São quatro, no total.

Olhei novamente para o colar em minhas mãos e me senti um pouco mais sentimental em relação à ele. Ali estava uma prova de um amor que provavelmente devastaria o mundo se nada tivesse entrado no caminho deles. Eu segurava algo mais precioso que qualquer tesouro que essas terras poderia possuir.

Novamente notei Kian se esquivando na minha cabeça, como se eu o sentisse escorrer e acariciar aquele fio estranho que nos unia. Olhei-o novamente, cismada por estar tão vulnerável em relação a ele, e nem um pouco contente por isso. Mas para minha surpresa, dessa vez ele me encarava, como se implorasse que eu me aproximasse e isso me tocou de uma maneira nova. Mas rapidamente seus olhos se desviaram e ele voltou a falar com Dimitri.

Havíamos parado por um tempo para bebermos água e descansarmos. A névoa que cobria a floresta era densa e prejudicava nossa visão. Poderíamos estar andando em círculos sem nem mesmo perceber. Mas eu confiava no senso de direção de Dimitri.

Não aguentei esperar por mais tempo e me aproximei dos dois, pronta para perguntar se eles tinham certeza que estávamos no caminho certo, que aliás, eu nem mesmo sabia para onde estávamos indo, quando escutei novamente alguém me chamando entre o nevoeiro.

Dessa vez controlei meu corpo e travei meus pés no caminho. Kian provavelmente percebeu minha parada brusca, mas antes que ele pudesse vir até mim, uma grande lança atravessou seu ombro direito, fazendo-o cair imediatamente.

O pavor que correu pelo meu corpo foi uma das piores sensações que eu já pude sentir na vida. O grito dos piratas e rebeldes me deixou totalmente alarmada, apesar de não conseguir tirar os olhos de Kian e tentar chegar até ele o mais rápido possível.

E vindo das névoas daquela floresta morta, eu vi um grupo do que pareciam pessoas se aproximando em um caminhar esquisito. Mas quando chegaram perto o suficiente, percebi que não tinham olhos e que os dentes daquelas criaturas estavam prontos para rasgar todas as carnes que estavam dispostos à eles.

Kian se remexeu no chão, convulsionando de dor, impedido de se mover. Mas antes que a primeira daquelas bestas se aproximasse dele, meu corpo havia se tornado chamas.

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Esse foi curtinho, né? 

Mas prometo que o próximo será repleto de aventuras e novas surpresas!!

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Depois das Chamas

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