Capítulo 68 - Parte I

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- Tudo bem, mãe. Você não tem culpa.

- Eu só não queria te ver sofrer outra vez, eu não queria...

Me levantei e a abracei, tentando tirar dela a necessidade de se explicar.

- Eu sei. Eu sei. Está tudo bem.

- Eu sinto tanto, tanto, tanto... - Ela murmurava entre lágrimas, me abraçando apertado e soluçando em meu ombro. - Me perdoe, por favor...

- Tudo bem. Tudo bem, mãe. Eu estou aqui...

Não sei ao certo por quanto tempo a segurei em meus braços murmurando pedidos de desculpas e lamentações em sua embargada voz fraca, mas quando ela finalmente parou de se desculpar, eu soube que estava começando a se acalmar. Esperei por mais alguns segundos até que seus soluços se tornaram mais suaves, então ela soltou uma risadinha trêmula.

- Desculpe. Odeio chorar na frente de vocês. - E tomando a iniciativa de se afastar de mim, ela secou o rosto com as mãos e sorriu com delicadeza. - E então, quem te contou?

- Ninguém. Se dependesse de alguém pra que eu soubesse, provavelmente morreria sem saber.

- Não fique zangado. - Ela pediu ao deixar escapar um suspiro. - Fui eu quem pedi pra que não contassem.

Franzi a testa ciente de que sim, eu tinha todo o direito de estar zangado. Francamente, como qualquer ser humano com o mínimo de consideração pela mãe, eu me sentia no dever de estar zangado.

- Por quê? Por que você faria uma coisa dessas? Não achou que eu tinha o direito de me despedir?

- Oh, meu amor, é claro que você tinha. - Erguendo a mão, ela acariciou novamente meu rosto, os olhos emotivos e marejados. - Eu só não queria aumentar o seu trauma com algo que eu sei que você não poderia mudar.

- Que tipo de desculpa de merda é essa?

Ela sorriu.

- Eu sei que você não entende agora, mas um dia... quando você tiver filhos, que eu sei que você terá... você ficará surpreso com o que será capaz de fazer pra impedir que eles sofram.

- Não te passou pela cabeça que eu iria sofrer ainda mais se não tivesse a chance de me despedir?

Minha mãe suspirou e desviou os olhos, assentindo devagar.

- Me perdoe. Imaginei que quanto mais eu conseguisse adiar esse momento, maior seria o tempo em que você teria uma vida normal.

Não pude evitar uma risada quando compreendi suas palavras, embora não existisse sequer um pingo de humor no ambiente.

- Minha vida nunca foi normal, mãe. De onde tirou essa ideia?

- Thomas. - A voz do meu pai chamou às minhas costas, interrompendo nosso assunto. - Seu irmão e sua cunhada chegaram. Se você quiser ir cumprimentá-los, eu faço companhia a ela.

Fitei minha mãe por um momento e ela sorriu para mim com carinho.

- Parece que eu preciso de uma babá constantemente, agora. - E gesticulando para a casa, completou: - Pode ir, querido. Ainda estarei aqui quando você voltar.

- Não vai se esquecer de mim, não é?

Seu sorriso desapareceu aos poucos antes dela apertar os lábios e balançar a cabeça brevemente, num movimento indefinido.

- Vou tentar o máximo que eu puder.

Respirei profundamente e assenti, me levantando.

- Eu não demoro.

Um plano para nós (PAUSADO)Where stories live. Discover now