Capítulo 35

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Thomas narrando:

Duas em uma semana... duas em uma semana.

Já é difícil suportar uma, quem dirá duas. E a pior parte, é que eu sequer tenho a chance de me despedir. Os pais os levam, os velam, os sepultam, e eu só tomo consciência que eles se foram três, quatro dias depois.

Qual é o propósito disso, afinal?

Sentado no banco sob a árvore, olhei as crianças e me perguntei qual seria a próxima. Será que seria Izzy, se deixando levar pela leucemia? Ou o Paul, que seria vencido pelo câncer no estômago? Qual dessas crianças inocentes seria a próxima a ser tirada de nós?

Me concentrei em respirar para evitar que as lembranças de Luke trouxessem as lágrimas à tona.

"Não se esqueça de trazer seu porsche pra eu ver!", ele me pediu domingo passado, antes de ir embora com os pais. Ele nunca havia visto um, e o único motivo de eu ter usado o porsche hoje, era ele. Quem poderia imaginar que pra ele o hoje não existiria?

Respirei fundo devagar quando notei que Angeline estava vindo em minha direção.

Controle suas emoções, Thomas. Você ainda tem um dia inteiro pela frente, elas precisam estar controladas.

Quando Angeline se sentou, ela não disse sequer uma palavra, então eu me encarreguei em fazer isso. Eu precisava de uma de suas respostas inteligentes agora.

- Onde ele está?

- Quem? - Ela me olhou, algo que percebi pelo canto do olho.

- Seu Deus, Angeline... onde ele está? - Então me virei para encará-la também. - Diga-me... porque com certeza, não é aqui.

Ela piscou. Eu podia notar o brilho em seus olhos denunciar as lágrimas, mas ela mordeu o lábio para impedir que elas se livrassem. Então desviou os olhos para as crianças novamente e respirou fundo, permanecendo em silêncio por vários segundos.

- Como o senhor não consegue ver? - Perguntou suavemente. - Ele está ali... na alegria daquelas crianças. E ali na esperança daqueles pais. Ele também está no carinho das enfermeiras... - Em seguida, voltou para mim seus olhos escuros. - E na sua disposição de criar um lugar como esse. Deus está em todos os lugares para onde olhamos, Sr. Strorck... mas se o senhor não quiser vê-lo, Ele não vai te obrigar.

Continuei a encarando por um tempo. É isso? Então isso é tudo o que ela tem pra mim?

Desviei os olhos balançando a cabeça.

- Você não provou nada.

- O senhor não precisa acreditar, se não quiser. - Ela deu de ombros, vacilante. - Mas essa é a resposta que eu tenho pra sua pergunta.

Como eu imaginei, isso não passa de mera ilusão. Uma criatura mitológica criado por historiadores para provar algo complexo demais, que em sua época não havia explicação. "Como surgiu o mundo? De onde veio a humanidade? Por que existe o bem e o mal? Para onde vamos depois da morte?" Essas perguntas obviamente deviam existir cerca de dois, três mil ano atrás, mas considerando que os meios para se descobrir todas as respostas era limitado, por que não criar um ser sobrenatural - da qual ninguém jamais será capaz de provar a existência - para responder a tudo isso sem esforço algum e sem qualquer questionamento?

Hoje os realistas conhecem a verdade, mas embora venham tentando esclarecer todo esse mal entendido, ainda existem aqueles que preferem continuar presos ao passado, acreditando em algo que não passa de história.

O planeta Terra surgiu com a explosão do Big Bang, a humanidade é resultado da evolução, o bem e o mal existem porque aqui é cada um por si e que se danem os mais fracos, e depois da morte... bem, não existe nada. Apenas a morte.

Um plano para nós (PAUSADO)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora