Capítulo 20

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Thomas narrando:

- Com licença, senhor... - George disse abrindo a porta do meu escritório. - Vim avisar que estou me recolhendo. Deseja mais alguma coisa?

Eu estava fazendo semi-círculos em torno de mim mesmo na cadeira giratória, mas parei e o olhei.

- Todos os empregados já foram?

- Sim, senhor. Bem, exceto a Angie. Ela está estudando na biblioteca.

Senti minha respiração ficar presa na garganta por um segundo.

- Tudo bem. Boa noite, George.

Ele assentiu, hesitante.

- Boa noite, senhor.

George fechou a porta e eu voltei para meus pensamentos, mas eles logo foram interrompidos outra vez quando o mordomo voltou.

- Senhor... - Disse com a mão na maçaneta.

Eu o olhei.

- Eu gostaria de te pedir... - Ele parou e pensou por um momento, antes de tentar por outro caminho: - Bem, eu percebi que o senhor tem agido... - Parou novamente, me olhou por alguns segundos e finalmente decidiu ir direto ao ponto, respirando fundo: - Angie é uma boa menina, senhor. Muito boa, na verdade. Ela não merece ser magoada.

Ele permaneceu me olhando esperando uma resposta, mas eu não saberia o que responder nem se essa fosse a última coisa que precisasse fazer na vida. Então George completou:

- Por favor, não a magoe.

Se eu já não sabia o que dizer antes, agora piorou.

Com certeza isso estava claro. Angeline é como uma ovelhinha, delicada, inocente, pura. Eu sou como o lobo, com todas as características destrutivas possíveis. Estava absolutamente visível o estrago que eu poderia fazer se não me mantivesse longe, mas isso era algo que eu não conseguia mais controlar.

Tentei me convencer de que estava preso àquela atração simplesmente porque ela me lembrava Alice, e assim que eu me desse conta realmente de que ela não era a Alice, logo meu interesse por ela se tornaria inexistente. Mas a cada dia que se passava, ficava cada vez mais nítido que essa não era bem a verdade. Eu jamais imaginei Alice levantando a voz para alguém, ela sempre pareceu tão pequena e delicada... mas a cada vez que Angeline me enfrentava, a cada vez que ela me dizia palavras que me faziam rever minha vida completa, mais fascinado eu me sentia.

Aos poucos, bem lentamente, eu percebia que as diferenças que elas possuíam eram mais numerosas que as semelhanças. E aos poucos, eu descobria que eram as diferenças que me faziam incapaz de ficar longe de Angeline.

George inclinou a cabeça em reverência quando percebeu que eu não diria nada.

- Tenha uma boa noite, senhor. - Disse antes de fechar a porta e finalmente se recolher.

Sentado na poltrona, eu podia sentir meu coração pouco a pouco mais agitado. Eu queria vê-la, mas sabia que não podia. Ela tem namorado e eu estou de casamento marcado, o que pode existir entre a gente? E isso nem é tudo o que nos separa.

Ela é cristã, Thomas. O tipo de pessoa que você mais detesta.

Mas isso também estava perdendo a importância. Sua fé, seu namoro, o fato de que ela é minha empregada e todo o resto da lista parecia estar se tornando gradativamente mais insignificante, e eu não era tão tosco a ponto de não saber o porquê.

Me lembrei de quando Stephan conheceu Alexia. Eu ainda era muito novo, mas minha mente sempre amadureceu mais rápido que meu corpo. Me lembro do dia que lhe joguei algumas verdades na cara, sem que ele esperasse e sem eu sequer saber realmente o que estava fazendo.

Um plano para nós (PAUSADO)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora