Capítulo 70

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Thomas narrando:

Enquanto observava a expressão adormecida de Angeline e acariciava suavemente o dorso da sua mão com o polegar, me peguei recordando da época em que senti o mesmo que ela sentia agora. A dor é cruel, insuportável, excruciante. Ela vai precisar de paciência e cuidado, o médico dissera antes de sair, depois de aplicar o sedativo em sua veia. Embora seja natural que ela queira ficar sozinha pelos próximos dias, é importante que ela se cerque de pessoas queridas agora. A solidão nesse momento só pode prejudicar.

Eu bem sabia o quanto ele estava certo; descobri isso por experiência própria há quinze anos. Talvez se eu tivesse aceitado companhia ou ajuda para lidar com a pior dor que um ser humano é capaz de sentir, eu não tivesse me tornado um adulto tão perturbado.

Fechei os olhos e apoiei minha testa na mão de Angeline que permanecia entre as minhas. Ah, se eu pudesse absorver seu sofrimento... se eu pudesse, nem que parcialmente, inalar em uma respiração a dor que a fez desmaiar em meus braços momentos atrás... Não seria tão difícil pra mim lidar com mais essa, afinal eu já estou familiarizado com a perda, mas Angeline...

Droga. Eu queria que ela nunca tivesse que sentir isso. Eu queria que fosse esse o único sentimento que não tivéssemos em comum.

- Senhor Strorck. - A voz de Henry ecoou pelo quarto, mas eu fingi não ouvir. Independentemente do que ele quisesse, ninguém naquela casa precisava mais de mim do que minha garota inconsciente.

- Senhor, precisamos conversar. - Ele insistiu. - É importante.

Não me movi. Cai fora, porra!

- Senhor... - Agora era Sarah, que embora estivesse no quarto há tanto tempo quanto eu, era a primeira vez que se pronunciava. - Não se preocupe com a Angie, eu fico com ela.

Ela estava sentada do outro lado da cama, fingindo ler um livro qualquer desde que ocupou aquele lugar. Eu sabia que estava fingindo, porque apesar de parecer focada na leitura há mais de duas horas, ainda não havia virado uma única página.

Levantei o rosto devagar e a encarei. Ela fechou o livro e gesticulou para a porta às minhas costas:

- Não sei o que está acontecendo, mas Henry não estaria aqui se não fosse importante.

Virei-me para o guarda-costas e sua expressão confirmou as palavras de Sarah. O que quer que fosse que o trazia aqui, eu iria querer saber.

Me voltei para Angeline, respirei fundo e beijei sua testa.

- Estarei no escritório. - Falei para Sarah, embora não tenha desviado os olhos de sua filha. - Você sabe onde é.

- Sim, senhor. Se ela acordar eu te aviso.

Assenti e me levantei relutante. Eu não queria deixá-la, mas tinha que dar algum crédito a Henry: algo me dizia que o tal problema não havia surgido agora, mas ainda assim ele me deu quase três horas com ela antes de vir me chamar.

- Sinto muito te incomodar, senhor. - Ele disse quando saí do quarto e fechei a porta, como se lesse meus pensamentos. - Mas não podia esperar mais.

- Seja lá qual for a merda, vamos resolver de uma vez pra eu voltar pra minha namorada. - Resmunguei enquanto caminhava até o escritório.

- Como quiser, senhor.

Ele abriu a porta para me deixar entrar e eu franzi a testa ao encontrar Ethan já nos aguardando. O guarda-costas ajeitou a postura ao me ver.

- Meus sentimentos pela perda da sua namorada, senhor.

- É pra ela que você deve dizer isso, não pra mim. - Me voltei para Henry. - O que está havendo?

Um plano para nós (PAUSADO)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora