Capítulo 49

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Thomas narrando:

Saí na manhã do domingo mais cedo do que eu era acostumado, não queria correr o risco de ver Angeline. Eu sabia que se a levasse para o Clube e passasse o dia com ela, toda a nossa conversa da noite anterior não valeria de nada. Eu precisava manter distância, e dessa vez, faria isso da maneira certa.

Enquanto dirigia pelas ruas vazias de Boston, meus pensamentos se recusavam a abandoná-la. Ela tentou disfarçar, mas na noite anterior eu pude ver a dor em seus olhos. Se antes eu desconfiava, hoje eu tinha certeza de que o que eu sentia por ela estava prestes a se tornar recíproco - se é que já não houvesse se tornado. E eu sabia que, se não quisesse machucá-la de verdade, aquela seria minha última chance de me afastar.

Você já a machucou, meu inconsciente fez questão de me lembrar. Mas podia ter sido pior. Talvez ela estivesse apaixonada por mim, mas a partir do momento em que isso se tornasse amor, eu a devastaria. Não posso correr esse risco. Não... enquanto eu não tiver certeza de que posso cancelar o maldito casamento, preciso manter distância. De qualquer forma, isso é o melhor que eu posso fazer.

Quando cheguei ao Clube, a decepção das crianças ao notarem que eu não estava acompanhado foi perceptível. Usei toda a minha energia para distraí-las da ausência de Angeline, mas mesmo assim, no final do dia Agnes ainda se lembrava dela o suficiente para me pedir seu número de telefone.

- Por favor, tio Thomas! - Implorara ela. - Eu só quero convidá-la para comer os biscoitos de chocolate da mamãe. Ela não vai ficar brava com você.

De fato eu não imaginava Angeline zangada por eu ter passado seu contato para uma daquelas crianças, mas mesmo se ficasse, não existe muita coisa que eu consigo negar a elas. Logo, Agnes não precisou insistir muito para conseguir o que queria.

Felizmente não tivemos nenhuma perda aquela semana. Até mesmo as crianças da ala de tratamento pareciam estar reagindo bem aos medicamentos, o que elevou meu astral consideravelmente. O dia de domingo quase apagou por completo os últimos minutos da madrugada anterior.

Segunda-feira amanheceu sem que eu tivesse visto ou ouvido falar sobre Angeline desde nossa saída do sábado, e no caminho para o trabalho, eu não era o único a sentir falta dela:

- Sr. Strorck? - Henry chamou com a atenção voltada para frente enquanto dirigia.

- Sim?

- Se me permite perguntar... está tudo bem entre o senhor e a Angie?

Franzi a testa, desviando minha atenção da calçada do outro lado do vidro da minha janela para olhá-lo.

- Por que o interesse?

- Desculpe, senhor, eu não quero invadir sua vida pessoal. É que ela está sempre alegre quando eu a vejo, mas ontem parecia... triste.

Merda.

Olhei para a calçada outra vez sentindo uma parte do meu coração se contrair. Talvez eu não devesse ter falado aquelas palavras com ela, ou não daquele jeito. Mas, droga, eu não tinha muitas outras alternativas...

- Achei que ela fosse passar o dia com o senhor. - Henry quebrou o silêncio outra vez, me olhando pelo retrovisor quando parou o carro em um semáforo.

- Nós concordamos em manter distância por um tempo.

- Ah... entendo.

Achei que ele fosse perguntar algo mais ou dizer qualquer outra coisa, mas ele não o fez. Então eu perguntei:

- Você falou com ela?

- Não, senhor, eu apenas a vi de longe. Ela estava conversando com o jardineiro.

Um plano para nós (PAUSADO)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora