Capítulo 36

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Angeline narrando:

- Peguei você! - Dei um pulo quando Thomas me surpreendeu chegando do lado contrário ao que achei que ele chegaria, prendendo minha mão atrás das costas num gesto extremamente rápido. Mas ao contrário das outras vezes, ele não me apontou sua espada. - Último ponto pra mim.

Devo ter soltado uma exclamação qualquer movida pelo susto antes que meus olhos encontrassem os seus, e de repente eu pude sentir minhas pulsações claramente em meus ouvidos. Ele estava perto. Muito perto. E isso não era bom.

Thomas tinha um sorriso que eu poderia considerar debochado no rosto, mas parece também ter se dado conta desse fato crucial porque não levou muito tempo até seu sorriso desaparecer.

Acompanhei o movimento dos seus olhos que se desprenderam dos meus e desceram até minha boca. Eu podia sentir o local onde sua mão tocava formigar, e embora parte de mim quisesse fazer alguma coisa - qualquer coisa - para afastá-lo, minha única reação era piscar pateticamente e encará-lo totalmente paralisada.

Engoli em seco.

Não, Angie... isso não está certo.

Tentei me esquivar do seu toque, mas a árvore atrás de mim impediu que eu fizesse isso. Não existia saída. Ele estava me prendendo de todos os lados, e por mais que eu soubesse que aquela situação era absurdamente inapropriada, o jeito como ele me olhava parecia eficaz o suficiente pra tirar de mim qualquer plano criativo de escapar.

- Beija logo ela, tio Thomas! - A voz de uma das crianças penetrou o silêncio irritante que se instalou entre nós.

- Eu não faria isso. - Falei baixinho, pra que apenas ele pudesse ouvir.

Ele ainda estava olhando minha boca quando respondeu igualmente baixo, sem qualquer menção de me soltar:

- Me dê um motivo pra não fazer.

Tentei buscar o oxigênio para respirar normalmente antes de pronunciar da forma mais clara possível:

- Você não quer passar vergonha na frente das crianças.

Seus olhos escuros finalmente se prenderam aos meus. Pela nossa proximidade, eu pude perceber o quanto suas pupilas estavam dilatas e o quanto ele se esforçava para manter o controle, embora estivesse claro que sua segurança não duraria muito tempo. Seus lábios poderiam tocar os meus a qualquer momento, então fui obrigada a me defender do jeito que eu sabia:

- Se você chegar um milímetro mais perto, eu vou acertar meu joelho no meio das suas pernas e acredite em mim... vai doer.

Por um breve momento Thomas não alterou sua expressão, mas segundos depois, percebi um canto da sua boca se inclinar em um sorriso malicioso.

- Outra hora, então. - Ele soltou minha mão, porém antes de se afastar completou com um sussurro rouco: - Pode apostar, Angel... eu vou fazer toda essa espera valer a pena.

Ele se virou para as crianças que soltaram resmungos insatisfeitos, mas a reação delas logo foi substituída quando ele ergueu sua espada.

- Quem será o próximo?

***

Decidi manter a maior distância possível entre eu e Thomas enquanto ele lutava com uma criança após a outra - tentando ignorar o fato de que dentro de algumas horas estaríamos sozinhos no interior do seu carro -, e não era difícil perceber que ele não se esforçava sequer um pouco para vencer. Ainda assim, conseguia enrolar para dar ao seu pequeno adversário a falsa sensação de que ganharia pelo próprio mérito.

Um plano para nós (PAUSADO)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora