Capítulo 58

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Thomas narrando:

Eu estava sentado atrás da mesa em meu escritório particular olhando o riacho que corria do outro lado da janela sem realmente vê-lo, quando a voz de George soou da porta cortando meus pensamentos.

- Sr. Strorck?

Eu o olhei, e pelo jeito como me encarava eu soube que não era a primeira vez que ele me chamava.

- Sim, George.

- Está tudo bem?

Pensei um pouco antes de responder, então dei meia volta na poltrona giratória e cruzei as mãos sobre a mesa.

- Você é meu funcionário mais antigo, não é?

- Anh... sim, senhor. Trabalho para o senhor há nove anos.

- Nove anos é um longo tempo.

Ele assentiu uma vez, uma leve ruga formada entre suas sobrancelhas. Era evidente que ele não entendia onde eu queria chegar com aquele assunto, mas ele precisava saber sobre o risco iminente de perder o emprego. Afinal, a partir do momento em que eu falisse, precisaria de cada quantia que pudéssemos economizar para erguer o Império novamente. Isso incluía cortar mais gastos do que eu gostaria.

Respirei fundo e desviei os olhos.

- Você nunca pensou em se demitir?

- Desculpe, senhor...?

- Eu tenho sido um merda por nove anos. Tive funcionários que foram embora por causa do meu temperamento sem suportar um terço do que você suportou. Você teve que lidar com minha arrogância na linha de frente e nunca nem sequer mencionou que queria ir embora. - Olhei para ele novamente: - Nunca pensou em pedir demissão?

George piscou algumas vezes, como se tentando adivinhar se eu queria mesmo ouvir uma resposta. Por fim, admitiu:

- Na verdade eu pensava nisso todos os dias, senhor. Pelo menos até algumas semanas atrás.

- Por que nunca o fez?

Ele encolheu os ombros.

- Eu tenho alguns motivos.

Caramba, isso me surpreendeu. Eu não achei que ele seria capaz de encontrar sequer um único motivo, quem dirá alguns.

- Quais são? - Eu quis saber.

- Quando seus pais te deixaram aqui, ainda era praticamente uma criança. Eu prometi que cuidaria do senhor, e geralmente costumo manter minhas promessas. Depois foi questão de costume. O senhor sabe, um filho não deixa de ser um filho independente do seu temperamento, eu tive que aprender a lidar com isso. E então fiz dessa casa o meu lar. - Ele olhou em volta antes de me encarar novamente. - Se saísse daqui, pra onde mais eu iria? E além do mais... com todo respeito, senhor... não acho que qualquer outro homem estaria disposto a suportar a barra de ser seu mordomo, por melhor que seja o salário. Eu meio que não tinha outra escolha além de ficar.

Não pude evitar um sorriso ao desviar os olhos para minha mesa. Eu sabia que existia verdade em cada palavra que ele proferiu, mas ainda assim, por algum motivo, o sorriso simplesmente surgiu.

- Obrigado, George.

- Disponha, senhor. - Ele fez uma pausa, depois completou: - Deseja que eu traga seu almoço até aqui, ou o senhor pretende descer?

- Pode trazer. Mas antes, preciso te pedir um favor. Talvez seja a coisa mais estranha que eu já pedi, mas... eu preciso.

A confusão passou pelo rosto de George na velocidade de um flash, tão rápido que eu quase não tive chance de perceber antes que ele assumisse sua expressão profissional novamente. Depois, assentiu uma vez.

Um plano para nós (PAUSADO)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora