Olhei para Angeline e seus olhos encontraram os meus discretamente ansiosos por uma reação. E então, naquele frágil contato visual, algo que eu não havia notado antes começou a se tornar óbvio. Independente das coisas em que ela acredita e do quão diferente é nossa maneira de pensar, existia apenas uma resposta para aquela pergunta e eu não podia ignorá-la, por mais irracional e absurda que ela pudesse ser.

Voltei-me para a mulher em minha frente e neguei com a cabeça.

- Não, Sarah. - Falei surpreso com minhas próprias palavras. - Eu a amo por causa da crença dela.

Sarah continuou me encarando por um bom tempo antes de balançar a cabeça devagar, vagamente satisfeita.

- Certo. Então estamos prontas para ir agora.

*~*~*~*

- Quer que eu faça o jantar pra gente? - Angeline perguntou depois que sua mãe saiu do carro nos deixando sozinhos quando estacionei na frente das instalações minutos depois.

- Pode fazer pra você, se quiser. - Respondi batendo o polegar no volante. - Eu preciso de um tempo sozinho.

Olhei para ela esperando que ela fosse questionar algo sobre isso, mas não me surpreendi quando ela apenas apertou os lábios e concordou com um gesto de cabeça.

- Está bem. Te vejo amanhã, então?

Assenti sem dizer nada, e depois de me lançar um sorriso, ela se inclinou para me beijar. Retribuí levando uma mão a lateral do seu pescoço e não afastei meus lábios dos dela até que ela decidisse se afastar por conta própria, e quando o fez, sorriu novamente.

- Até logo, Sr. Strorck.

- Até logo, Angel.

Ela saiu do carro e me olhou enquanto atravessava na frente para entrar em casa, o sorriso genuíno ainda desenhado em seu rosto. Então eu soube que ela entendia meu motivo de querer ficar sozinho sem que eu precisasse falar. Era como se ela enxergasse minha alma através dos olhos e soubesse perfeitamente o que se passava em minha cabeça, e mesmo sem nenhuma palavra, entendesse que isso era algo que eu precisava lidar sozinho. Sua presença tinha uma grande chance de influenciar minhas decisões.

Levei o carro para o estacionamento depois que Angeline entrou, em seguida subi para o meu quarto sentindo meu coração pulsar em cada artéria do meu corpo. Me encaminhei até o closet, coloquei o código de desbloqueio e quando a porta se abriu, olhei para a caixa empoeirada que eu mantinha sobre uma das prateleiras e parei.

Não... não! É apenas uma música, merda. Uma musica cantada pela garota que você ama, mas ainda assim, apenas uma música. Não existe a possibilidade de uma simples música ser um gatilho para mudar tudo em que você acreditou por tanto tempo. Isso é loucura!

Balancei a cabeça e dei meia volta, passando a mão pelo cabelo enquanto me sentava na cama.

Que merda está havendo com você, Thomas?

Respirei fundo e deitei de costas, encarando o teto. Eu não conseguia mais me apegar a nenhuma certeza. As palavras que Samantha me disse mais cedo ainda ecoavam na minha cabeça, e eu me perguntei quantas pessoas deviam existir no mundo que pensavam como ela. Quantas pessoas não deixam sua fé se abalar independente das circunstâncias e tribulações que passam. Quantas pessoas que, como dizia a música, estão com a alma cansada, mas ainda assim têm fé para pedir milagres...

Fechei os olhos e esfreguei o rosto com as mãos.

Será que meu problema foi ter uma fé pequena demais, por isso ela acabou?

Um plano para nós (PAUSADO)Where stories live. Discover now