Angeline colocou vários metros entre a gente antes de parar de costas para mim e de frente para o oceano, quase completamente camuflada pela escuridão. Eu sabia que seu plano era ir embora quando voltássemos para casa - a mala que ela deixou sobre a cama era a prova disso - mas mesmo que estivesse tão perdido quanto um cego num tiroteio considerando o que fazer, eu estava disposto a usar tudo o que estivesse ao meu favor para convencê-la a ficar. Honestamente, eu não conseguia imaginar como seriam meus próximos dias se falhasse.

Pendurei ambos os capacetes no guidão da moto e desci, caminhando até ela devagar. Angeline não se virou, apenas continuou parada encarando a escuridão que se estendia no horizonte enquanto o vento balançava seu cabelo e aliviava o calor que se instalara em Boston durante o dia. Parei ligeiramente atrás dela e coloquei as mãos nos bolsos, imaginando o que eu devia dizer ou se, de fato, eu devia falar primeiro. Talvez eu devesse esperar que ela gritasse comigo e descontasse a raiva que com certeza...

- Você me odiaria? - Sua voz baixa se misturou ao som das ondas se quebrando na areia interrompendo meus pensamentos, e por um instante imaginei não ter entendido o que ela perguntou. Então, sem mudar sua posição, completou: - Seria capaz de transformar o que sente por mim... em rancor?

Se eu tinha alguma noção de onde raio surgiu sua dúvida? Não mesmo. Eu poderia dar a ela todas as razões pelas quais eu morreria antes de conseguir odiá-la, mas tudo o que saiu da minha boca foi a resposta direta pra uma das poucas certezas que eu tinha:

- Não.

- E se eu te decepcionasse? - Ela voltou a perguntar devagar, os olhos ainda perdidos no oceano. - Se eu mentisse ou se omitisse algo importante de você? E... se eu te machucasse?

Eu poderia pensar que isso era algum tipo de teste, que ela estava tentando me colocar em seu lugar pra que eu sentisse o que ela estava sentindo antes de finalmente admitir que me odiava, mas pelo tom de sua voz eu sabia que isso era mais complexo do que minha limitada consciência podia entender. Ela não estava sendo ambígua nem hesitante, ela estava questiando exatamente o que queria saber. E vagamente eu me perguntei como ela ainda não sabia a resposta para isso.

- Nada que você fizer comigo pode ser pior do que tudo o que eu já fiz com você.

Angeline engoliu e se abraçou, sua voz soando baixa como se tentando controlar alguma emoção:

- Eu não sou perfeita, sabe? Eu também cometo erros.

- É bom saber que me apaixonei por uma humana, e não por um robô.

Ela olhou para baixo, para a areia úmida, e eu sabia que não estava ajudando muito. Então me aproximei mais e peguei seu braço suavemente, incentivando-a a ficar de frente para mim.

- Ei... - Chamei erguendo seu rosto com o indicador. - Eu errei com você, Angeline. Muitas vezes. Ainda assim, por algum motivo, você me aceitou. - Suspirei, balançando a cabeça para os lados. - Você não me deve nada, eu te devo tudo. Então, vá em frente. Me magoe, me machuque, quebre meu coração... o que sobrar dele, ainda vai amar você.

Eu podia ver lágrimas em seus olhos quando ela abaixou o olhar para o meu peito.

- Não acho que sou tão boa quanto você pensa. - Sussurrou.

- Não se atreva a dizer isso.

- Tem algo que não estou te contando.

Um plano para nós (PAUSADO)Where stories live. Discover now