- Ia mesmo?

Não respondi, porque no fundo eu sabia que não iria. Bem, pelo menos não antes que todas as outras pessoas soubessem.

Fechei os olhos com força me perguntando o quão ruim isso me tornava, mas o pensamento logo se dissipou quando as próximas palavras da minha mãe foram emitidas em voz baixa:

- Ele vai te fazer chorar.

Olhei para ela, mas ela estava olhando para o chão. Balancei a cabeça.

- Não vai, não.

- Isso não é uma suposição, Angeline. Eu sinto. - Ela me olhou como se sentisse dor. - Ele vai destruir você.

Fechei a cara para ela.

- Ele jamais me machucaria.

- Talvez não agora, mas um dia ele vai.

Neguei com a cabeça, sentindo a frustração se alastrar sobre mim. Eu não podia acreditar que era essa a imagem que ela ainda tinha dele.

- Você não o conhece como eu.

- Filha, me escute...

- Não.

- Eu não quero estragar sua felicidade, mas um dia...

- Cale a boca! - Esbravejei. - Não é porque você teve uma vida amorosa desgraçada que a minha também vai ser!

Minha mãe se calou, e por alguns segundos o silêncio foi a única coisa que se fez ouvir. E foi só então que me dei conta do que havia feito.

Pisquei algumas vezes e implorei mentalmente que existisse algum jeito de consertar isso.

- Me desculpe, eu não...

- Tudo bem. - Ela gesticulou com a mão, mas antes que desviasse os olhos eu pude vê-los marejados. - Só... me faça um favor.

Ela respirou fundo e apertou os lábios antes de me encarar outra vez, o olhar firme tentando camuflar a tristeza:

- Não se esqueça de quem você é, Angie. Não se esqueça de onde você veio. Não perca sua essência.

E depois de alguns segundos me observando, ela pegou seu casaco e se dirigiu para a porta.

- Onde está indo? - Eu quis saber.

Ela parou com sua mão na maçaneta e se virou para mim outra vez.

- Orar.

E sem ter mais o que dizer, apenas abriu a porta e se foi para a noite.

Soltei o ar num suspiro e senti as lágrimas queimarem no fundo da minha garganta. Por que fiz isso? Eu nunca havia gritado com minha mãe antes. Nunca havíamos nos desentendido assim. Ela só estava preocupada... por que fiz isso?

Permiti que as lágrimas se misturassem à água do chuveiro enquanto tomava banho, e embora tenha ficado ali por um tempo que pareceu horas, minha mãe ainda não havia voltado quando saí. Me troquei em modo automático, me ajoelhei na frente do sofá e chorei de novo. Palavras não precisavam ser ditas pra Deus saber que eu me arrependia, e tudo o que eu queria era que ela me perdoasse do modo como eu sabia que Ele já havia.

Me deitei e fechei os olhos, mas as palavras que eu proferira mais cedo se repetiam em minha mente num ritmo tão frenético, que eu não conseguiria dormir nem sob efeito de remédios.

Minha mãe chegou horas depois e se aprontou para dormir sem fazer barulho, e embora grande parte de mim quisesse levantar, correr até ela e abraçá-la, eu não sabia se tinha esse direito; então apenas fingi estar dormindo. Quando ela apagou a luz e se deitou eu quase consegui me convencer de que conseguiria dormir, mas minha esperança foi embora uma hora depois ao perceber que a sensação sufocante crescia em meu peito sem dar nenhum espaço para o sono.

Um plano para nós (PAUSADO)Where stories live. Discover now